Capítulo 5 A Nova Casa

Capítulo 5: A Nova Casa

O carro deslizou suavemente pela avenida arborizada, afastando-se do centro pulsante da cidade e mergulhando em bairros onde o silêncio parecia ter sido cuidadosamente planejado.

Helena mantinha os olhos atentos ao mundo lá fora, mas sua mente estava ali dentro, naquela cápsula de couro e vidro, ao lado do homem que, de repente, se tornara... seu marido.

Marido.

A palavra soava estranha, quase absurda.

Como poderia chamar de marido alguém que mal conhecia?

Alguém que, com um simples contrato, mudara radicalmente sua vida?

O carro fez uma curva e parou diante de um imenso portão de ferro forjado, que se abriu automaticamente, revelando uma entrada ladeada por ciprestes altos e bem cuidados.

O motorista conduziu o veículo até o fim da alameda, onde se erguia uma mansão de linhas modernas e elegantes, completamente diferente do apartamento apertado e mofado onde Helena passara os últimos anos.

Leonardo abriu a porta do carro para ela, oferecendo-lhe a mão.

Dessa vez, Helena não hesitou em segurá-la.

O toque era firme, quente, e enviou uma corrente elétrica pelo seu braço até o peito.

- Bem-vinda ao seu novo lar - disse ele, com aquela voz grave, tão controlada quanto sedutora.

Helena apenas assentiu, sem conseguir articular nenhuma palavra.

A fachada da casa era impressionante: grandes painéis de vidro refletiam a luz pálida da tarde, contrastando com as paredes de concreto aparente e madeira escura.

Leonardo a conduziu até a entrada e abriu a porta com um cartão magnético.

Helena mal teve tempo de absorver o design minimalista, o aroma sutil de madeira e flores frescas, quando ele disse:

- Esta é a sala principal.

O ambiente era amplo, com um pé-direito altíssimo. No centro, um sofá enorme em tons claros, tapetes persas, uma lareira moderna, e estantes repletas de livros que pareciam tão impecáveis quanto o homem à sua frente.

- Pode circular à vontade - continuou ele, com naturalidade. - A casa é sua agora também.

Helena andou lentamente pelo espaço, passando os dedos pelas lombadas dos livros, observando os quadros abstratos nas paredes e a escultura metálica que adornava o hall.

Tudo ali gritava luxo, sofisticação... e, ao mesmo tempo, uma frieza calculada.

Como ele.

- Não achei que você morasse em um lugar tão... vazio - comentou, mais para si do que para ele.

Leonardo a encarou, com aquele olhar que parecia penetrar até as camadas mais profundas da alma.

- Eu prefiro o silêncio - respondeu simplesmente.

Helena mordeu o lábio, tentando conter a vontade de fazer mais perguntas. Mas ele foi à frente, subindo uma escada de madeira clara que serpenteava pelo ambiente.

Ela o seguiu, admirada pela elegância contida dos movimentos dele.

- Aqui em cima ficam as suítes - disse, abrindo uma porta. - Este é o seu quarto.

Helena entrou e ficou sem ar.

O quarto era imenso, com uma parede de vidro que dava para o jardim interno, onde uma cerejeira florescia delicadamente, mesmo fora de época.

A cama, enorme, estava coberta por um edredom branco, macio como nuvens.

Ao lado, um closet de portas espelhadas e um banheiro digno de capa de revista, com banheira de hidromassagem e luminárias pendentes.

- Tudo isso... é pra mim? - perguntou, com incredulidade.

Leonardo cruzou os braços, apoiado no batente da porta.

- Claro.

Ela passou a mão pelo tecido da cama, como se precisasse se certificar de que aquilo era real.

Então virou-se para ele, hesitante:

- E você... onde vai ficar?

Ele sorriu, enigmático.

- No quarto ao lado.

Helena franziu o cenho.

- Não vamos...?

Ele se adiantou, aproximando-se até ficar a poucos centímetros dela.

O perfume amadeirado invadiu seus sentidos, e o coração acelerou.

Leonardo inclinou-se ligeiramente, murmurando:

- O contrato é claro, Helena. Nada de envolvimento físico, a menos que ambos queiramos.

Ela engoliu em seco, sentindo o calor invadir seu rosto.

- Claro...

Ele se afastou, com aquela elegância fria que parecia ser sua marca registrada.

- Jantar às oito. Vista algo formal. - E, antes que ela pudesse responder, acrescentou: - No closet, encontrará tudo que precisa.

E então saiu, deixando Helena sozinha, no meio daquele quarto de luxo que, de repente, era seu... mas que parecia tão distante quanto um cenário de filme.

Ela sentou-se na cama, olhando para o jardim, e pela primeira vez se deu conta do quanto sua vida havia mudado.

E de como aquele homem... já estava mexendo perigosamente com seu coração.

                         

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