Ricardo (32) congelou ao ouvir a voz do rádio.
Ele olhou em volta, confuso.
"Quem está aí?"
Então, seus olhos pousaram em Sofia, que estava caída no chão, segurando a cabeça.
Ele a agarrou pelos cabelos.
"Quem era aquele? Seu amante? Você tem um amante, sua vagabunda?"
Ele viu o celular de Sofia no chão, perto do rádio.
Pegou-o e o esmagou sob o pé.
"Você acha que pode me trair? Eu te dou tudo!"
A possessividade em sua voz era assustadora.
Sofia cuspiu as palavras, a dor latejando em sua cabeça.
"Você fala de traição? E as suas promessas? Onde está o homem que jurou me amar?"
Letícia, percebendo que estava perdendo a atenção, gemeu dramaticamente.
"Ricardo... minha cabeça... dói tanto."
Ela se agarrou ao braço dele, fingindo fraqueza.
Ricardo imediatamente se voltou para Letícia, a preocupação substituindo a raiva por Sofia.
Ele a ajudou a se sentar.
Lançou um olhar ameaçador para Sofia.
"Nós ainda não terminamos. Você vai me pagar por isso."
Ele saiu com Letícia, deixando Sofia sozinha e ferida no chão frio do hospital.
Sofia conseguiu se levantar, cambaleando.
Pegou o rádio amador, a única conexão com alguém que parecia se importar.
A tela estava rachada, mas ainda funcionava.
Ela o levou para uma pequena loja de consertos eletrônicos no dia seguinte.
O técnico disse que levaria algumas horas.
Mais tarde, com o rádio consertado em mãos, ela recebeu uma mensagem do jovem Ricardo.
A voz dele era desesperada.
"Sofia, eu não aguento mais saber o que ele faz com você. Eu vou pular do alto do prédio da faculdade. Assim, ele vai sofrer as consequências no futuro. Talvez isso o pare."
Ele se recusava a assinar o acordo de divórcio, acreditando que poderia mudar o futuro de outras formas.
Sofia sentiu um nó no estômago.
As ações dele, por mais bem-intencionadas, não resolviam o problema dela agora.
O Ricardo de 32 anos continuaria sendo o mesmo monstro.
Ela precisava do divórcio.
Naquela noite, Ricardo (32) voltou para casa.
Ele não disse uma palavra sobre o incidente no hospital.
Apenas a agarrou, forçando-a contra a parede do quarto.
"Você achou que ia escapar, não é?"
Ele começou a beijá-la à força, as mãos apertando seus braços.
"Você é minha, Sofia. Minha!"
O rádio amador, escondido sob o travesseiro, começou a apitar.
Uma chamada de vídeo do jovem Ricardo.
Ricardo (32) parou, surpreso. Ele viu o brilho sob o travesseiro.
Arrancou o rádio de lá.
Ele atendeu a chamada.
A imagem do jovem Ricardo apareceu, o rosto pálido e chocado ao ver seu eu mais velho forçando Sofia.
Ricardo (32) sorriu cruelmente.
Ele silenciou o áudio do rádio, mas manteve a câmera ligada, apontada para eles.
"Quero que você ouça bem, seu moleque," ele sussurrou, embora o jovem Ricardo não pudesse ouvir.
E continuou a forçar Sofia, os olhos fixos na imagem de seu eu mais jovem, que assistia horrorizado.
Sofia fechou os olhos, suportando a violação.
Sentia-se quebrada, vazia, a alma entorpecida.
Cada toque era uma tortura.
Quando terminou, Ricardo (32) jogou o rádio na cama e saiu do quarto, rindo.
Sofia pegou o rádio, as mãos trêmulas.
O jovem Ricardo estava em silêncio do outro lado, o rosto uma máscara de dor e raiva.
Então, a conexão caiu.
Ela tentou ligar de volta, mas não conseguiu.
Minutos depois, o rádio apitou. Uma nova chamada de vídeo.
O jovem Ricardo estava no telhado de um prédio alto, o vento agitando seus cabelos.
As luzes da cidade brilhavam abaixo.
"Sofia," ele disse, a voz embargada. "Eu não posso deixar você viver assim. Se eu morrer, talvez ele desapareça. Você será livre."
Ele estava chorando.
"Não! Ricardo, não faça isso!" Sofia gritou, o pânico tomando conta dela.
"Por favor, não!"
"Eu te amo, Sofia," ele disse, uma última vez.
E então, ele se jogou.
A imagem congelou e desapareceu.