Capítulo 4 O Primeiro Acordo

Capítulo 4: O Primeiro Acordo

O dia seguinte amanheceu cinzento, com a mesma névoa fria que parecia pairar sobre a mente de Helena.

Ela permaneceu sentada à mesa da pequena cozinha, as mãos envoltas em uma xícara de café já frio, encarando o nada, até ouvir o som seco de uma notificação no celular.

"Contrato pronto. Encontro às 14h, mesmo local."

Nenhuma saudação. Nenhum "bom dia".

Era como Leonardo: direto, objetivo... inegavelmente atraente, mesmo quando mantinha aquela distância gelada.

Helena fechou os olhos, inspirou fundo e se obrigou a levantar.

14h.

Mais uma vez, sua vida seria dividida entre um "antes" e um "depois".

•••

O elevador pareceu subir ainda mais devagar que na primeira vez.

Enquanto o andar se aproximava, Helena sentia o coração acelerar, as palmas das mãos suadas, a mente um caos.

Quando as portas se abriram, lá estava ele.

Leonardo.

Dessa vez, sem o terno azul-marinho, mas com uma camisa branca impecavelmente ajustada ao corpo e as mangas levemente dobradas, revelando os antebraços fortes e a elegância despretensiosa de quem nem precisa tentar para ser o centro de qualquer ambiente.

Ele estava sentado, folheando calmamente um grosso maço de papéis.

Ao vê-la entrar, ergueu o olhar e inclinou levemente a cabeça.

- Pontual. Gosto disso.

Helena esboçou um sorriso sem graça, mas não respondeu.

Ele fez um gesto para que ela se sentasse.

Sobre a mesa de vidro, o contrato repousava, com sua capa de couro preta, fria e imponente.

- Aqui está - disse Leonardo, empurrando o documento em sua direção.

Helena o encarou, respirando fundo, e então abriu a pasta.

Páginas e mais páginas de cláusulas.

Cada uma delas, uma nova linha invisível que a aprisionava naquela decisão.

Mas, ao mesmo tempo... uma linha que a separava da vida miserável que conhecia até então.

Leonardo observava cada movimento dela, como quem estuda o comportamento de um animal selvagem prestes a ser domado.

Helena percebeu e ergueu o olhar, desafiadora.

- Não está preocupado que eu desista?

Ele sorriu de canto, um sorriso discreto, quase imperceptível, mas que a fez estremecer por dentro.

- Não. Você não é do tipo que recua.

Helena franziu o cenho.

- Como pode ter tanta certeza? Mal me conhece.

Leonardo apoiou o queixo sobre a mão fechada e a encarou longamente antes de responder:

- Já observei o suficiente para saber quem você é.

Helena sentiu um calor estranho subir pelas bochechas e desviou o olhar, focando novamente nas folhas do contrato.

As cláusulas eram claras:

Duração: 12 meses.

Nenhum envolvimento emocional será esperado ou permitido.

Confidencialidade absoluta: ninguém poderia saber que se tratava de um acordo.

Respeito mútuo e preservação das aparências públicas: seriam um casal para o mundo.

Benefícios para Helena: um valor generoso depositado mensalmente, além de moradia, segurança e assistência completa.

E então, a última cláusula:

Rescisão unilateral resultará em multa milionária.

Helena soltou um suspiro trêmulo.

Leonardo se inclinou sobre a mesa, os olhos escuros como a noite:

- Alguma objeção?

Helena fechou a pasta lentamente, como quem aceita um destino, e ergueu o olhar, sustentando-o:

- Não.

Ele se recostou na cadeira, satisfeito.

- Ótimo.

Estendeu uma caneta prateada na direção dela.

Helena a pegou, pesando não apenas o objeto, mas tudo que ele representava.

Com um último olhar para o homem à sua frente - tão distante, tão inatingível - assinou.

Leonardo então pegou a caneta das mãos dela, roçando de leve seus dedos nos dela - um toque breve, mas que provocou uma descarga elétrica que ela tentou inutilmente ignorar - e também assinou.

Fechou a pasta com firmeza e soltou:

- Agora, somos marido e mulher.

Helena soltou uma risada nervosa.

- Não exatamente...

Leonardo arqueou uma sobrancelha.

- Aos olhos da lei... somos.

E então, como se fosse a coisa mais natural do mundo, levantou-se e disse:

- Venha.

- Aonde?

- Conhecer sua nova casa.

Helena ficou parada por um segundo, o corpo travado entre o medo e a curiosidade.

E então, como quem atravessa uma porta sem volta, levantou-se e o seguiu.

•••

O carro preto os esperava na porta do prédio.

Leonardo abriu a porta para ela, que hesitou, mas entrou.

Durante o trajeto, o silêncio se instalou como um terceiro passageiro.

Helena olhava pela janela, tentando decifrar a cidade que, apesar de familiar, agora parecia tão estranha.

- Está arrependida? - perguntou Leonardo de repente, quebrando o silêncio.

Helena virou-se lentamente para ele e respondeu, com mais sinceridade do que gostaria:

- Não sei.

Ele soltou um leve sorriso e voltou a olhar pela própria janela.

- É uma resposta honesta. Gosto disso.

Helena o observou por alguns segundos, estudando aquele perfil perfeito, a mandíbula forte, os cabelos escuros levemente desalinhados... e pensou, pela primeira vez:

Como seria... realmente ser a esposa dele?

            
            

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