O Conde E Eu
img img O Conde E Eu img Capítulo 5 A Noite em Que Queimamos
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Capítulo 6 O Jardim das Sombras img
Capítulo 7 O Preço do Sangue img
Capítulo 8 Noites em Chamas img
Capítulo 9 A Valsa dos Inimigos img
Capítulo 10 A Rosa Envenenada img
Capítulo 11 A Corte dos Espelhos img
Capítulo 12 O Castelo que Sussurra img
Capítulo 13 O Herdeiro e o Selo img
Capítulo 14 A Noiva da Rosa Negra img
Capítulo 15 O Primeiro Sopro img
Capítulo 16 O Nome e a Lenda img
Capítulo 17 O Banquete dos Sussurros img
Capítulo 18 A Ordem do Véu img
Capítulo 19 O Véu de Paris img
Capítulo 20 Os Sinos de Praga img
Capítulo 21 A Criança nas Ruínas img
Capítulo 22 O Nome Esquecido img
Capítulo 23 A Mãe do Primeiro img
Capítulo 24 O Primeiro Herdeiro img
Capítulo 25 O Segundo Nome img
Capítulo 26 O Espelho do Anjo img
Capítulo 27 O Corpo que Anda img
Capítulo 28 A Cadeira de Prata img
Capítulo 29 O Espelho Partido img
Capítulo 30 A Filha do Espelho img
Capítulo 31 Ecos de Prata img
Capítulo 32 O Trono e o Reflexo img
Capítulo 33 O Espelho que Sonha img
Capítulo 34 A Lâmina e o Nome img
Capítulo 35 A Herança do Vazio img
Capítulo 36 O Coração e a Lâmina img
Capítulo 37 A Voz do Sangue img
Capítulo 38 O Nome que Sangra img
Capítulo 39 O Conselho das Sombras img
Capítulo 40 O Jogo da Coroa img
Capítulo 41 Ecos na Sala Vazia img
Capítulo 42 O Sussurro Sob a Pedra img
Capítulo 43 O Espelho e a Sombra img
Capítulo 44 O Conselho Fendido img
Capítulo 45 A Marca do Herdeiro img
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Capítulo 5 A Noite em Que Queimamos

A manhã em Ravenshire nasceu cinzenta, abafada pelo peso do que acontecera na noite anterior. As janelas da biblioteca ainda exalavam calor, como se as paredes guardassem o eco dos gemidos abafados, dos corpos entrelaçados, das palavras não ditas.

Eleanor acordou envolta nos lençóis de linho fino, sozinha. Edward havia desaparecido antes do sol nascer. Como um ladrão de desejo. Como sempre fazia: amava com fúria, partia com covardia.

Ela se levantou, cobriu-se com um robe de seda azul-escuro e caminhou até a varanda. De lá, observou os jardins. O orvalho ainda pintava as folhas com gotas prateadas, mas havia algo mais no ar. Um silêncio incômodo. Como se a casa toda soubesse que algo quebrara - ou começara a se romper.

Horas depois, a carta chegou.

Não estava lacrada, nem assinada. Mas Eleanor reconheceu a caligrafia falsa, perfeitamente manipulada para parecer inocente. Era o toque de Alistair Thorne.

"Londres já sabe. O escândalo se aproxima como tempestade. E você, minha condessa, dançou na fogueira. Espero que tenha sentido prazer antes de arder."

Ela amassou o papel com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Depois, lançou-o na lareira e observou as chamas devorarem o veneno silencioso.

Em Londres, os salões ferviam.

A notícia havia escapado das paredes de Ravenshire com a velocidade de um escândalo real: Lady Eleanor Ashford fora vista com o próprio marido - sim, com ele - em atos indecorosos, em plena biblioteca da mansão ancestral, por um dos criados, supostamente subornado.

Mas o escândalo não era o fato em si. Era a intenção. Porque todos sabiam que Eleanor e Edward viviam sob o mesmo teto como estranhos. Que o casamento era uma aliança entre nomes, e não entre corações. Um acordo de poder. Um contrato.

E agora, esse contrato parecia ter explodido em labaredas de desejo.

As mães nobres começaram a sussurrar nos chás da tarde. Os senhores do Parlamento cochichavam nos clubes fechados. Alguns apostavam quando o divórcio viria. Outros, se haveria um filho bastardo.

