Capítulo 3 A Decisão

Capítulo 3: A Decisão

Helena saiu do prédio da Moretti Corp. como quem desperta de um sonho estranho - ou de um pesadelo.

A cidade seguia viva, apressada e indiferente, mas para ela, cada passo parecia pesado, como se estivesse andando sob o peso de toneladas de incertezas. O vento cortante da manhã assanhava seus cabelos castanhos, mas ela não fez esforço algum para ajeitá-los.

Como poderia?

Acabava de receber uma proposta... de casamento.

Não uma proposta romântica, apaixonada, como nos livros ou filmes que ela lia em noites solitárias.

Não.

Aquilo era um contrato.

Uma barganha.

Vendeu-se por segurança financeira?

A pergunta se repetia na sua cabeça enquanto caminhava pela Faria Lima, quase sem perceber que os saltos finos escorregavam na calçada molhada.

Deveria ter dito não. Ter rido da cara dele, daquele homem arrogante que achava que podia comprar tudo... até mesmo o amor.

Mas não disse.

Não conseguiu.

Por quê?

Entrou em um café pequeno, sentou-se num banco junto à janela, observando a garoa que começava a engrossar, e tirou da bolsa o guardanapo que pegara na recepção, onde uma secretária havia escrito, mecanicamente, os detalhes do "contrato":

"Duração: 1 ano.

Termos: confidencialidade absoluta.

Benefícios: financeiro, proteção, estabilidade."

Helena apertou o papel entre os dedos, como se aquilo pudesse fazer o conteúdo desaparecer.

A lembrança do olhar de Leonardo atravessou sua mente como uma lâmina fria: firme, decidido, inabalável.

Não havia nada de paixão ali. Nenhum traço de ternura.

E, ainda assim...

Havia algo.

Um magnetismo silencioso, uma força invisível, como se aquele homem fosse capaz de dobrar a realidade à sua vontade.

Helena suspirou, apoiando a testa nas mãos.

O aluguel atrasado.

As contas se acumulando.

A sensação constante de fracasso.

Seria esse o preço?

Seu orgulho? Sua liberdade? Sua alma?

Ou seria... uma chance?

Uma chance de mudar o rumo, de sair da mediocridade, de ter acesso a um mundo que, até então, só existia nas páginas das revistas que folheava enquanto esperava nas filas do supermercado.

Naquele momento, Helena percebeu algo assustador: não sentia apenas medo...

Sentia também... curiosidade.

Curiosidade por ele.

Por como seria viver ao lado de um homem como Leonardo Moretti.

E essa curiosidade, estranhamente, era ainda mais forte que o medo.

•••

Naquela noite, deitada em sua cama estreita, olhando o teto manchado de infiltração, Helena não conseguiu conter as lágrimas.

Por que a vida tinha que ser assim?

Por que ela nunca podia simplesmente escolher o amor?

Por que sempre havia uma conta a pagar... uma dívida a saldar... uma oportunidade que, para ser agarrada, precisava custar tão caro?

Pegou o celular. Abriu a mensagem dele, enviada poucas horas antes:

"Espero sua resposta até amanhã. Leonardo."

Simples.

Direto.

Irritantemente seguro de que ela aceitaria.

Helena fechou os olhos, apertando o aparelho contra o peito.

E então, como quem salta de um penhasco, sem ter certeza se há rede de proteção, digitou:

"Aceito."

E enviou.

O ícone de mensagem lida apareceu segundos depois.

Mas não houve resposta.

Nem precisava.

Ela já sabia que, a partir dali, sua vida nunca mais seria a mesma.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022