O Amor Doentio e a Redenção Impossível
img img O Amor Doentio e a Redenção Impossível img Capítulo 1
2
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
Capítulo 11 img
Capítulo 12 img
Capítulo 13 img
Capítulo 14 img
Capítulo 15 img
Capítulo 16 img
Capítulo 17 img
Capítulo 18 img
Capítulo 19 img
Capítulo 20 img
Capítulo 21 img
Capítulo 22 img
Capítulo 23 img
Capítulo 24 img
Capítulo 25 img
img
  /  1
img

Capítulo 1

Clara nasceu muda.

Filha de um santeiro humilde de Minas Gerais, suas mãos falavam a língua das imagens sacras que o pai esculpia com devoção.

Casou-se com Ricardo.

Um homem de família rica, poderosa, do agronegócio.

No começo, ele parecia encantado.

Dizia amar a "pureza" dela, o silêncio que ele interpretava como doçura.

Essa fachada não durou.

Ricardo revelou-se um homem possessivo, controlador.

O amor que ele dizia sentir transformou-se numa obsessão doentia.

Verônica apareceu.

Uma socialite do sul, amante de Ricardo.

Usava uma máscara de delicadeza e cultura para enganar a todos, especialmente Ricardo.

Ricardo, cego de ciúmes por Verônica, decidiu punir Clara de forma cruel.

Ele forjou o sequestro dos pais de Clara.

Idosos, simples, que só sabiam amar a filha.

Mostrou a Clara um vídeo.

Imagens granuladas, seus pais amarrados, abandonados numa região remota da Caatinga.

Um lugar perigoso, seco, impiedoso.

Clara viu o vídeo.

Seu mundo desabou.

Um grito mudo rasgou sua garganta, mas nenhum som saiu.

As lágrimas escorriam, o corpo tremia incontrolavelmente.

Ela desabou no chão, a dor esmagando seu peito.

Seus pais, seu único refúgio, agora estavam sofrendo por culpa dela.

Por causa do homem que ela um dia pensou amar.

Desesperada, Clara procurou Benigna.

Sua melhor amiga, uma raizeira, conhecedora dos segredos das plantas.

Ervas medicinais, venenos, poções.

Clara gesticulou, frenética, o desespero estampado em seu rosto.

Pediu um veneno.

Queria morrer.

Queria levar Ricardo com ela.

Benigna ouviu, o olhar sério, compreensivo.

Secretamente, em vez de um veneno letal, preparou uma poção.

Uma poção de morte simulada.

Deveria ser administrada em pequenas doses, ao longo de sete dias.

Clara não sabia. Acreditava que era o fim.

Enquanto isso, Verônica "reapareceu".

Surgiu supostamente traumatizada.

Disse ter sido "encontrada" num velho armazém de insumos agrícolas.

O armazém pertencia ao pai de Clara.

O mesmo lugar onde Verônica, astutamente, se escondera.

Ricardo, manipulado, culpou Clara.

Acreditou na farsa de Verônica.

Como punição, trancou Clara no mesmo armazém.

O cheiro forte de fertilizantes e pesticidas invadiu as narinas de Clara.

Um gatilho.

Uma memória dolorosa da infância.

Quando era ridicularizada pelo cheiro da pequena lavoura da família.

"Cheiro de terra, cheiro de pobre", zombavam as outras crianças.

Clara sentiu o pânico subir, o ar faltar.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022