O Conde E Eu
img img O Conde E Eu img Capítulo 4 O Retorno de um Inimigo
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Capítulo 6 O Jardim das Sombras img
Capítulo 7 O Preço do Sangue img
Capítulo 8 Noites em Chamas img
Capítulo 9 A Valsa dos Inimigos img
Capítulo 10 A Rosa Envenenada img
Capítulo 11 A Corte dos Espelhos img
Capítulo 12 O Castelo que Sussurra img
Capítulo 13 O Herdeiro e o Selo img
Capítulo 14 A Noiva da Rosa Negra img
Capítulo 15 O Primeiro Sopro img
Capítulo 16 O Nome e a Lenda img
Capítulo 17 O Banquete dos Sussurros img
Capítulo 18 A Ordem do Véu img
Capítulo 19 O Véu de Paris img
Capítulo 20 Os Sinos de Praga img
Capítulo 21 A Criança nas Ruínas img
Capítulo 22 O Nome Esquecido img
Capítulo 23 A Mãe do Primeiro img
Capítulo 24 O Primeiro Herdeiro img
Capítulo 25 O Segundo Nome img
Capítulo 26 O Espelho do Anjo img
Capítulo 27 O Corpo que Anda img
Capítulo 28 A Cadeira de Prata img
Capítulo 29 O Espelho Partido img
Capítulo 30 A Filha do Espelho img
Capítulo 31 Ecos de Prata img
Capítulo 32 O Trono e o Reflexo img
Capítulo 33 O Espelho que Sonha img
Capítulo 34 A Lâmina e o Nome img
Capítulo 35 A Herança do Vazio img
Capítulo 36 O Coração e a Lâmina img
Capítulo 37 A Voz do Sangue img
Capítulo 38 O Nome que Sangra img
Capítulo 39 O Conselho das Sombras img
Capítulo 40 O Jogo da Coroa img
Capítulo 41 Ecos na Sala Vazia img
Capítulo 42 O Sussurro Sob a Pedra img
Capítulo 43 O Espelho e a Sombra img
Capítulo 44 O Conselho Fendido img
Capítulo 45 A Marca do Herdeiro img
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Capítulo 4 O Retorno de um Inimigo

A chuva caiu incessante naquela manhã de domingo, como se o próprio céu chorasse por algo que estava prestes a acontecer.

Eleanor acordou cedo, antes mesmo do sol mostrar sua presença entre as janelas góticas da mansão Ravenshire. Tinha dormido pouco, perturbada pela carta anônima recebida no baile. Aquela caligrafia marcada com tinta vermelha não era apenas uma ameaça - era uma advertência. E ela sabia exatamente quem seria audaz o suficiente para provocá-la daquela forma.

Alistair Thorne.

Um nome que era como um sopro de veneno no ouvido. Um homem que havia desaparecido depois de destruir a confiança de todos ao seu redor. E agora, ele retornava. Mas por quê? Por ela? Por Edward? Ou pelo título que tanto cobiçou e nunca teve?

No café da manhã, os criados estavam tensos. Um deles se aproximou, com um recado.

- Milady, um visitante aguarda no salão verde. Diz que é um conhecido do conde. Alistair Thorne.

O sangue de Eleanor gelou por um instante. Então ela pousou a xícara com delicadeza e levantou-se.

- Não o deixem esperar.

O salão verde de Ravenshire era o mais antigo da mansão. Paredes de madeira escura, tapeçarias desbotadas, e a lareira acesa traziam uma sensação de antiguidade viva. Alistair Thorne estava lá, em pé, observando um retrato de família como se examinasse as fraquezas de um oponente.

Estava mais bonito do que ela lembrava - mas também mais perigoso. Usava um sobretudo negro, botas de couro molhadas e um anel de rubi no dedo indicador. Os cabelos mais longos, a barba rala bem aparada. Havia nele uma tranquilidade que nascia do controle absoluto de si mesmo - ou da ausência de qualquer moral.

- Eleanor - disse ele ao se virar. - Ou devo chamá-la de Lady Ashford agora?

Ela manteve a postura ereta, o olhar gélido.

- Apenas Eleanor servirá. E você tem cinco minutos.

Ele riu, aproximando-se com um andar lento, predatório.

- Sempre direta. Sempre tentando fingir que não me deseja.

Ela não respondeu à provocação.

