Capítulo 2 Chuva

Já fazem três semanas que estou aqui internada, a enfermeira Nathalie, que virou minha amiga, veio aqui mais cedo ver como eu estava, ela comentou que provavelmente eu ganharia alta hoje mesmo.

Meu almoço chegou agora por um enfermeiro jovem e loiro, bonito, mas por um pequeno detalhe não faz o meu tipo, ele é pequeno no sentido literal, acho que ele é menor que eu.

A tarde o médico responsável pelo meu caso vem até o meu quarto hospitalar e me explica como estão meus exames, e sinceramente ainda sinto que fui pisoteada por um elefante, não, uma manada de elefantes. Ele me avisa de algumas precauções e me ensina a como trocar o curativo e como cuidar da ferida em minha barriga causada pelo acidente. Ao longo da tarde eu arrumo as minhas coisas pois já tinham me avisado que tinham informado ao Liam, meu irmão mais novo que eu ganhei alta e ele viria me buscar. Assim que saio do banheiro já pronta e arrumada, ouço a porta do meu quarto hospitalar ser aberta e logo o vejo.

- Não precisava ter se incomodado em ter vindo.

- Sou seu irmão, tenho o direito de estra preocupado com a sua saúde, além disso, você sabe que não é incomodo algum.

- Desde quando se preocupa com algo que não seja seu próprio umbigo ou a Katherine? - rio baixinho.

- Você sabe que não é assim Emma, não sei porque insiste em implicar com ela.

Vejo o carro dele no estacionamento assim que fazemos meu checkout na recepção do hospital, suspiro levemente implorando para que ela não esteja lá. Não é que eu não ame o meu irmão, eu o amo, e muito, o problema é a Katherine, a namorada dele, ninguém da nossa família aprova este relacionamento por causa dela que já se mostrou descaradamente interesseira no dinheiro dele, este é o seu único motivo para ela estar com ele, somente o Liam não percebe o que ela trama pelas costas dele, pronta para apunhala-lo a qualquer momento e isto é óbvio.

- Vamos, vou te levar para a sua casa.

- Se insiste tanto nisso.

- Você querendo ou não, eu sou o seu irmão, sempre vou me preocupar com você e com o Noah porque amo vocês.

- Você é o mais novo de nós três, não deveria ter este "fardo".

- Não é fardo, Emma. É amor.

Sorrio levemente com seu comentário.

- Vamos, entre no carro, maninha, não quero que pegue um resfriado aqui na rua.

Rio baixinho e entro no carro dele e o mesmo entra logo em seguida se sentando em frente ao volante.

- Conheci uma enfermeira, ela é bonita e educada - falo enquanto coloco o cinto de segurança.

- Não começa - ele dá a partida no carro fazendo o motor roncar um pouco.

Ele dirige em silêncio e eu fico pensando em como fazer ele enxergar como a sua namorada é realmente interesseira, e eu não estou errada, eu só quero a felicidade e segurança do meu irmão, é o mínimo que posso querer dele, não é?

- Nathalie.

- O que?

- O nome da enfermeira que te falei, Nathalie Dalson.

- Emma...

- Só pensa no assunto, ela é legal, quero que tenha alguém a quem nossa família aprove quando você cair na real e perceber o quão grande erro é namorar a Katherine.

Escuto ele soltar um longo suspiro.

- Eu só comentei, assim como você fica preocupado com a minha saúde e felicidade, eu me preocupo com a sua vida amorosa - levanto minhas mãos em sinal de rendição.

- Sabe que eu estou com a Katherine, Emma. Sinceramente, não sei o que vocês tem contra ela.

- Como falar não basta, eu vou ter que filmar para provar que estamos certos em não gostar e aceitar essa mulherzinha de segunda na família.

Ele revira seus olhos mel.

- Tá, mas eu tenho certeza de que eu conheço minha namorada muito bem. Mas tem que me prometer que vai deixar ela em paz se eu estiver certo.

- Tudo bem, eu prometo.

Liam me deixa em casa minutos depois, ele me ajuda a pegar minha mala na parte traseira do carro e a colocá-las dentro da minha casa, meu mordomo me ajuda a carregá-las para o meu quarto no andar de cima enquanto o meu irmão tomava um copo de água na cozinha.

Ouço uma batida na porta do meu quarto.

- Entra.

- Eu só vim me despedir, tenho uma reunião as sete, eu liguei para o Noah e ele já está chegando, combinamos de que como o médico falou que você tinha que ficar de repouso sobre observação durante dois meses, eu vou dormir aqui nas terças, quartas, sextas e domingos e o Noah vai ficar nos outros dias.

- Minha casa agora virou hotel por acaso? - rimos - Eu sei me cuidar e...

- Não adianta reclamar, já foi decidido por mim, pelo Noah, pela mamãe e pelo papai.

O silêncio paira no ar por alguns minutos que se passam como horas, olho no fundo dos olhos dele e vejo a pena que ele sente por mim, como se eu tivesse capotado o meu carro de propósito para tentar dar um fim a minha vida, algo que eu sei que não fiz, eu... não fiz...

