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O relógio marcava quase meia-noite quando Helena finalmente desligou o computador, exausta. As pilhas de documentos e contratos espalhados pela mesa da sala mostravam o quanto ela havia se empenhado em entender a teia de segredos e interesses que cercava Caio Vasconcellos, seu marido e CEO renomado. Ela sabia que havia muito mais por trás das ameaças e do clima frio que invadia o casamento deles.
Nos últimos dias, Helena tinha se aproximado de Marcos, braço direito de Caio e um dos poucos em quem podia confiar naquele momento. Mas a relação entre eles era estritamente profissional. Marcos era um aliado, um guardião silencioso que entendia a gravidade da situação e que também, em silêncio, desejava evitar que Helena se perdesse nesse jogo de poder e sombras.
Logo cedo naquela manhã, Helena recebeu uma ligação de Marcos.
- Senhora Martins? Podemos nos encontrar na sede? Precisamos discutir alguns detalhes sobre as últimas informações que conseguimos.
- Claro, Marcos. Estarei aí em uma hora.
Eles se encontraram numa sala reservada do prédio principal da Vasconcellos Corp. Marcos trouxe um arquivo atualizado, relatando os últimos avanços na investigação.
- Os documentos que você encontrou são parte de algo maior. Há pessoas de dentro da empresa envolvidas. Contratos suspeitos, movimentações financeiras estranhas... - explicou Marcos, olhando Helena com seriedade. - O desaparecimento do segurança pode estar conectado a isso tudo.
Helena respirou fundo. A situação era muito mais complexa do que imaginava.
- Preciso entender como ajudar - disse ela, determinada.
- Por enquanto, mantenha a discrição. Caio está cada vez mais isolado, e ele próprio não sabe em quem confiar.
Enquanto Helena se dedicava às pesquisas e às reuniões discretas com Marcos, Caio imergia em seu próprio mundo. O frio que exalava ao tratar Helena só aumentava. Ele não queria se envolver emocionalmente, não naquele momento. O casamento era uma fachada - mas uma fachada que ele precisava preservar a qualquer custo.
Naquela semana, as tensões entre eles chegaram ao limite.
Certa noite, Caio voltou para casa mais tarde que o habitual. Helena estava no sofá, mexendo no tablet, olhos fixos na tela.
- Podemos conversar? - perguntou ela, sem levantar.
Caio hesitou, depois cruzou os braços.
- Sobre o quê?
- Sobre nós... ou melhor, sobre o que estamos fazendo com isso tudo.
Ele riu, mas sem alegria.
- Nós não somos um 'nós'. Lembra? Só estamos cumprindo um contrato.
Helena mordeu o lábio, tentando segurar as lágrimas.
- Mas poderia ser menos frio. Ou você acha que isso ajuda?
- A ajuda é que eu não virei piada. Não quero ser chamado de corno, Helena. Isso sim me importa.
Ela engoliu a mágoa.
- E eu? Onde fico nisso tudo?
Ele virou as costas.
Nos dias seguintes, Caio tornou-se ainda mais distante e ríspido. Perguntava onde Helena estava, com quem falava, mas não aceitava explicações. Suas dúvidas transformaram-se em acusações veladas.
- Você não me contou sobre aquela reunião ontem à noite - disse ele em um jantar silencioso.
- Não achei que precisava - respondeu ela, impaciente.
- Precisa. Ou vai começar a parecer que tem algo a esconder.
Helena o encarou, sentindo o peso daquelas palavras. O casamento que deveria ser um contrato simples começava a desmoronar sob a pressão das mentiras e suspeitas.
Enquanto a investigação avançava, Marcos compartilhava com Helena as informações que conseguia, sempre mantendo distância para não ultrapassar os limites do profissional.
- Quero que saiba que não existe nada entre nós - disse Marcos certa vez, durante uma reunião. - Apenas quero proteger você e ajudar o Caio a sair dessa situação.
Helena sorriu, aliviada. Em meio à tempestade que enfrentava, pelo menos tinha um aliado confiável.
Certa tarde, Helena recebeu uma mensagem anônima que a fez congelar.
Era uma foto dela entrando em um café com uma mulher desconhecida, acompanhada da legenda:
"Cuidado com quem você chama de amigo."
Ela sentiu um arrepio na espinha. Quem poderia estar observando-a tão de perto? E por quê?
Helena tentou falar com Caio sobre isso, mas ele respondeu com desdém.
- Essas ameaças não vão nos derrubar. Mas se você começar a se meter onde não deve, pode acabar piorando tudo.
A frieza dele cortou mais fundo do que qualquer ameaça anônima.
Em uma noite chuvosa, Helena encontrou Marcos no saguão da empresa.
- Está tudo bem? - ele perguntou, percebendo seu rosto tenso.
- Não sei mais em quem confiar. Parece que querem me destruir - confessou ela.
- Então não podemos deixar que isso aconteça.
Com a voz firme, Marcos se ofereceu para ajudar a proteger Helena e apoiar na investigação, deixando claro que não havia espaço para qualquer coisa além de amizade e respeito.
Enquanto isso, Caio seguia sua própria batalha interna. A pressão da empresa, das ameaças, e do casamento que já não era apenas um contrato, o consumiam.
Uma noite, após uma série de telefonemas frustrados, ele voltou para casa exausto.
Encontrou Helena lendo no sofá, o rosto iluminado pelo tablet.
- Preciso que saiba - disse ele, com a voz rouca - que, mesmo com tudo, ainda quero que isso funcione.
Helena olhou para ele surpresa.
- Então por que é tão difícil?
Ele não respondeu.
Nos dias que se seguiram, as tensões continuaram. A confiança havia sido quebrada, e nem mesmo as tentativas de comunicação conseguiam reparar os danos.
No meio de tudo, Helena descobriu uma pista importante nos documentos que analisava: havia contratos assinados que favoreciam sócios obscuros e moviam grandes somas para destinos desconhecidos.
Ela levou a papelada para Marcos, que confirmou: estavam diante de uma conspiração que poderia abalar toda a Vasconcellos Corp.
O capítulo termina com Helena e Caio, cada um em seus pensamentos, enfrentando seus próprios fantasmas.
Eles estavam presos num casamento de fachada, mas que começava a cobrar um preço muito real.
E a ameaça invisível continuava à espreita, pronta para atacar no momento mais inesperado.