- Por que está aqui?

Alistair sorriu de canto.

- Vim oferecer uma aliança. Ou melhor, um lembrete: o conde não é confiável. E você, querida, ainda pode sair disso como herdeira de dois mundos... se me deixar ajudá-la.

- Você nunca ajuda ninguém sem exigir algo em troca.

- Claro. Quero o que sempre quis: Ravenshire. A linhagem. O poder. Mas dessa vez, não preciso conquistá-lo à força. Você pode dar-me tudo.

Eleanor se aproximou, as palavras afiadas como navalhas.

- Você acha que pode entrar aqui, oferecer veneno em taça de cristal e me seduzir com velhas promessas? Eu não sou mais a debutante que se apaixonou por sua língua suja e seu sorriso encantador.

Alistair parou diante dela, tão perto que seu perfume amadeirado se misturou ao cheiro de fumaça da lareira.

- Não. Agora é uma mulher poderosa, com um castelo... e um marido que odeia.

Ela hesitou. Foi um lapso pequeno, quase imperceptível. Mas ele viu.

- Eu posso dar o que Edward nunca te deu - continuou, sua voz descendo para um tom rouco e íntimo. - Controle. Desejo. Liberdade.

Eleanor não se afastou. Mas também não cedeu.

- Está iludido, Alistair. Eu não sou sua, nem de Edward. Sou minha. E se voltar a ameaçar o que é meu, juro que o enterrarei sob as pedras desta mansão.

Alistair não sorriu. Mas seus olhos brilharam com diversão e desafio.

- Então vamos ver quem cava mais fundo, minha condessa.

Quando Edward chegou, trazido por rumores e pela intuição aguçada, Alistair já estava no pátio externo, cavalgando em círculos como se esperasse por um duelo que não havia sido marcado.

- O que você quer aqui, Thorne? - perguntou Edward, a voz carregada de uma raiva antiga.

- Apenas uma conversa civilizada. Entre cavalheiros. - Alistair desmontou do cavalo com facilidade. - Mas se preferir sangue, também estou preparado.

- Não ouse provocar outra guerra entre nossos nomes.

- Guerra? - Ele riu. - A guerra já começou, meu caro. Só falta você perceber que está perdendo.

Edward avançou um passo.

- Chegue perto dela de novo e eu te mato.

- Já tentei uma vez, lembra? - Alistair olhou diretamente para Eleanor, que observava tudo da varanda. - Mas parece que ela sempre escolhe o lobo errado.

Eleanor sentiu o impacto das palavras. Ela sabia que ambos a usavam como símbolo em sua rivalidade. Mas agora, ela não era mais um troféu entre homens em conflito. Era o centro da teia.

Mais tarde, naquela noite, a tempestade que se acumulava explodiu sobre Ravenshire.

Eleanor foi até a antiga sala da biblioteca - um lugar que usava para pensar. Estava sozinha, ou assim pensava, até sentir a presença de Edward atrás de si.

- Ele nunca mais deve pisar aqui - disse Edward, aproximando-se. - Alistair é um câncer.

- Eu sei. Mas um câncer só cresce quando se tenta escondê-lo.

- Você está brincando com fogo, Eleanor.

- Não. Estou dançando sobre ele. Porque se não for eu... será você, e você falhará. Como sempre.

Edward a agarrou pelo braço, com força, mas sem brutalidade. Havia dor nos olhos dele. Uma súplica sem palavras.

- Não faça isso comigo - murmurou. - Não use ele pra me destruir.

Ela sussurrou, com os olhos fixos nos dele:

- Então lute por mim. Se ainda for capaz.

O silêncio entre eles era uma chama prestes a consumir tudo.

Ele a puxou. Ela não resistiu.

E ali, entre livros antigos e janelas tremendo com a tempestade, seus corpos se encontraram pela primeira vez em anos. Não por amor. Mas por raiva, desejo e memória. Os dedos dele prenderam o vestido nas costas. Os dela cravaram-se em seus ombros. Beijos que sangravam, mãos que exigiam. Um reencontro com gosto de guerra.

Mas ao longe, do topo de uma colina, alguém observava a luz acesa na biblioteca com um binóculo antigo.

Alistair.

- Deixem que se destruam primeiro - disse ele, entregando o binóculo a um homem de sobretudo escuro. - Depois, eu venho colher as cinzas.

            
            

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