Capítulo 2 Dois

- Você já esta há três meses aqui, quando vai embora? - Gabriel olhou pra cima, para sua irmã de 12 anos, Sofia, com uma mão na cintura, o olhando com completo desprazer.

- Eu fiquei três anos fora irmãzinha, achei que estava com saudade de mim. - ele disse abaixando a cabeça com um sorriso de lado, voltando a ler o jornal. Estavam no jardim da casa que moravam na cidade, e Gabriel desfrutava do sol da manhã, gostava daquelas horas do dia, onde podia ficar sem o paletó, tomar um suco, sentar na cadeira de área da casa e ler o jornal.

- Eu estava, mas já não estou mais, passou em dois dias. - ela bufou, sentando em outra cadeira - Quando você vai ir se casar?

Gabriel abaixou o jornal - Como você sabe sobre isso?

- Meus ouvidos são pequenos mas eu escuto muito bem. O primo Antônio morreu, e você voltou, e toda aquela conversa de casamento, só pode ser pra você porque eu não tenho idade pra isso.

Ele a olhou, quando tinha ficado tão esperta? Deu de ombros - Bom, eu não vou me casar, posso até pegar o título, e a propriedade, mas a esposa não.

- Porque não? Dizem que ela é bonita.

- Você não viu nenhuma dama da Inglaterra...

- Você tem que casar, esta ficando velho. - ela soltou.

- Não vou me casar, e não estou ficando velho.

- Esta sim, ou esta fazendo aquilo que a Mariana disse, sobre os homens terem que ter sido forçados a casar, por causa de algum escândalo ou algo assim. Ela disse que os homens são inaptos a sentir amor. Mas você me ama, não me ama?

- Sim, eu amo - ele respondeu voltando a atenção ao jornal.

- Então você não esta inapto ao amor, pode se casar.

- Casamento não é só por amor Sofia. - ele largou o jornal outra vez - E acho que você e Lady Mariana estão tendo conversas muito inapropriadas pra idade de vocês...

- Eu não acho, se vou me casar um dia, prefiro saber de tudo agora, e não seria ruim sabe, você se casar, talvez tirasse essa sua acidez da cara.

- O que?

- Sua cara azeda! Você tem cara de que chupou um limão, o teeeeeeeeeempo todo - ela falou rolando os olhos.

- Não tenho não! - retrucou a irmã. Tinham mais de dez anos de diferença e brigavam como duas crianças. Se levantou, jogando o jornal na cadeira e entrando na casa, parou em um espelho e olhando seu rosto.

Passou a mão na linha mandibular marcada, os lábios finos, o nariz pontudo mas dentro do normal, os olhos verdes, iguais os da mãe, os cabelos escuros, pretos, iguais os do pais, os ombros largos, a barba por fazer, dando um charme a mais em seu rosto. Ele não tinha uma cara azeda. - Argh - ele disse a si mesmo e foi andando ate o quarto.

- Gabriel - ouviu o pai dizer quando subia os primeiros degraus da escada, ele virou, com um sorriso no rosto - seu prazo já acabou.

- Não sabia que era tão apegado a datas assim meu pai - ele disse descendo de novo a escada e indo em direção ao pai.

- Você precisa ir a Mansão Lohan, já faz três meses.

- Pai... - ele fez uma careta.

- Sabe-se lá como estão as contas de lá Gabriel, você foi a Inglaterra para estudar, para administrar, infelizmente essa fatalidade aconteceu, mas te deu a oportunidade de ter um titulo maior, você vai dispensar isso?

- Quando tem uma esposa no meio, sim, eu dispenso - ele disse virando de costas e indo em direção as escadas novamente.

- Gabriel, a viscondessa é uma Lady incomparável...

- Ah mas eu tenho certeza que é.

- Qual o problema então?

- Eu não a escolhi, me recuso a casar pra substituir meu primo, me recuso a ocupar um lugar que não era pra ser meu, tanto em uma casa, em um titulo, e principalmente em um coração. - disse mais forte.

Seu se endireitou - Sinto muito Gabriel, mas seu prazo acabou, precisa ir.

Ele riu - Ou o que? Vai me expulsar de casa?

- Sim.

Gabriel ficou sem reação - Não teria coragem...

- Você tem uma família para honrar, sabe quantas oportunidades Sofia teria com você se tornando Visconde? Sabe as portas que se abririam pra você? Você ainda pode continuar vivendo a vida de libertinagem que quiser, só precisa ter um filho, só isso!

Gabriel riu novamente - Parece bem simples pro senhor não é? Só um filho... tudo bem meu pai, não precisa me expulsar, eu mesmo saio, eu não preciso ficar aqui, afinal, tenho uma profissão, posso me sustentar, não preciso ser visconde, não preciso do dinheiro e definitivamente não preciso ser substituto de ninguém.

Ele subiu as escadas, refazendo as malas que fez quando veio da Inglaterra, enfiando tudo sem nenhuma noção de etiqueta. Depois saiu como um raio de dentro da casa, pedindo um coche de aluguel, que o levou ate uma pousada onde alugou um quarto com algum dinheiro que tinha juntado.

Tinha 25 anos, passado os últimos 5 na Inglaterra estudando, porque queria fugir do pai, fugir da imposição de ser obrigado a fazer o que ele queria. A mãe morreu no parto da irmã, ele sabia que devia muito a ela, pela educação dela, pelo futuro dela. E ele conhecera Antônio, o primo falecido, tinham sido amigos antes dele ir estudar.

Porque ele não poderia simplesmente herdar o titulo e organizar as finanças e deixar a esposa do falecido primo em paz? Tinha certeza de que a mulher devia estar em sofrimento...

Naquela tarde ele alugou um cavalo. Não era uma cavalgada muito longa até a propriedade do visconde, talvez quarenta minutos. E era linda, ate de longe, quando ele começara a ver, era linda... mesmo com o tempo fechado, as nuvens carregadas, dando um sentimento mórbido a propriedade, era linda.

Deu algumas voltas por ali, apenas por curiosidade, iria embora antes que começasse a chover, mas não conseguiu fugir da chuva. E antes que pudesse continuar encontrou outro cavalo, e uma mulher caída no chão, ensopada e desacordada.

            
            

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