- Você sabe que não fiz isso de propósito, não é?

- Eu sei disso, mas mesmo assim, você é a nossa família, Emma.

- Eu não sou fraca, Liam...

- Ninguém falou que você é fraca.

- Então porque parece que é a forma como me enxerga?...

- Porque está falando isso do nada? Hein?

- Eu quero deixar claro que eu não sou esse tipo de pessoa que você está imaginando.

Ouço ele suspirar de forma pesada, como se o mundo a nossa volta estivesse o sugando para dentro após o que eu falei.

- O Noah já vai chegar, tá bom? Seja simpática com os seus irmãos, pestinha - ele fala tentando descontrair.

- Emma.

- O que?

Vejo ele me olhar profundamente, como se através de seu olhar pudesse enxergar minha alma e ler meus pensamentos, isso faz meu corpo se arrepiar por inteiro como um calafrio.

Eu sabia que naquele olhar cansado, ele falava tudo que não conseguia verbalizar no momento, talvez por respeito, talvez por medo de me "quebrar" por completo achando que sou uma mera boneca de porcelana rachada.

- Eu te amo...

- Eu também te amo, Liam.

Ele dá um leve e curto sorriso, como se fosse só o fantasma de seus lábios se curvando como para me reconfortar de algo, só volto a realidade quando sinto sua boca encostar na minha testa por alguns poucos segundos e logo em seguida se despede e vai embora.

Não demora muito para o Noah chegar, o filho mais velho que herdou boa parte da beleza da nossa mãe, musculoso, com uma tatuagem de uma bússola que ocupa seu antebraço direito, alto como o nosso pai, com cabelos louros escurecidos encaracolados cortados no estilo mullet mais discreto, seus olhos cor de mel penetrando minha pele, fazendo facilmente qualquer mulher a sua mercê, mesmo sendo um nerdinho completamente romântico e obcecado por culinária.

- Imagino que o Liam já tenha te falado sobre o "cronograma".

- Já sim.

- Você sabe que estamos fazendo tudo isso só para o seu bem, não sabe?

- Sei, Noah.

- Hum... Se troque, vamos tomar um ar.

- Mas eu acabei de chegar.

- E você é uma múmia por acaso para não querer sair do sarcófago? - Ele fala com ironia.

- Você é tão gentil, maninho - Falo devolvendo sua ironia por completo.

- Eu sei, é um dom natural - ele se gaba brincando - Tá, agora faça favor de tirar essa bunda da cama e se trocar, vamos jantar fora.

- Onde?

- Em qualquer lugar, eu pago.

- Ai... tá parecendo que é meu namorado.

- Não fale uma besteira dessas, Emma, quer que minha vida seja um pesadelo.

- Besta.

Caímos na gargalhada juntos.

- Me ajuda a me vestir? Minha cintura ainda está enfaixada, não consigo me mover muito.

- Claro que te ajudo, irmãos são para isso.

Sorrio e vou até o meu armário onde encontro uma blusa preta de manga comprida não tão justa, um cinto fino branco e uma calça jeans larga no estilo cargo, pego meu casaco sobretudo preto grosso por estar um pouco frio na rua e vou até o Noah que me ajuda me ajuda a vestir as peças de roupa.

- Obrigada.

- De nada, Emma - ele fala enquanto coloca um cachecol quentinho em volta do meu pescoço - Não quero que a minha irmã mais nova que praticamente vi nascer e cuidei desde os primeiros meses de vida, por nossos pais estarem sempre ocupados com o trabalho, adoecer novamente - ele acaricia o meu rosto, seu sorriso mais doce do que algodão doce me fazendo sorrir também.

- Onde vamos ir?

- Cinema, parque, onde você quiser ir, maninha.

- Se for assim, eu quero ir naquele mesmo parque de diversão que fomos da última vez antes de jantarmos - sorrio animada.

Ele ri docemente.

- Então vamos lá, já sabe em qual brinquedo vai querer ir primeiro?

- Montanha russa! - rio.

- Tem certeza?

- Tenho - sorrio.

- Não faz ideia do quanto me assustou você ter sofrido aquele acidente, Emma.

- Bom, eu estou bem agora.

- Isso é bom, não sei o que eu faria se perdesse você, maninha...

- Cai entre nós, você é o meu irmão favorito, Noah - rimos juntos - só não conta para o Liam, sabe como ele é.

- Ciumento com tudo e todos.

- Exatamente - rio.

O dia foi incrível, nos divertimos muito no parque de diversões, e o jantar estava divino, sinceramente, ainda não sei como o Noah não está namorando, mesmo com tantas pretendentes apaixonadas por ele, mas uma coisa eu sei, eu ainda vou ser tia de um filho dele.

Como explicar? O Noah é uma pessoa boa, é rico, carinhoso, caloroso, gentil, responsável, inteligente, bonito e fofo se não fosse meu irmão, acho que seria mais uma das milhares de mulheres que se dedicama fazer até serenata para ele.