Capítulo 4

Mais tarde, na mansão, Ricardo confrontou Clara.

"Você acha que sou idiota?" ele gritou, o rosto vermelho de raiva. "Você queria envergonhar Verônica na frente de todos!"

Clara gesticulou, negando veementemente.

Tentou explicar que não faria algo tão baixo.

Mas Ricardo não acreditava.

"Verônica é uma mulher delicada, sensível," ele disse, a voz carregada de uma falsa preocupação. "Você não tem ideia do quanto a magoou."

Ele comparou a "sofisticação" de Verônica com a "rusticidade" de Clara.

Palavras que cortavam mais do que qualquer chicote.

Clara sentiu um nó na garganta.

A injustiça era esmagadora.

Ela não tinha feito nada, mas era sempre a culpada.

As lágrimas vieram, silenciosas e amargas.

Um choro de quem já não tinha mais forças para lutar contra as acusações.

Ela se encolheu, aceitando o destino que ele lhe impunha.

O que mais poderia fazer?

Naquela noite, administrou a segunda dose da poção.

Em sua comida, na comida dele.

A determinação sombria em seus olhos era a única coisa que a mantinha de pé.

No dia seguinte, o escândalo foi ainda maior.

Fotos antigas de Clara vazaram na internet.

Fotos da sua adolescência em sua cidade natal.

Nelas, ela aparecia desajeitada, com roupas simples, o cabelo mal cortado.

As legendas eram cruéis, zombando de sua "rusticidade", de ser filha de "camponeses pobres".

Manchetes sensacionalistas exploravam seu passado humilde.

"A Gata Borralheira do Agronegócio: O Passado Pobre da Esposa Muda do Bilionário."

Clara sentiu a humilhação consumi-la.

Seu passado, suas raízes, expostas ao ridículo para o mundo inteiro ver.

Era obra de Ricardo, ela sabia.

Uma vingança pela "humilhação" de Verônica no leilão.

Ele queria destruí-la, pedaço por pedaço.

Ricardo observou a reação de Clara com frieza.

Nenhuma palavra de conforto, nenhum gesto de apoio.

Apenas o prazer sádico de vê-la sofrer.

Ele se lembrava de quando a elogiava por sua "simplicidade", por sua "autenticidade".

Agora, usava essas mesmas características para feri-la.

A transformação dele era completa.

O homem amoroso que ela conhecera (ou pensara conhecer) havia desaparecido, dando lugar a um monstro.