Sofia: O Recomeço Implacável
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Capítulo 4

Acordei com o som de água a bater e gritos abafados.

A cabeça latejava. Estava escuro. Frio.

Percebi que estava na água, a ser arrastada. Perto de mim, Beatriz debatia-se, gritando por socorro.

A festa era numa casa com piscina. Tínhamos caído.

O pânico da vida passada voltou com força total. O afogamento. A traição.

"Socorro!" gritei, a voz rouca.

Vi Tiago e Miguel a correrem na nossa direção. Um brilho de esperança.

Mas, mais uma vez, os olhos deles fixaram-se em Beatriz.

"Bia!" gritaram em uníssono, atirando-se à água.

Ninguém olhou para mim. Ninguém veio na minha direção.

Lutei contra a corrente da piscina, a cabeça a doer, o corpo exausto.

Consegui agarrar-me à borda, a tossir, a tremer.

Quando finalmente me tiraram da água, estava quase inconsciente.

Acordei num quarto de hospital. Tiago e Miguel estavam ao lado da minha cama, os rostos pálidos.

"Sofia, estás bem?" perguntou Tiago, a voz cheia de uma falsa preocupação.

"Desculpa," disse Miguel. "A Beatriz entrou em pânico. Pensámos que ela estava pior."

Mentiras. Sempre mentiras.

"Onde está ela?" perguntei, a voz fraca.

"No quarto ao lado," respondeu Tiago. "Fomos vê-la. Ela está muito abalada."

Claro que está. A vítima perfeita.

O telemóvel de Tiago tocou. Era Beatriz.

"Temos de ir," disse ele, levantando-se. "Ela precisa de nós."

Abandonaram-me. De novo.

Sozinha no quarto de hospital, senti uma raiva fria a crescer dentro de mim.

Mais tarde, recebi uma mensagem de Beatriz.

"Sofia, querida, espero que estejas melhor. Fiquei tão assustada! Ainda bem que o Tiago e o Miguel me salvaram. Beijinhos."

A provocação era óbvia.

Ignorei.

Passei as semanas seguintes a suportar a presença deles. Sabia que a separação estava próxima. As cartas de aceitação das universidades não tardariam a chegar.

Eu ia para Lisboa. Eles, para Coimbra, a perseguir Beatriz.

Finalmente, o envelope chegou.

Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Aceite.

Um sorriso genuíno, o primeiro em muito tempo, iluminou o meu rosto.

Beatriz também recebeu a sua carta nesse dia. Coimbra, claro.

Despediu-se de mim com um abraço falso.

"Vou ter tantas saudades tuas, Sofia!"

Tiago e Miguel observavam, os olhos fixos nela.

Quando Beatriz se afastou, Tiago reparou no envelope na minha mão.

"Então, Coimbra também?" perguntou ele, tentando parecer casual.

Escondi rapidamente o envelope.

"Ainda não sei. Talvez precise de um ano sabático."

A desconfiança brilhou nos olhos deles.

            
            

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