"Inácio e eu... nós ficamos juntos muitas vezes enquanto você estava grávida. Ele dizia que não queria te incomodar. Ele é tão atencioso, não é?"
Cada palavra dela era veneno.
"E a parteira," ela continuou, baixando a voz para um sussurro conspiratório, "ela não era uma estranha. Ela trabalha para a minha família. Eu paguei a ela para garantir que o seu filho não sobrevivesse."
Uma fúria cega me dominou.
Pulei da cama e a agarrei pelos cabelos.
"Sua desgraçada! O que você fez?"
Ela gritou, e duas criadas fortes entraram e me seguraram.
Sílvia se levantou, ajeitando o cabelo. O sorriso dela era diabólico.
"Ah, e tem mais uma coisa. As cinzas do seu filho... Inácio as pegou. Ele as moeu e as transformou em pílulas medicinais para mim. Para me dar força."
O mundo parou.
"Não... não é verdade."
Corri para o lado da cama. A urna de barro não estava mais lá.
Um grito de puro desespero escapou da minha garganta.
"Meu filho... devolva o meu filho!"
Sílvia tirou uma pequena pílula escura do bolso.
"Você quer isso?"
Ela a jogou no chão e pisou em cima, esmagando-a em pó.
"Ele não é nada. Apenas poeira."
Eu me joguei no chão, tentando juntar o pó com as mãos trêmulas.
Ela pisou na minha mão com força. A dor dos ossos se quebrando foi ofuscada pela dor no meu coração.
"Saia da minha casa," ela disse, a voz cheia de autoridade. "Inácio me deu esta fazenda. Agora, é minha."
"Eu não saio sem o meu filho," eu disse, entre lágrimas.
Ela riu e me arrastou para fora, até a beira do rio que passava pela propriedade.
Ela abriu a mão e jogou o resto das cinzas na água.
"Aqui está ele."
Sem pensar, pulei na água gelada, tentando desesperadamente agarrar os últimos vestígios do meu bebê.
A correnteza era forte. Eu estava me afogando.
Foi quando Inácio chegou.
Ele viu Sílvia gritando na margem, fingindo desespero.
"Inácio, me ajude! Liana enlouqueceu e tentou me afogar!"
Ele olhou para mim, lutando na água, e depois para ela.
Sem hesitar, ele correu para ajudar Sílvia, me empurrando para o lado para alcançá-la.
A água encheu meus pulmões.
Enquanto afundava, vi as últimas partículas de cinza se dissolverem na água.
Meu filho tinha se ido para sempre.
Com a força do ódio, lutei para voltar à superfície.
Arrastei-me para a margem, sangrando, machucada, quebrada.
"Inácio," eu disse, a voz um fio. "As cinzas... ela jogou as cinzas do nosso filho no rio."
Sílvia se escondeu atrás dele, chorando.
"Ela está mentindo! Ela está louca! Inácio, me salve dela!"
Inácio olhou para mim com nojo.
"Você machucou a Sílvia de novo. Você se tornou um monstro, Liana."
Ele me agarrou pelo braço, me sacudindo com força.
"Eu não acredito em uma palavra sua."
O osso do meu braço estalou sob a sua força. A dor me cegou por um momento.
"Olhe o que você fez," disse Sílvia, apontando para o meu braço quebrado, mas a sua voz era de falsa preocupação. "Pobre Liana, ela se machucou."
"Eu estou tão desapontado com você," disse Inácio, me soltando. "A Liana que eu amava nunca faria isso."
"Ela disse que você transformou as cinzas do nosso filho em pílulas para ela," eu gritei, a última gota de esperança se esvaindo.
Sílvia negou, chorando nos braços dele.
"É mentira, Inácio, eu juro!"
"Chega!" ele gritou para mim. "Volte para o seu quarto e não saia de lá. Não quero mais olhar para você."
"Você não acredita em mim?" perguntei, a voz morta.
O silêncio dele foi a resposta final.
Um sorriso amargo e quebrado se formou nos meus lábios.
"Você é o homem mais cruel que eu já conheci, Inácio."
Ele se virou, me dando as costas.
"Levem-na."
Dois jagunços me arrastaram de volta para o meu quarto.
Enquanto me levavam, vi Inácio olhando para o rio, uma sombra de dúvida em seu rosto.
Ele sentiu. Ele sentiu que estava me perdendo para sempre.
Mas era tarde demais.