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Na manhã seguinte, Daniel saiu cedo como sempre, com o rosto cansado e os ombros tensos pela pressão da dívida. Sofia se despediu com um beijo na bochecha e lhe deu um sorriso fraco, embora sua mente estivesse longe da tranquilidade que tentava aparentar.
Assim que fechou a porta, um arrepio percorreu suas costas. Sabia que ele voltaria hoje.
O relógio mal marcava oito horas quando três batidas firmes e autoritárias ecoaram na porta.
Sofia engoliu em seco antes de abrir.
Lá estava ele.
O senhor Ramírez a observava com aquela expressão calma e calculista que a fazia sentir-se indefesa. Vestia seu terno impecável e mantinha as mãos nos bolsos do casaco, como se estivesse apreciando o momento.
- Bom dia, Sofia - cumprimentou com uma leve inclinação de cabeça. - Posso entrar?
Ela hesitou.
- Acho que não é necessário...
Ramírez arqueou uma sobrancelha, com um leve sorriso.
- Tem certeza? Eu não gostaria que seus vizinhos ouvissem nossa conversa.
Sofia sentiu o peito apertado. Sabia que, se recusasse, ele insistiria, e no fim, não adiantaria adiar o inevitável. Deu um passo para trás e permitiu que ele entrasse.
Ramírez observou a casa com um ar de superioridade antes de se virar para ela.
- Vou ser direto. Já se passaram os cinco dias e Daniel ainda não me pagou. Eu não sou um homem paciente, mas também sei que enforcar meus devedores nem sempre é bom para os negócios.
Sofia permaneceu em silêncio, esperando o pior.
- Então, vou te fazer uma proposta - continuou ele, tirando um pequeno envelope do bolso do paletó. - Vou dar mais tempo para pagar... mas com uma condição.
Ela sentiu um nó na garganta.
- Que condição?
Ramírez colocou o envelope sobre a mesa e se aproximou um pouco mais.
- Toda semana, virei buscar o pagamento. Se não tiver o dinheiro, bem... você já sabe qual é a outra opção.
Sofia sentiu um calafrio percorrer seu corpo.
- Daniel ainda está tentando conseguir o dinheiro...
- Eu sei, mas a essa altura, sabemos que não vai ser fácil. Então, não me faça perder tempo, Sofia. Se em uma semana não houver pagamento, quero outro tipo de compensação.
Ela desviou o olhar, com o estômago revirado.
Ramírez tirou um cartão e o deslizou pela mesa.
- Você tem até a próxima semana para decidir. Mas lembre-se de uma coisa... a cada dia que passa, os juros aumentam.
Sofia mordeu o lábio, lutando contra o medo que a consumia.
Ramírez lhe lançou um último olhar e caminhou em direção à porta com a mesma calma com que havia chegado. Antes de sair, parou e virou levemente a cabeça.
- Nos vemos em breve, Sofia. Espero que até lá tenha tomado uma decisão.
E com isso, foi embora, deixando-a sozinha com o peso de uma escolha impossível.
Sofia olhou para o cartão sobre a mesa, sentindo que seu mundo desmoronava ao seu redor.
O que ela faria?
Sofia permaneceu de pé na sala, encarando o cartão sobre a mesa como se, a qualquer momento, ele fosse desaparecer. Mas não desapareceu. Continuava ali, sendo um lembrete da pressão sufocante que recaía sobre ela e Daniel.
Sentou-se lentamente em uma das cadeiras, sentindo o corpo pesado, exausto. Sua mente girava sem controle, buscando desesperadamente uma saída, uma alternativa que não envolvesse o sacrifício que Ramírez esperava dela.
Quando Daniel voltou naquela noite, trazia a mesma expressão de angústia dos últimos dias. Caiu no sofá e esfregou o rosto com as mãos.
- Nada... Ninguém quer nos emprestar dinheiro sem garantias. Já nem me recebem mais em alguns lugares - murmurou com a voz apagada.
Sofia engoliu em seco.
