O Uivo da Lua Escondida
img img O Uivo da Lua Escondida img Capítulo 5 Entre Dentes e Mentiras
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Capítulo 10 Os Ossos da Alcateia img
Capítulo 11 A Carne e a Maldição img
Capítulo 12 Lobos sem Nome img
Capítulo 13 A Canção dos Mortos-Vivos img
Capítulo 14 Sangue que Uiva img
Capítulo 15 A Lua sobre os Condenados img
Capítulo 16 A Última Pedra do Norte img
Capítulo 17 Trono do Exílio img
Capítulo 18 As Cinzas do Trono img
Capítulo 19 O Nome que Queima img
Capítulo 20 O Grito do Nome Perdido img
Capítulo 21 A Loba que Rasgou o Véu img
Capítulo 22 O Sussurro dos Corvos img
Capítulo 23 O Nome Esquecido img
Capítulo 24 A Alcatéia Partida img
Capítulo 25 O Uivo da Terra img
Capítulo 26 As Garras do Exílio img
Capítulo 27 Os Dentes da Lua img
Capítulo 28 A Voz das Cinzas img
Capítulo 29 O Filho Esquecido img
Capítulo 30 O Grito da Loba Morta img
Capítulo 31 A Lua e o Espelho img
Capítulo 32 O Filho que Restou img
Capítulo 33 O Lobo no Gelo img
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Capítulo 5 Entre Dentes e Mentiras

A floresta parecia respirar com eles. Cada passo que Elías, Selene e Marcus davam era seguido por algo mais: o murmúrio das folhas, o ranger dos galhos, o rosnar abafado de uma fera que ainda não mostrara os dentes.

- Diga logo o que quer, Marcus. - Elías caminhava à frente, a faca ainda presa ao quadril, os olhos varrendo os arredores.

- Quero exatamente o que você quer. - Marcus respondeu, como quem saboreia cada sílaba. - Sobrevivência. Mas com poder.

Selene, entre os dois, mantinha-se calada. Mas seus sentidos estavam em alerta. Não era apenas Marcus. Havia mais na floresta. Algo que não caminhava com patas comuns.

- Você nunca foi movido por sobrevivência. - ela rebateu, ríspida. - Sempre quis ser alfa. Mesmo que precisasse matar os próprios irmãos.

Marcus riu.

- E você acha que os alfas que veneramos hoje chegaram lá de forma justa? A selva não premia os justos, Selene. Premia os vorazes.

Elías parou, virou-se para ele com o cenho franzido.

- E o que tem naquela carta, Marcus? O que está escondendo?

Marcus retirou o envelope do bolso novamente, abriu o lacre e mostrou o conteúdo. Selene leu primeiro, os olhos se estreitando.

- Isso... não é só uma ordem de caça. É um mandado de purificação. Eles querem eliminar qualquer um com o sangue antigo. Até os híbridos.

- Não estão apenas atrás de mim. Estão atrás do que me gerou. - Selene respirou fundo. - E de qualquer um que tocar nisso.

- Exato. - Marcus disse. - Por isso eu vim. A única chance que temos de sobreviver é encontrar o Livro dos Uivos.

Elías arqueou a sobrancelha.

- Isso é uma lenda.

- Era. Até ontem. - Marcus sorriu. - Agora sabemos que ele existe. E que alguém o está usando.

- Quem? - Selene perguntou.

Foi então que o grito cortou a noite. Não humano. Nem totalmente lobo.

Elías se virou no mesmo instante, os sentidos disparando. A floresta adensou-se num manto de escuridão viva.

Dos arbustos, surgiu uma figura.

Alta. De pele acinzentada, olhos esbranquiçados como leite coagulado. As garras eram longas demais para qualquer animal comum. Os pelos não tinham cor - apenas sombras grudadas à carne. E a boca...

Selene recuou um passo. Elías colocou-se à frente.

- Um Rasgado... - Marcus murmurou. - Eu achei que eles tinham sido todos extintos.

- O que é isso? - Selene sussurrou, os olhos vidrados na criatura que avançava lentamente.

- Um experimento falho. Alguém tentou unir o sangue dos puros com a carne de um lobo sem alma. São usados como sentinelas em templos antigos. Ou em tumbas.

Elías sacou a faca. Selene ergueu o colar da mãe instintivamente.

O Rasgado parou. Farejou o ar. E então...

Ajoelhou-se diante de Selene.

Marcus arregalou os olhos.

- Isso... isso não devia acontecer.

Elías avançou, pronto para cortar a garganta da criatura, mas Selene ergueu a mão.

- Espera.

O Rasgado tirou do pescoço uma pequena bolsa de couro e ofereceu a ela.

Dentro, havia um pedaço de pergaminho. Nele, uma inscrição escrita com sangue.

"O Livro está em Licht. Sob as ruínas do Salão das Lâminas. Protegido pela Filha da Noite."

- Licht... - Selene sussurrou. - A cidade proibida. Onde minha mãe morreu.

- E onde os conselheiros não pisam desde a última guerra. - Marcus concluiu.

Elías se aproximou.

- Se for uma armadilha, estamos mortos.

Selene guardou o papel.

- Se for verdade, temos uma chance.

O Rasgado uivou. Um som longo, gutural, ancestral. Depois, simplesmente se virou e desapareceu na mata como fumaça soprada pelo vento.

Marcus passou a mão pelos cabelos.

- Isso muda tudo.

- Muda? - Selene encarou-o. - Isso nos coloca bem no meio da linha de fogo.

Elías respirou fundo, a faca ainda firme.

- Mas também pode nos dar as armas certas.

- Então vamos a Licht. - Marcus sorriu. - E rezem para que a Filha da Noite não odeie vocês tanto quanto odeia a mim.

Enquanto desapareciam pela estrada de terra, uma sombra observava de longe.

Não o Rasgado.

Algo pior.

Algo que lembrava Selene... e cheirava como ela.

            
            

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