Cicatrizes de Amor e Vingança
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Capítulo 2

O dia em que Sílvia adoeceu foi o dia em que meus planos de partir foram interrompidos.

Eu já tinha arrumado a minha pequena mala. Estava pronta para deixar a fazenda para sempre.

Então, ouvi os gritos.

"A senhora Sílvia está passando mal! Chamem o Coronel!"

Inácio, que estava a caminho do meu quarto, mudou de direção imediatamente.

Ele correu para a casa de hóspedes sem nem olhar para trás.

Naquele momento, eu soube. O nosso relacionamento tinha acabado de vez.

Sentei-me na cama, o corpo pesado. A decisão estava tomada.

Não demorou muito para que a acusação viesse.

"Envenenamento," disse o médico. "Com a erva-do-diabo. Muito rara por aqui."

Dona Matilde, a mãe de Inácio, entrou no meu quarto como um furacão.

"Foi você, sua bruxa do sertão! Você sempre teve inveja da Sílvia!"

Inácio veio atrás dela. Ele parecia dividido.

"Mãe, acalme-se. Liana não faria isso."

Mas então ele se virou para mim, e seus olhos eram frios.

"Liana, você é a única que conhece essa erva. Você me disse uma vez que ela poderia matar um homem em horas."

Ele estava usando as minhas próprias palavras, o conhecimento que eu compartilhei com ele em noites de confiança, contra mim.

A traição doeu mais do que a acusação.

"Eu quero o divórcio, Inácio," eu disse, a voz firme, surpreendendo a mim mesma.

Ele me olhou, chocado.

"Divórcio? Agora?"

"Se eu curar a Sílvia, você me dá o divórcio."

Ele olhou para a porta, na direção da casa de hóspedes. O medo pela vida de Sílvia era maior do que qualquer sentimento que ele ainda pudesse ter por mim.

"Sim. Eu assino o que você quiser."

Ele pegou um papel e uma caneta, escreveu apressadamente um acordo de divórcio e assinou sem nem reler.

Ele só queria que eu salvasse a amante dele.

Fui até a casa de hóspedes. Sílvia estava na cama, pálida, mas seus olhos brilhavam de triunfo.

Eu sabia que ela tinha se envenenado de propósito, apenas o suficiente para parecer doente, mas não para morrer.

Preparei o antídoto e a fiz beber.

Em poucos minutos, a cor voltou ao seu rosto.

"Estou melhor," ela sussurrou, com a voz fraca. "Mas... eu tenho medo de ficar aqui. Tenho medo dela."

Ela olhou para mim, fingindo pavor.

Dona Matilde, que observava tudo, não perdeu tempo.

"Prendam essa mulher! A chicotadas! Ela confessou o crime!"

Inácio interveio.

"Mãe, não. Ela a salvou. A punição é severa demais."

Ele se virou para mim. "Fique no seu quarto. Não saia de lá. É para o seu próprio bem."

"Você acredita em mim, Inácio?" perguntei, olhando no fundo dos seus olhos.

Ele hesitou.

Aquele segundo de silêncio foi a resposta.

Ele não acreditava.

Um sorriso amargo brotou nos meus lábios.

"Entendo."

Fui levada de volta para o meu quarto, que agora era a minha prisão.

Mais tarde, soube que a criada que me acusou, paga por Sílvia, foi executada por ordem de Dona Matilde por "espalhar mentiras" .

A crueldade deles não tinha limites.

Naquela noite, Inácio veio me ver. Ele trouxe cobertores e comida.

"Eu fiz isso para te proteger, Liana. Minha mãe queria te matar."

Ele tentou parecer o herói.

"Eu sei que você não faria mal a ninguém," ele disse, a voz suave.

Ele me ofereceu uma garrafa escura.

"Beba isso. Vai te ajudar a se acalmar."

Eu olhei para a garrafa, depois para ele.

"Inácio, se você me der o divórcio, eu permito que você se case com Sílvia. Ela pode ser a sua esposa oficial."

Eu só queria a minha liberdade.

"Mas eu exijo uma coisa," continuei. "O direito de ter filhos. Meus filhos."

Ele ficou pálido. A mão que segurava a garrafa tremeu.

"Do que você está falando, Liana? Isso é só um calmante."

A mentira era tão óbvia.

"Você me decepciona de novo, Inácio."

Peguei a garrafa da mão dele.

O cheiro amargo das ervas da esterilidade invadiu minhas narinas. Eu mesma já tinha preparado essa poção para outras mulheres, a pedido delas.

Eu sabia exatamente o que era.

Sem dizer mais nada, levei a garrafa à boca e bebi tudo, de um só gole.

A dor que se seguiu foi excruciante.

Meu ventre se contraiu em um espasmo violento. Senti como se mil agulhas estivessem me perfurando por dentro.

Caí no chão, gritando.

Inácio entrou em pânico.

"Médico! Chamem o médico!"

Ele me pegou no colo, o desespero estampado em seu rosto.

O médico chegou e, depois de me examinar, deu o veredito com uma voz sombria.

"O útero dela foi gravemente danificado. Ela nunca mais poderá ter filhos."

A sentença final.

Nos dias seguintes, Inácio tentou cuidar de mim. Ele trazia comida, trocava meus lençóis. A culpa o consumia.

Mas eu não o deixava me tocar.

"Deixe-me enterrar as cinzas do nosso filho," ele pediu um dia, a voz embargada. Eu guardava a pequena urna de barro ao lado da minha cama.

"Não," respondi, fria como gelo. "Você não tem esse direito."

"Liana, tudo que eu fiz... foi por amor. Por nós."

"Me deixe sozinha," eu disse, virando o rosto para a parede.

Ele saiu, relutante.

Eu me permiti chorar. Chorei pelo filho que perdi, pela maternidade que me foi roubada, e pelo amor que, finalmente, tinha morrido dentro de mim.

            
            

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