Sofia: O Recomeço Implacável
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Capítulo 1

O ecrã do telemóvel iluminou-se com a notificação.

Resultados dos Exames Nacionais disponíveis.

O meu coração parou.

Este dia.

Eu lembrava-me deste dia.

As memórias da minha vida passada invadiram-me, nítidas e dolorosas. Tiago. Miguel. Beatriz.

Traições. Sofrimento. Morte.

Não.

Desta vez não.

Agarrei o telemóvel, os dedos a tremer.

Sabia o que tinha de fazer.

A média era alta, a melhor do agrupamento. Na vida anterior, Coimbra tinha sido o destino, um destino partilhado com eles os três.

Um erro.

Procurei o contacto da professora Helena Silva, a minha antiga professora de Artes Visuais, a única que verdadeiramente viu o meu talento.

"Professora Helena? É a Sofia Almeida."

A voz dela soou calorosa do outro lado.

"Sofia! Que surpresa boa! A ligar para celebrar as notas, imagino?"

"Sim, professora. Mas também para lhe pedir um favor enorme. Uma mudança de última hora."

Expliquei-lhe. Design de Moda. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. FBAUL.

Houve um silêncio.

"Lisboa? Design de Moda?" A surpresa dela era palpável. "Com a tua média, Sofia? Pensei que irias para algo mais... académico."

"É o meu sonho, professora. Sempre foi. Só agora tive coragem."

Uma mentira. A coragem vinha do desespero, da necessidade de fugir.

Ela acabou por ceder, prometendo ajudar com a alteração da candidatura. Desliguei, o alívio a misturar-se com uma frieza nova que se instalava em mim.

Ao descer as escadas, ouvi vozes animadas na sala.

Tiago Ferraz. Miguel Santos. Beatriz Costa.

Lá estavam eles, a prepararem uma "festa surpresa" para celebrar as "nossas" notas.

Os meus amigos de infância. Os meus futuros maridos. Os homens que se sacrificariam por ela.

Beatriz, a minha "melhor amiga". A víbora.

"Sofia!" Beatriz correu a abraçar-me, o sorriso falso a brilhar. "Parabéns! Sabíamos que ias arrasar!"

Tiago e Miguel sorriam, os olhos brilhantes. Por mim? Ou pela perspetiva de Coimbra, mais perto dela?

O meu telemóvel tocou novamente. Professora Helena.

"Sofia, querida, tenho más notícias." A voz dela estava carregada de consternação. "Ligas-me da escola. A tua nomeação para o discurso de honra na cerimónia de finalistas... foi alterada."

Senti um arrepio. Já sabia.

"Alterada para quem, professora?"

"Para a Beatriz Costa. Parece que houve uma... 'sugestão' de dois benfeitores importantes da escola."

Os pais de Tiago e Miguel. Claro. As suas influências já começavam a mover os cordelinhos.

"Compreendo, professora. Não se preocupe."

"Mas Sofia, é uma injustiça! Tu merecias!"

"Está tudo bem." A minha calma pareceu perturbá-la. "Obrigada por me avisar."

Desliguei.

Olhei para os três. Beatriz exibia um triunfo mal disfarçado. Tiago e Miguel pareciam satisfeitos.

Na minha vida passada, chorei. Implorei. Senti-me traída.

Agora, sentia apenas um vazio gelado e uma determinação férrea.

A festa deles era uma farsa. A amizade deles, veneno.

Lembrei-me do funeral de Miguel. Beatriz, vestida de luto, mas com os olhos a brilhar de uma satisfação cruel.

"Sabes, Sofia," ela sibilara, enquanto eu chorava sobre o caixão dele, "eles nunca te amaram. O Tiago fez uma vasectomia antes de casar contigo. O Miguel também. Não queriam filhos de uma mulher que não fosse eu."

O acidente de Tiago, a protegê-la. O coração de Miguel, doado a ela.

"Eu orquestrei tudo," confessara, a voz baixa, apenas para mim. "A tua posição social, a tua inteligência... sempre tive inveja. Eles eram meus, Sofia. Sempre foram."

Morri ali, de desgosto e raiva.

Mas renasci.

E desta vez, o jogo seria meu.

"Obrigada pela festa," disse eu, a voz neutra. "Mas estou um pouco cansada. Acho que vou subir."

Eles entreolharam-se, surpreendidos pela minha falta de entusiasmo.

Ignorei-os.

No meu quarto, fechei a porta.

Coimbra estava fora de questão. Lisboa seria o meu refúgio.

O meu sonho de ser estilista não seria mais adiado.

Eles os três? Seriam apenas uma memória amarga, uma lição aprendida da forma mais dura.

A minha nova vida começava agora. Longe deles. Em paz.

            
            

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