Capítulo 5 Próprios fantasmas

O relógio marcava quase meia-noite quando Helena finalmente desligou o computador, exausta. As pilhas de documentos e contratos espalhados pela mesa da sala mostravam o quanto ela havia se empenhado em entender a teia de segredos e interesses que cercava Caio Vasconcellos, seu marido e CEO renomado. Ela sabia que havia muito mais por trás das ameaças e do clima frio que invadia o casamento deles.

Nos últimos dias, Helena tinha se aproximado de Marcos, braço direito de Caio e um dos poucos em quem podia confiar naquele momento. Mas a relação entre eles era estritamente profissional. Marcos era um aliado, um guardião silencioso que entendia a gravidade da situação e que também, em silêncio, desejava evitar que Helena se perdesse nesse jogo de poder e sombras.

Logo cedo naquela manhã, Helena recebeu uma ligação de Marcos.

- Senhora Martins? Podemos nos encontrar na sede? Precisamos discutir alguns detalhes sobre as últimas informações que conseguimos.

- Claro, Marcos. Estarei aí em uma hora.

Eles se encontraram numa sala reservada do prédio principal da Vasconcellos Corp. Marcos trouxe um arquivo atualizado, relatando os últimos avanços na investigação.

- Os documentos que você encontrou são parte de algo maior. Há pessoas de dentro da empresa envolvidas. Contratos suspeitos, movimentações financeiras estranhas... - explicou Marcos, olhando Helena com seriedade. - O desaparecimento do segurança pode estar conectado a isso tudo.

Helena respirou fundo. A situação era muito mais complexa do que imaginava.

- Preciso entender como ajudar - disse ela, determinada.

- Por enquanto, mantenha a discrição. Caio está cada vez mais isolado, e ele próprio não sabe em quem confiar.

Enquanto Helena se dedicava às pesquisas e às reuniões discretas com Marcos, Caio imergia em seu próprio mundo. O frio que exalava ao tratar Helena só aumentava. Ele não queria se envolver emocionalmente, não naquele momento. O casamento era uma fachada - mas uma fachada que ele precisava preservar a qualquer custo.

Naquela semana, as tensões entre eles chegaram ao limite.

Certa noite, Caio voltou para casa mais tarde que o habitual. Helena estava no sofá, mexendo no tablet, olhos fixos na tela.

- Podemos conversar? - perguntou ela, sem levantar.

Caio hesitou, depois cruzou os braços.

- Sobre o quê?

- Sobre nós... ou melhor, sobre o que estamos fazendo com isso tudo.

Ele riu, mas sem alegria.

- Nós não somos um 'nós'. Lembra? Só estamos cumprindo um contrato.

Helena mordeu o lábio, tentando segurar as lágrimas.

- Mas poderia ser menos frio. Ou você acha que isso ajuda?

- A ajuda é que eu não virei piada. Não quero ser chamado de corno, Helena. Isso sim me importa.

Ela engoliu a mágoa.

- E eu? Onde fico nisso tudo?

Ele virou as costas.

Nos dias seguintes, Caio tornou-se ainda mais distante e ríspido. Perguntava onde Helena estava, com quem falava, mas não aceitava explicações. Suas dúvidas transformaram-se em acusações veladas.

- Você não me contou sobre aquela reunião ontem à noite - disse ele em um jantar silencioso.

- Não achei que precisava - respondeu ela, impaciente.

- Precisa. Ou vai começar a parecer que tem algo a esconder.

Helena o encarou, sentindo o peso daquelas palavras. O casamento que deveria ser um contrato simples começava a desmoronar sob a pressão das mentiras e suspeitas.

Enquanto a investigação avançava, Marcos compartilhava com Helena as informações que conseguia, sempre mantendo distância para não ultrapassar os limites do profissional.

- Quero que saiba que não existe nada entre nós - disse Marcos certa vez, durante uma reunião. - Apenas quero proteger você e ajudar o Caio a sair dessa situação.

Helena sorriu, aliviada. Em meio à tempestade que enfrentava, pelo menos tinha um aliado confiável.

Certa tarde, Helena recebeu uma mensagem anônima que a fez congelar.

Era uma foto dela entrando em um café com uma mulher desconhecida, acompanhada da legenda:

"Cuidado com quem você chama de amigo."

Ela sentiu um arrepio na espinha. Quem poderia estar observando-a tão de perto? E por quê?

Helena tentou falar com Caio sobre isso, mas ele respondeu com desdém.

- Essas ameaças não vão nos derrubar. Mas se você começar a se meter onde não deve, pode acabar piorando tudo.

A frieza dele cortou mais fundo do que qualquer ameaça anônima.

Em uma noite chuvosa, Helena encontrou Marcos no saguão da empresa.

- Está tudo bem? - ele perguntou, percebendo seu rosto tenso.

- Não sei mais em quem confiar. Parece que querem me destruir - confessou ela.

- Então não podemos deixar que isso aconteça.

Com a voz firme, Marcos se ofereceu para ajudar a proteger Helena e apoiar na investigação, deixando claro que não havia espaço para qualquer coisa além de amizade e respeito.

Enquanto isso, Caio seguia sua própria batalha interna. A pressão da empresa, das ameaças, e do casamento que já não era apenas um contrato, o consumiam.

Uma noite, após uma série de telefonemas frustrados, ele voltou para casa exausto.

Encontrou Helena lendo no sofá, o rosto iluminado pelo tablet.

- Preciso que saiba - disse ele, com a voz rouca - que, mesmo com tudo, ainda quero que isso funcione.

Helena olhou para ele surpresa.

- Então por que é tão difícil?

Ele não respondeu.

Nos dias que se seguiram, as tensões continuaram. A confiança havia sido quebrada, e nem mesmo as tentativas de comunicação conseguiam reparar os danos.

No meio de tudo, Helena descobriu uma pista importante nos documentos que analisava: havia contratos assinados que favoreciam sócios obscuros e moviam grandes somas para destinos desconhecidos.

Ela levou a papelada para Marcos, que confirmou: estavam diante de uma conspiração que poderia abalar toda a Vasconcellos Corp.

O capítulo termina com Helena e Caio, cada um em seus pensamentos, enfrentando seus próprios fantasmas.

Eles estavam presos num casamento de fachada, mas que começava a cobrar um preço muito real.

E a ameaça invisível continuava à espreita, pronta para atacar no momento mais inesperado.

                         

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