O Uivo da Lua Escondida
img img O Uivo da Lua Escondida img Capítulo 7 O Filho do Fim
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Capítulo 10 Os Ossos da Alcateia img
Capítulo 11 A Carne e a Maldição img
Capítulo 12 Lobos sem Nome img
Capítulo 13 A Canção dos Mortos-Vivos img
Capítulo 14 Sangue que Uiva img
Capítulo 15 A Lua sobre os Condenados img
Capítulo 16 A Última Pedra do Norte img
Capítulo 17 Trono do Exílio img
Capítulo 18 As Cinzas do Trono img
Capítulo 19 O Nome que Queima img
Capítulo 20 O Grito do Nome Perdido img
Capítulo 21 A Loba que Rasgou o Véu img
Capítulo 22 O Sussurro dos Corvos img
Capítulo 23 O Nome Esquecido img
Capítulo 24 A Alcatéia Partida img
Capítulo 25 O Uivo da Terra img
Capítulo 26 As Garras do Exílio img
Capítulo 27 Os Dentes da Lua img
Capítulo 28 A Voz das Cinzas img
Capítulo 29 O Filho Esquecido img
Capítulo 30 O Grito da Loba Morta img
Capítulo 31 A Lua e o Espelho img
Capítulo 32 O Filho que Restou img
Capítulo 33 O Lobo no Gelo img
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Capítulo 7 O Filho do Fim

O amanhecer sobre Licht foi pálido e frágil, como se o sol hesitasse em tocar aquela terra marcada por memórias e magia. A fumaça das antigas piras se dissipava aos poucos, mas o cheiro de sacrifício ainda impregnava o ar.

Selene observava o horizonte. Sentia o livro latejando sob sua pele, como se tivesse entrado em sincronia com o próprio coração.

Elías permaneceu em silêncio ao lado dela, as mãos firmes no punho da adaga, o olhar voltado para as sombras entre as árvores.

- Ele está vindo, não está? - Selene sussurrou.

- Sim. - Elías confirmou. - E vem sozinho. Mas não vem fraco.

Antes que ela pudesse responder, o chão sob seus pés tremeu.

Dos limites da floresta surgiu uma figura. Um homem alto, vestindo couro negro marcado por runas tribais antigas. Os cabelos eram brancos como ossos lavados, os olhos... olhos sem pupila, espelhos opacos de um céu sem estrelas.

- Esse é o Filho do Fim? - Selene sentiu a garganta secar.

- O primeiro caçador criado fora do ciclo. - Elías disse, baixo. - Um experimento que nunca deveria ter sobrevivido. Criado para devorar lobos, para apagar linhagens. Alimentado com o grito do primeiro.

O estranho parou diante deles. Sorriu. Um sorriso sem calor, sem dentes, apenas o esgar de um predador.

- Selene. - Ele falou seu nome como quem recita uma prece profana. - Você carrega o livro. E o livro pertence ao fim.

- Você não vai tocá-lo. - Elías se pôs à frente.

O homem ignorou.

- Seu pai me caçou. Sua mãe tentou selar o que eu sou. Mas você... você é o elo que me falta. O sangue que pode me libertar do que restou da carne.

- Então vai ter que morrer tentando. - Selene disse, firme, o colar de sua mãe brilhando com fúria.

Num piscar, ele estava diante de Elías. O golpe foi rápido como um trovão - só que Elías também era rápido. A adaga encontrou o braço do invasor, mas em vez de carne, cortou neblina.

O Filho do Fim reapareceu atrás deles, rindo.

- Eu não pertenço à carne. E vocês ainda acham que sangue pode vencer a ausência?

Selene ergueu as mãos. O livro em sua posse vibrava. As correntes fantasmas começaram a surgir, como serpentes prateadas dançando ao seu redor.

- Não preciso te vencer com sangue. Posso te selar com nomes. E você tem muitos.

O homem hesitou. Pela primeira vez, o vazio nos olhos dele se contraiu.

- Você conhece os nomes? - ele sibilou.

- O suficiente para manter sua alma em pedaços por mil luas. - Ela avançou. - A filha da Noite não teme o escuro.

Elías lançou a adaga. Não contra o homem, mas contra o chão, cravando-a em um antigo selo tribal. A terra gritou, e raízes negras se ergueram, prendendo os pés do inimigo.

Selene começou a recitar.

- Aquel'thar, nome esquecido. Caevius, o fragmentado. Fhlan-tur, o faminto. Retorne ao esquecimento que te pariu.

O Filho do Fim uivou, um som que quebrou janelas e fez o céu escurecer. Mas o selo segurou. As raízes o envolveram, puxando-o de volta para um vazio onde o tempo não existia.

Quando tudo cessou, só restava a adaga no chão. O ar estava imóvel.

Selene caiu de joelhos, o suor escorrendo como lágrimas.

Elías a segurou, com uma mão no ombro dela.

- Você o expulsou. Mas não morreu. Isso significa que ele vai voltar.

- E da próxima vez, trará nomes novos.

- Ou levará os nossos.

O silêncio entre eles era pesado. Mas havia algo novo ali: não era medo. Era preparo.

Selene ergueu os olhos para o céu.

- Precisamos ir para a próxima cidade.

- Não vai descansar?

- Não posso. O Livro dos Uivos só está seguro enquanto eu estiver acordada. E há outros que vão querer tocá-lo. Alguns... que têm meu sangue.

Elías assentiu.

- Para onde?

- Ysmara. Onde minha mãe selou o primeiro uivo. Onde tudo começou.

E enquanto caminhavam rumo ao sul, atrás deles, sob a terra onde o Filho do Fim havia sido arrastado, um eco sussurrava:

"Nome por nome. Dente por dente. Vocês ainda não ouviram meu verdadeiro rugido."

            
            

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