Capítulo 2 Proposta

Os meses passaram como um turbilhão de preocupações e esforço. Daniel e Sofia fizeram todo o possível para se manterem de pé, mas o peso da dívida era como uma corda apertando cada vez mais seus pescoços.

O primeiro pagamento chegou rápido demais. Daniel tentou juntar pelo menos uma parte do dinheiro, mas entre o aluguel, a comida e as pequenas despesas do dia a dia, não sobrava nada. Sofia trabalhava incansavelmente com sua confeitaria, mas a renda era mínima.

Quando Daniel se apresentou ao senhor Ramírez, sentiu-se como um condenado prestes a ouvir sua sentença.

- Senhor Ramírez... - engoliu em seco e baixou o olhar -. Não tenho o dinheiro este mês. Tem sido difícil, mas prometo que vou pagar. Só preciso de um pouco mais de tempo.

O empresário o observou em silêncio por alguns segundos. Sua expressão era dura, mas por fim suspirou e cruzou os braços.

- Eu te dei esse empréstimo porque confiava em você, Daniel. Não quero ser injusto, mas precisa entender que isso é um negócio.

- Eu sei, eu sei - assentiu desesperado -. Só... nos dê mais algumas semanas. Eu imploro.

Ramírez o olhou com certa piedade e assentiu.

- Vou te dar mais um pouco de tempo, mas espero que isso não vire hábito.

Daniel voltou para casa naquela noite com um misto de alívio e culpa. Sofia o esperava com uma xícara de chá na mesa, o rosto tenso de preocupação.

- O que ele disse? - perguntou imediatamente.

Daniel afundou na cadeira com um suspiro.

- Ele nos deu mais tempo. Mas não sei por quanto tempo mais vamos conseguir segurar isso, Sofia.

Ela abaixou o olhar e apertou os lábios. Sabia que seu negócio ainda não era suficiente, que por mais que se esforçassem, o dinheiro simplesmente não dava conta.

Mas o pior ainda estava por vir.

Mês após mês, as desculpas deixaram de ser suficientes. Embora no começo Ramírez demonstrasse compreensão, com o tempo sua paciência se esgotou. Já se haviam passado seis meses sem que Daniel conseguisse pagar sequer um dólar da dívida, e os juros continuavam acumulando.

Numa tarde, Daniel recebeu uma ligação enquanto estava no trabalho.

- O tempo acabou, Daniel - disse a voz grave de Ramírez do outro lado da linha -. Já esperei demais. Ou você começa a pagar, ou haverá consequências.

O estômago de Daniel afundou.

- Por favor, senhor Ramírez. Estou fazendo todo o possível, juro.

- Sinto muito, mas não posso esperar mais. Não me obrigue a tomar outras medidas.

O tom do seu chefe foi o suficiente para gelar seu sangue. Aquela noite, ao chegar em casa, encontrou Sofia sentada no sofá, as mãos entrelaçadas no colo.

- Daniel... recebi uma visita hoje - sussurrou.

Daniel sentiu um arrepio nas costas.

- Quem?

- Uns homens... perguntaram por você. Disseram que vinham da parte do senhor Ramírez.

O silêncio que se seguiu foi esmagador. Daniel sentiu o mundo ao seu redor desmoronar. Não estavam apenas endividados. Agora, estavam em sérios apuros.

- O chefe está perdendo a paciência, Valdés - disse um deles, cruzando os braços -. Já se passaram seis meses sem nenhum pagamento.

Daniel engoliu em seco, sentindo o suor frio escorrer pelas costas.

- Eu sei... mas estou tentando conseguir o dinheiro. Só preciso de um pouco mais de tempo.

O outro homem soltou uma risada seca.

- Isso foi o que você disse há três meses.

Daniel sentiu o estômago revirar quando o primeiro homem deu um passo à frente e o encarou diretamente.

- Você tem cinco dias, Daniel. Nem um a mais. Se não tiver o dinheiro, Ramírez virá pessoalmente te buscar. E acredite, você não quer que isso aconteça.

Sem esperar resposta, os dois homens se viraram e foram embora, deixando Daniel com um nó na garganta e as pernas trêmulas.

Sofia percebeu imediatamente sua expressão pálida.

- Daniel, o que houve?

Ele jogou a bolsa sobre a mesa e passou a mão pelos cabelos, exalando com frustração.

- Temos cinco dias. Se não pagarmos alguma coisa, Ramírez virá atrás de nós.

