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Caio Vasconcellos estava sentado em seu escritório, rodeado por monitores que exibiam imagens de câmeras de segurança, relatórios, e mensagens anônimas. A luz fria da madrugada invadia o ambiente, acentuando o contraste com sua expressão tensa e focada. A ameaça havia se tornado mais concreta, mais próxima. Cada movimento de Helena agora era vigiado, cada gesto analisado como uma possível peça de um jogo maior que ele ainda não compreendia totalmente.
Desde o vídeo que recebeu na noite anterior, Caio não havia dormido. Seu corpo parecia funcionar apenas com um combustível chamado raiva e preocupação - uma mistura explosiva que o impulsionava a ir além do que jamais imaginara.
Marcos, seu braço direito, já havia acionado contatos nos bastidores para descobrir quem poderia estar por trás daqueles recados. Caio queria uma resposta rápida, uma solução definitiva para acabar com aquilo antes que sua imagem desmoronasse.
- Tudo que conseguimos até agora - explicou Marcos, já exausto - são ligações interceptadas que terminam em becos sem saída. É alguém com acesso profundo, ou muito cuidadoso.
Caio assentiu, sem paciência para a demora.
- Quero reforçar a segurança. E preciso que nenhum detalhe sobre o casamento chegue à imprensa. Nada, nem um rumor.
- Já desligamos as fontes que vazavam informações. A imprensa está cansada do tema.
Caio deu um leve sorriso, mais cínico que aliviado.
- Então está na hora de mostrar quem manda.
Enquanto isso, Helena tentava juntar os pedaços de sua própria sanidade. A distância crescente entre eles, o silêncio que invadia a casa, e a hostilidade fria de Caio a deixavam cada vez mais perdida.
Naquele dia, ela tinha uma reunião para apresentar seu primeiro livro - uma obra que havia escrito em segredo, um desejo antigo que tentava manter vivo apesar do casamento vazio.
Vestida com um tailleur discreto, Helena cruzou o hall do prédio de eventos. Foi recebida com olhares de curiosidade e um convite para começar a sessão de autógrafos.
Por dentro, ela estava ansiosa, mas também determinada. Precisava mostrar que não era apenas a esposa do CEO famoso. Tinha uma identidade própria, uma voz que merecia ser ouvida.
Ao fim da sessão, enquanto assinava um exemplar para uma jovem fã, seu celular vibrou com uma mensagem anônima:
"Eles não querem que você exista. Cuidado."
Helena engoliu em seco.
De volta ao apartamento, Caio chegou tarde, com o olhar mais sombrio do que nunca.
- Onde esteve? - perguntou, direto, sem a usual cortesia.
- No lançamento do meu livro - respondeu ela, firme, tentando manter a compostura.
Ele jogou a bolsa em um canto e caminhou até a janela, observando a cidade.
- Você acha que pode simplesmente viver sua vida enquanto eu lido com o inferno lá fora?
- Não estou fugindo da minha parte - disse ela, irritada. - Mas você não pode me tratar como se eu fosse o inimigo.
Caio deu um passo atrás, respirou fundo e falou com voz baixa, quase um sussurro.
- Eu só estou tentando proteger o que construí.
- Mas me machucando no processo.
Ele virou as costas e deixou a sala, encerrando o assunto.
Nos dias seguintes, a tensão só aumentou. Caio passou a rondar Helena com perguntas secas, observando seus passos, cobrando explicações para cada ausência dela.
Para Helena, o contrato que antes parecia apenas um acordo formal, começou a se transformar em uma prisão invisível. Ela sentia as paredes se fechando, a falta de liberdade aumentando.
Em uma manhã chuvosa, decidiu que precisava entender melhor a ameaça que pairava sobre eles.
Vasculhou o celular e o computador, procurando pistas, até que encontrou um e-mail apagado da caixa de entrada, um único recado:
"Sua vida é um jogo. E você ainda não sabe as regras."
Assustada, decidiu que precisava contar para Caio, mas ao chamá-lo para conversar, ele respondeu com um olhar duro e uma palavra:
- Não.
No escritório de Caio, a situação também não melhorava. O desaparecimento do segurança, a escalada das ameaças e o mistério em torno da verdadeira identidade do inimigo mexiam com seu equilíbrio.
Ele mal conseguia se concentrar no trabalho, as noites em claro deixando-o cada vez mais irritado e distante.
Um dia, recebeu uma ligação misteriosa:
- Caio, você está brincando com fogo. Pare antes que seja tarde.
A voz do outro lado era distorcida, mas a mensagem clara.
- Nunca se faça de vítima - respondeu Caio, a voz cortante - Eu mando no meu destino.
A linha caiu.
Naquele mesmo dia, Helena decidiu procurar ajuda. Marcou uma consulta com um terapeuta, algo que antes jamais consideraria necessário.
Ao entrar no consultório, sentiu um misto de alívio e medo.
- Não sei mais quem sou - confessou para o profissional. - Vivo sob uma sombra constante. Meu marido é... distante, frio, agressivo. E eu não entendo por quê.
O terapeuta ouviu com atenção, fazendo perguntas suaves.
- Você já tentou conversar abertamente com ele?
- Sim. Mas tudo que recebo é desprezo e desconfiança.
Ela abaixou o olhar, as lágrimas ameaçando escapar.
- Estou presa em um casamento que é só fachada, mas que está me destruindo por dentro.
De volta à cobertura, naquela noite, Helena recebeu uma visita inesperada.
Marcos apareceu na porta, pedindo para falar a sós.
- A senhora não sabe, mas eu estou do seu lado - disse ele, em tom sério. - Sei que o senhor Vasconcellos tem sido difícil, mas a ameaça é real. E está muito próxima.
Helena o encarou, desconfiada.
- Por que me contar isso?
- Porque eu não gosto de ver ninguém sofrendo por um jogo que não entende. E porque o senhor Caio está sozinho nessa batalha.
Eles conversaram por horas. Marcos revelou detalhes sobre a investigação, sobre as pistas que tinham e sobre as pessoas que podiam estar envolvidas.
Helena sentiu que, pela primeira vez, não estava sozinha.
Nos dias que se seguiram, uma aliança silenciosa se formou entre Helena e Marcos. Ela começou a ajudar a reunir informações, usando contatos do meio literário e dos eventos sociais que frequentava.
Caio, embora desconfiado, permitiu que Marcos se aproximasse dela, pois sabia que precisava de todas as forças disponíveis.
Porém, o clima entre ele e Helena continuava tenso, carregado de mágoas não ditas e medo do futuro.
Numa noite, enquanto vasculhava antigos arquivos da Vasconcellos Corp em busca de algo suspeito, Helena encontrou documentos que indicavam que o problema ia além de simples ameaças. Havia interesses financeiros obscuros ligados a parceiros de negócio da empresa, e até contratos que jamais deveriam ter sido assinados.
Ela levou a papelada para Marcos, que confirmou: aquilo era uma bomba prestes a explodir.
No dia seguinte, Caio chegou em casa com os olhos vermelhos de cansaço.
- Temos uma crise maior do que imaginávamos - admitiu.
- Eu sei - respondeu Helena, decidida. - Descobri documentos que podem explicar tudo.
Pela primeira vez em semanas, eles conversaram como parceiros, com um objetivo comum.
Mas o medo e a desconfiança continuavam rondando os seus passos.