- Ramírez veio de novo.
Daniel levantou a cabeça de repente, com o cenho franzido.
- O que ele queria?
Sofia desviou o olhar por um segundo, sentindo o coração bater forte no peito. Não podia dizer a verdade. Não podia sobrecarregá-lo com isso, quando ele já tinha a dívida em seus ombros.
- Só veio lembrar do pagamento. Disse que vai nos dar mais um tempo, mas... os juros continuarão aumentando.
Daniel apertou o maxilar e se levantou.
- Aquele desgraçado... E o que ele quer que a gente faça? Que tire dinheiro do nada?
Sofia não respondeu. Não podia.
Daniel começou a andar de um lado para o outro, completamente frustrado.
- Tenho que encontrar uma solução, Sofia. Não podemos continuar assim. Não quero que ele volte a esta casa.
Ela sentiu um arrepio com aquelas palavras. Se ele soubesse o que Ramírez realmente queria...
- Vamos tentar buscar mais opções - disse Sofia, tentando soar tranquila. - Talvez eu consiga mais clientes na loja, oferecer descontos, trabalhar mais horas...
Daniel a olhou com tristeza e balançou a cabeça.
- Não quero que você carregue isso, Sofia. Eu fui quem fez o empréstimo, é minha responsabilidade.
Sofia sentiu um nó na garganta.
- Estamos juntos nessa - sussurrou, e ele a abraçou com força.
Mas, enquanto ele a envolvia nos braços, ela fechou os olhos com força, tentando ignorar o peso da decisão que ainda precisava tomar.
A semana mal havia começado, mas Sofia já sentia que o tempo estava acabando.
O tempo passou mais rápido do que Sofia esperava. A cada dia, a tensão entre ela e Daniel aumentava, embora ele tentasse se manter firme. Tinha saído cedo naquela manhã, decidido a encontrar uma solução antes que Ramírez aparecesse.
Mas Sofia sabia que era inútil.
A semana havia chegado.
Eram quase seis da tarde quando três batidas secas ecoaram na porta. Sofia sentiu o corpo estremecer. Engoliu em seco e se obrigou a manter a compostura antes de girar a maçaneta.
Ramírez estava lá, com seu terno impecável e aquele sorriso de calma absoluta que a deixava inquieta.
- Sofia - cumprimentou com um tom quase gentil. - Posso entrar?
Ela assentiu lentamente e deu passagem.
Ele entrou com a mesma segurança de sempre e olhou ao redor, como se inspecionasse a casa. Depois, voltou-se para ela.
- Hoje é o dia do pagamento - disse sem rodeios. - Você tem meu dinheiro?
Sofia sentiu o estômago se encolher.
- Não... Daniel ainda não conseguiu nada. Ele está buscando mais opções, mas...
Ramírez soltou uma risada baixa e balançou a cabeça.
- O que eu te disse da última vez, Sofia? Você sabia que esse dia chegaria, não sabia?
Ela cerrou os punhos.
- Só precisamos de mais tempo.
- Mais tempo? - Ramírez suspirou com falsa paciência. - Já dei uma semana, Sofia. Você acha que eu sou um homem de caridade?
Sofia baixou o olhar.
Ele se aproximou mais um pouco.
- Mas eu não sou um homem injusto - continuou. - Então vou te fazer a mesma oferta. Não há dinheiro... mas isso não significa que você não possa me pagar de outra forma.
Ela sentiu a pele se arrepiar.
Ramírez tirou o celular do bolso e o colocou sobre a mesa.
- Vou te dar alguns minutos para pensar. Mas entenda uma coisa, Sofia... Não gosto que me façam perder tempo. Se hoje não houver pagamento, da próxima vez, não virei sozinho.
O ar na sala ficou pesado.
Sofia sentiu as pernas tremerem, mas se obrigou a permanecer firme.
Ramírez a observou atentamente antes de se inclinar um pouco na direção dela.
- Decida logo, Sofia. O tempo está acabando.