Sofia sentiu um arrepio no corpo.

- Meu Deus... Daniel, o que vamos fazer?

- Eu não sei - respondeu ele, os olhos cheios de cansaço -. Eu não sei mais o que fazer, Sofia.

Os dias passaram e a pressão aumentou. Sofia tentou vender mais doces, Daniel fez horas extras onde pôde, mas o dinheiro simplesmente não era suficiente. O prazo chegou como uma sentença e, no quinto dia, quando Daniel saiu cedo em uma última tentativa desesperada de conseguir ajuda, o destino bateu à porta da pior maneira possível.

Quando Sofia abriu, deu de cara com o senhor Ramírez em pessoa.

- Boa tarde, Sofia - cumprimentou com voz calma, embora o olhar fosse implacável -. Vim buscar o Daniel.

- Ele não está - respondeu ela, sentindo o medo apertar no peito -. Saiu para trabalhar.

Ramírez a observou em silêncio por um momento antes de suspirar.

- Uma pena. Porque o tempo dele acabou.

Sofia sentiu a garganta secar quando ele deu um passo em sua direção.

- Mas... há uma forma de conseguir mais tempo para ele - disse com um meio sorriso.

O ar pareceu desaparecer da sala.

- Do que está falando? - perguntou Sofia, embora já temesse a resposta.

Ramírez inclinou a cabeça e a observou com um olhar que a fez estremecer.

- Podemos renegociar a dívida... se você estiver disposta a me fazer um favor.

O estômago de Sofia se revirou. Sabia que aquela proposta não tinha nada de inocente.

- Acho melhor o senhor ir embora - disse, tentando manter a voz firme.

Ramírez sorriu com calma, como se soubesse que aquela resposta não era o fim da conversa.

- Pense bem, Sofia. Porque quando eu voltar, não haverá mais opções.

E com isso, foi embora, deixando para trás um silêncio aterrador e Sofia com o coração disparado.

Sofia passou o resto do dia num estado de ansiedade constante. Suas mãos tremiam enquanto tentava se concentrar no trabalho, mas sua mente voltava, sem parar, à conversa com Ramírez. A proposta implícita em suas palavras a fazia se sentir suja, como se o ar da casa tivesse sido contaminado com sua presença.

Quando Daniel voltou naquela noite, exausto e sem boas notícias, Sofia o recebeu com um sorriso forçado.

- Teve sorte? - perguntou, embora por dentro já soubesse a resposta.

Daniel afundou na cadeira com um suspiro derrotado.

- Não... Ninguém quer emprestar dinheiro sem garantias, e também não consigo outro trabalho com o tempo tão curto.

Sofia sentiu o coração apertar ao vê-lo assim, tão derrotado. Daniel sempre fora um homem forte, mas essa situação o estava quebrando.

- E aqui? Aconteceu alguma coisa?

Ela desviou o olhar por um segundo, lutando consigo mesma. Não podia contar o que Ramírez havia insinuado. Daniel surtaria, ela sabia, e não podiam se dar ao luxo de enfrentar alguém como ele.

- Ramírez veio te procurar, mas como você não estava, disse que voltaria outro dia - respondeu com naturalidade.

Daniel esfregou o rosto com as duas mãos.

- Maldição... - murmurou.

Sofia serviu um pouco de chá, tentando acalmá-lo de alguma forma. Enquanto ele bebia em silêncio, ela evitava olhá-lo diretamente. Sua mente travava uma guerra interna.

E se aceitasse a proposta de Ramírez?

A ideia a enchia de repulsa, mas, ao mesmo tempo, o desespero era um peso que não conseguia ignorar. Se aceitasse, talvez pudessem sair do problema. Não apenas ganhariam tempo, como poderiam reduzir a dívida. Daniel poderia respirar em paz, poderiam começar de novo sem aquela sombra sobre eles.

Mas... ela conseguiria viver consigo mesma depois disso?

Sofia apertou os lábios, sentindo o estômago embrulhar. Só de considerar aquilo já se sentia como se estivesse traindo tudo o que era.

Daniel não merecia isso. Mas também não merecia aquela vida cheia de dívidas e ameaças.

Naquela noite, enquanto ele dormia ao seu lado, ela permaneceu acordada, com os olhos fixos no teto, dividida entre sua moral e seu desespero.

Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que tomar uma decisão.

E o tempo estava se esgotando.

            
            

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