E Alistair, por trás de tudo, regava a fogueira com uma precisão cirúrgica.

- Você deixou que nos vissem - acusou Eleanor ao encontrar Edward nos estábulos.

Ele estava suado, com as mangas da camisa dobradas, preparando um dos cavalos para a caçada da tarde. Mas ao ouvir sua voz, parou. Não virou imediatamente.

- Eu não costumo prestar atenção se alguém está olhando quando estou com minha esposa.

- Sua esposa. - Ela riu, amarga. - Só a lembra disso quando estamos nus?

Edward virou-se, finalmente.

- Está arrependida?

- Não. - Ela o encarou. - Mas você devia estar. O escândalo chegou a Londres. Alistair vazou. Está rindo de nós enquanto a sociedade nos esmaga com especulações.

- Que se danem. Que saibam. Que vejam. Talvez assim deixem de pensar que somos apenas dois bonecos bem vestidos em um tabuleiro de família.

Eleanor estreitou os olhos.

- Está tentando provar algo? Que ainda me possui? Que é o homem nesta história?

- Estou tentando provar que ainda somos fogo. Que não somos tão mortos quanto fingimos ser.

Ela sentiu o golpe. Mas não cedeu.

- Não quero ser uma chama que você acende só quando está entediado, Edward.

Ele se aproximou, mais calmo agora. Mais frio.

- E eu não quero ser o marido que você só lembra quando seu antigo amante aparece para brincar com sua coroa.

Um silêncio. Cruel. Doloroso.

- Se continuarmos assim, vamos nos destruir - ela murmurou.

- Talvez já estejamos nos destruindo - ele respondeu.

Na mesma noite, Eleanor escreveu uma carta. Mas não era para Edward. Era para Lady Margaret, sua madrinha e conselheira em Londres - uma mulher com mais poder nas sombras do que o próprio Parlamento.

"Margaret, preciso de sua ajuda. Alistair retornou e está manipulando tudo. Preciso saber quem está financiando seus movimentos. Se ele tem aliados dentro do Conselho ou nos tribunais. Estou prestes a queimar com Edward... mas talvez ainda haja como reverter as cinzas."

A resposta viria dois dias depois, com a notícia que mudaria tudo:

"Ele não está sozinho, Eleanor. Há um novo patrocinador no jogo. Alguém mais perigoso. E temo que... ele esteja interessado em você."

E enquanto Ravenshire dormia naquela madrugada, Alistair cavalgava com pressa para uma estalagem nas bordas da propriedade.

Lá, à luz fraca de velas e com uma garrafa de vinho barato sobre a mesa, ele encontrou-se com um homem alto, vestido com roupas simples demais para o tom de autoridade que carregava na voz.

- Você entregou bem o escândalo - disse o homem. - Agora, quero o próximo passo. Quero a condessa... comprometida. Arruinada. Ou em minha cama.

- Vai ter que disputar com o marido dela - respondeu Alistair, com um sorriso enviesado.

O homem se inclinou, olhos duros.

- Edward Ashford não é meu problema. Eleanor é. Ou você a quebra... ou ela será tomada à força.

E Alistair, por um breve segundo, não respondeu.

Porque Eleanor, para ele, era muitas coisas: rival, paixão, instrumento. Mas não propriedade.

- Eu a quebrarei - respondeu enfim. - Do meu jeito.

Eleanor dormiu mal naquela noite.

Um sonho a assombrou: estava sozinha em uma sala cheia de espelhos, nua, com o vestido de noiva rasgado aos pés, enquanto sombras circulavam seu reflexo. No centro, dois homens lutavam - Edward e Alistair. Mas ambos estavam vendados. Ambos sangravam. E, no fim, nenhum a tocava.

Ela acordou com o corpo em suor e um nome nos lábios.

- Mamãe...

A palavra escapou involuntária. Uma memória antiga. Uma dor enterrada.

E com ela, o próximo passo se desenhava: voltar ao lugar onde tudo começara. A antiga casa de sua mãe, no litoral de Cornualha. Onde segredos haviam sido enterrados. Onde talvez a chave para derrotar Alistair - e a si mesma - estivesse escondida.

                         

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