Sofia: O Recomeço Implacável
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Capítulo 2

Beatriz recebeu a notícia do discurso de honra com um ar de modéstia ensaiada.

"Oh, nem acredito! Eu? Mas a Sofia é que merecia..."

Tiago passou um braço pelos ombros dela.

"Tu também és brilhante, Bia. Não sejas modesta."

Miguel concordou, os olhos fixos nela com uma adoração que me dava náuseas.

"És incrível, Bia."

Eu observava-os, a minha expressão indecifrável. Na vida passada, teria acreditado na falsa humildade dela, teria sentido ciúmes da atenção deles.

Agora, via apenas a teia de mentiras.

Mais tarde, Tiago e Miguel vieram ter comigo ao jardim.

"Sofia, sentimos muito pelo discurso," começou Tiago, o tom sério. "Não sabíamos de nada."

Miguel acrescentou: "A Beatriz ficou tão surpreendida quanto nós. Ela até queria recusar."

Mentira. Recordava-me de conversas ouvidas ao acaso na vida anterior, de como Beatriz se gabava de conseguir tudo o que queria deles.

"Não tem importância," respondi, a voz monocórdica. "A Beatriz vai fazer um ótimo trabalho."

Eles pareceram aliviados. Idiotas.

A noite da declaração chegou. Exatamente como da última vez.

O miradouro com vista para o Tejo. Flores. Velas. Um cenário pateticamente romântico.

Tiago e Miguel, nervosos, preparavam-se para o discurso ensaiado.

"Sofia," começou Tiago, "nós..."

O telemóvel de Miguel apitou. Uma mensagem no grupo de WhatsApp dos quatro.

Uma foto. Um cano rebentado. A casa de Beatriz inundada.

"Oh, meu Deus! A Bia precisa de nós!" exclamou Miguel, já a levantar-se.

Tiago nem hesitou. "Temos de ir!"

Abandonaram-me ali, no meio das flores e das velas, sem um olhar para trás.

Exatamente como da última vez.

Na vida passada, esperei. Chorei. Senti-me humilhada.

Desta vez, levantei-me com calma.

Peguei nos ramos de flores que tinham deixado para trás. Eram bonitos, mas falsos, como os sentimentos deles.

Caminhei até ao contentor de lixo mais próximo e atirei-os lá para dentro.

Os presentes, pequenas caixas de joalharia, tiveram o mesmo destino.

Voltei para casa.

Bloqueei os números de Tiago, Miguel e Beatriz.

Fiz uma pequena mala.

No dia seguinte, parti. Costa Alentejana e Vicentina. Um mês.

Precisava de tempo para solidificar os meus planos, para me afastar do fedor da traição deles.

O mar, o sol, a solidão. Eram os meus únicos companheiros.

Refleti sobre cada detalhe da minha vida passada, cada armadilha, cada mentira.

A ingenuidade morrera. A nova Sofia era astuta, fria, implacável.

Quando regressei, um mês depois, bronzeada e com uma nova resolução nos olhos, encontrei Tiago e Miguel à porta de casa.

A preocupação nos rostos deles parecia genuína.

"Sofia! Onde te meteste?" Tiago agarrou-me os braços. "Ficámos tão preocupados!"

Miguel ecoou: "Ligámos tantas vezes! Pensámos que te tinha acontecido alguma coisa!"

Na vida anterior, esta demonstração de preocupação ter-me-ia derretido. Teria acreditado.

Desta vez, senti apenas repulsa.

Afastei-me do toque de Tiago.

"Estive a viajar. Precisava de espaço."

A festa de finalistas foi na praia da Caparica. Outra recordação dolorosa.

Beatriz, como sempre, não perdeu a oportunidade de me provocar.

Estávamos perto da água, a conversar trivialidades.

"Sabes, Sofia," disse ela, a voz melosa, "o Tiago e o Miguel estavam tão preocupados contigo. És mesmo importante para eles."

Um sorriso frio brincou nos meus lábios. "A sério?"

De repente, Beatriz tropeçou, ou fingiu tropeçar, e caiu na água, gritando.

"Socorro! A corrente está a levar-me!"

No mesmo instante, uma onda mais forte atingiu-me, desequilibrando-me. Caí também.

Tiago e Miguel, que estavam perto, não hesitaram.

Correram para Beatriz.

Ignoraram-me completamente.

A água fria envolveu-me. Por um momento, o pânico da vida passada ameaçou regressar.

Mas um surfista local, que observava a cena, nadou rapidamente na minha direção e ajudou-me a sair.

Tiago e Miguel só se aperceberam da minha situação quando já estava em terra firme, a tossir água, amparada pelo surfista.

A preocupação nos rostos deles era, mais uma vez, direcionada a Beatriz, que se agarrava a eles, a tremer dramaticamente.

Lembrei-me de uma conversa que tive com eles na minha vida anterior, depois de um episódio semelhante.

"Sofia, desculpa," dissera Tiago, "mas a Bia parecia estar em maior perigo."

"Sim," concordara Miguel, "ela é mais frágil."

Frágil? Beatriz era uma predadora disfarçada de ovelha.

Desta vez, não disse nada. Apenas os observei com um olhar gelado que pareceu desconcertá-los.

O surfista perguntou se eu estava bem. Agradeci-lhe.

A máscara de "melhores amigos preocupados" de Tiago e Miguel estava a rachar, revelando a verdade feia por baixo.

            
            

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