Capítulo 5 Viagem de trabalho

Daniel tirou o celular do bolso ao sentir a vibração. Sofia, sentada à sua frente, sentiu um arrepio ao ver na tela o nome de Ramírez.

- Senhor Ramírez? - atendeu Daniel, com um tom de surpresa e respeito.

Sofia sentiu seu coração começar a bater com força.

- Daniel, estou te ligando porque quero te ajudar um pouco com a situação - disse Ramírez com seu tom pausado e seguro. - Sei que você está passando por um momento difícil, então decidi te enviar por duas semanas para uma das nossas filiais fora da cidade. É um bom trabalho, com diárias e um bônus extra.

Daniel piscou, surpreso com a oferta.

- Sério? Senhor, isso... isso seria incrível, mas... por que eu?

Ramírez soltou uma leve risada do outro lado da linha.

- Você é um bom funcionário, Daniel. E sei que isso vai te dar um alívio. Ou prefere ficar aqui com toda essa pressão?

Daniel passou a mão pelo cabelo, claramente considerando a proposta. Sofia, por outro lado, sentiu o sangue gelar nas veias.

Ramírez queria que Daniel fosse embora. Queria deixá-la sozinha.

- Não sei o que dizer, senhor... - murmurou Daniel. - Na verdade, isso nos ajudaria muito.

Sofia sentiu a garganta secar.

- Considere isso uma oportunidade. Vou te mandar os detalhes por e-mail. Você parte em dois dias - finalizou Ramírez antes de desligar.

Daniel suspirou e olhou para Sofia com um sorriso cansado.

- Parece que, pela primeira vez em meses, tivemos um pouco de sorte.

Mas Sofia não conseguiu sorrir. Sua mente estava presa a um único pensamento: Ramírez a queria sozinha. E agora, não havia como escapar.

Sofia sentiu um vazio no estômago, mas forçou um sorriso para não levantar suspeitas.

- É... sorte - sussurrou, embora a palavra tivesse um gosto amargo.

Daniel se levantou do sofá com mais energia do que tivera em semanas.

- Vou começar a arrumar as malas. Não quero deixar tudo pra última hora - disse, dirigindo-se ao quarto.

Sofia o viu desaparecer pelo corredor. Assim que ouviu o som da porta se fechando atrás dele, deixou-se cair na cadeira, sentindo o ar da sala ficar mais denso.

Ramírez tinha planejado aquilo. Não podia ser coincidência.

O pensamento a encheu de um medo profundo. Como tinha chegado àquele ponto? Há apenas alguns meses, sua maior preocupação era juntar dinheiro para pagar o aluguel e fazer seu negócio crescer. Agora, estava presa em uma situação sufocante, com uma dívida que não desaparecia e uma sombra cada vez maior se aproximando.

O celular vibrou sobre a mesa, fazendo-a se sobressaltar. Ela olhou a tela. Uma mensagem.

Ramírez: Agora sim, poderemos passar mais tempo juntos. Não se esqueça do que te disse, Sofia. Nos vemos em breve.

Sofia sentiu náuseas.

Levou a mão à boca e fechou os olhos com força. Queria gritar, queria chorar, mas tudo o que conseguiu fazer foi ficar ali, paralisada, enquanto seu mundo continuava desmoronando.

Sofia sentiu o corpo ficar tenso ao ouvir o motor do carro sendo desligado em frente à casa. Ficou em pé na sala, olhando para a porta como se pudesse fechá-la com a mente e fazer Ramírez desaparecer.

Mas isso não ia acontecer.

Segundos depois, três batidas secas ecoaram na madeira.

Respirou fundo, obrigando-se a manter a compostura, e caminhou lentamente até a porta. Sua mão tremia ao girar a maçaneta.

Ramírez estava ali, com a postura relaxada e um sorriso quase imperceptível nos lábios. Usava um terno escuro, elegante como sempre, e segurava uma pequena caixa embrulhada para presente.

- Olá, Sofia - cumprimentou com seu tom pausado e seguro.

Ela engoliu em seco e assentiu.

- Olá.

- Não vai me convidar para entrar?

Sofia sentiu um nó no estômago, mas se afastou para deixá-lo passar. Ramírez entrou com a confiança de quem sabe que está no controle da situação. Sentou-se no sofá como se estivesse em sua própria casa e colocou a caixa sobre a mesa de centro.

- Trouxe um presente para você - disse, dando um leve tapinha no pacote.

Sofia cruzou os braços, sem sair do lugar.

- O que é?

- Abra e verá.

Ela hesitou, mas finalmente se aproximou e desfez o laço com mãos trêmulas. Levantou a tampa e encontrou dentro um elegante vestido de seda vermelha, acompanhado de um frasco de perfume caro.

Sofia sentiu o ar ficar mais pesado.

- Não posso aceitar isso - murmurou, fechando a caixa imediatamente.

Ramírez a observou com uma expressão divertida.

- Claro que pode. E vai aceitar.

Ela levantou o olhar, encontrando os olhos escuros e calculistas dele.

- O que você quer, Ramírez?

O homem sorriu, apoiando um braço no encosto do sofá.

- Não vamos fingir que você não sabe, Sofia. Desde o momento em que aceitou minha ajuda, sabia que isso não acabaria com uma única vez.

Sofia sentiu um arrepio percorrer a espinha.

- Você disse que me daria mais tempo...

- E estou dando. Toda semana, como combinamos - disse ele com um tom calmo, como se estivessem discutindo um simples contrato. - Mas esse tempo tem um preço.

Sofia apertou os lábios, desviando o olhar.

- Daniel não sabe de nada - continuou Ramírez. - E sabe de uma coisa? Não precisa saber. Estou sendo muito generoso com você, Sofia. Estou te oferecendo algo que nenhum outro agiota te daria: tempo, conforto... até prazer.

Ela fechou os olhos por um momento, sentindo uma mistura de raiva e vergonha.

- Se tentar se afastar, se decidir me rejeitar, as coisas podem ficar bem mais difíceis para o Daniel.

O olhar dele cravou-se nela com intensidade.

- Seria uma pena se ele perdesse o emprego. Ou se a dívida caísse em mãos... menos pacientes que as minhas.

Sofia sentiu que a sala encolhia ao seu redor. Sabia que Ramírez tinha poder. Se quisesse, poderia acabar com a vida deles.

- Você não precisa decidir agora - disse ele, levantando-se e ajeitando o paletó com calma. - Vou deixar você pensar.

Aproximou-se até ficar a poucos centímetros dela, inclinando-se o suficiente para sussurrar em seu ouvido:

- Vista o vestido esta noite. Quero te ver com ele.

Sofia ficou imóvel enquanto Ramírez caminhava até a porta e a abria com a mesma tranquilidade com que havia chegado.

- Até breve, Sofia.

E com isso, foi embora.

Sofia ficou parada no meio da sala, com os punhos cerrados e o coração disparado.

Ela sabia que estava presa.

Sabia que, mais cedo ou mais tarde, Ramírez voltaria.

                         

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