"Ricardo, meu filho, preciso de um favor. Aquela casa de praia dos avós da Sofia... Letícia adoraria usá-la como um retiro criativo. Você sabe, para o trabalho dela de influenciadora. Sofia precisa transferir a propriedade para ela."
Sofia ouviu e protestou, a voz embargada.
"Aquela casa é a única lembrança boa que tenho dos meus avós! É tudo que me resta deles!"
Era um lugar sagrado, cheio de memórias de infância felizes, antes de seus pais se tornarem o que eram.
Ricardo (32) encerrou a chamada com o sogro.
Ele olhou para Sofia com frieza.
"Não seja egoísta, Sofia. Sua irmã precisa. Seja compreensiva."
Aquelas palavras, "seja compreensiva", eram como veneno.
Sofia desabou emocionalmente.
"Você sabe o quanto aquela casa significa para mim! Você esteve lá comigo, quando éramos jovens!"
Lágrimas escorriam pelo seu rosto.
Ricardo (32) permaneceu em silêncio, o rosto impassível.
Sofia enxugou as lágrimas, uma nova determinação endurecendo seu olhar.
"Aquela casa é minha. E vai continuar sendo minha."
Ela se levantou. "Eu vou para lá agora. E se alguém tentar tirá-la de mim, vai se arrepender."
Ela pegou a bolsa e as chaves do carro, saindo e batendo a porta atrás de si.
Horas depois, Sofia chegou à casa de praia.
O cheiro de maresia e madeira antiga a envolveu.
A casa estava intacta, exatamente como ela se lembrava. Um alívio percorreu seu corpo.
Ela se sentou na varanda, olhando para o mar, sentindo uma paz momentânea.
O rádio amador apitou. Uma chamada de vídeo do jovem Ricardo.
Ela atendeu, sorrindo pela primeira vez em dias.
"Estou bem, Ricardo. Consegui chegar à casa de praia."
Enquanto falava, ouviu um barulho atrás dela.
Virou-se e viu Letícia parada na porta, um galão de gasolina na mão e um sorriso cruel no rosto.
"Surpresa, irmãzinha."
Letícia a empurrou para dentro e trancou a porta.
Letícia começou a derramar gasolina pela sala.
"Sabe, Sofia, eu sempre te odiei. Você sempre teve tudo. Agora, vou tirar tudo de você, inclusive sua vida."
Ela ria, um som maníaco.
"Ricardo será meu. E esta casa também."
Sofia percebeu a loucura nos olhos da irmã.
"Letícia, você vai ser presa! Incêndio criminoso é um crime grave!"
Ela tentava manter a calma, procurando uma rota de fuga.
Letícia acendeu um isqueiro.
"Ninguém vai descobrir. Vão pensar que foi um acidente. Você, descuidada como sempre."
Ela jogou o isqueiro no chão encharcado de gasolina.
As chamas subiram instantaneamente.
Sofia gritou, correndo para a janela dos fundos.
Conseguiu arrombá-la e pular para fora, enquanto as chamas lambiam as paredes.
Ela pegou o celular, que caíra da bolsa durante a confusão com Letícia, e ligou para a polícia, a voz embargada pelo pânico e pela fumaça.
O jovem Ricardo, no rádio, gritava o nome dela, desesperado, ouvindo os sons do incêndio e os gritos.
O fogo se alastrava rapidamente. A fumaça era densa.
Sofia tossia, os olhos ardendo.
Ela tropeçou e caiu, perdendo a consciência.
A voz do jovem Ricardo era um eco distante: "Sofia! Aguenta firme! Ajuda está chegando!"
Ela teve um flashback. Anos atrás, o carro de Ricardo (32) capotara.
Ele estava preso, inconsciente. Ela o tirara das ferragens, mesmo ferida, salvando a vida dele.
Agora, ela estava sozinha, lutando pela própria vida.
Sirenes soaram ao longe, aproximando-se.
Bombeiros e policiais chegaram.
Eles a tiraram da casa em chamas.
Sofia acordou tossindo, vendo o rosto de Ricardo (32) pairando sobre ela.
Alívio? Não.
Ele a acusou imediatamente.
"O que você fez, Sofia? Você tentou matar a Letícia e incendiar a casa para culpá-la?"
Letícia estava ao lado dele, fingindo choque e medo, fuligem estrategicamente em seu rosto.
Sofia percebeu então. A preocupação dele não era por ela.
Era por Letícia. Sempre fora por Letícia.
Uma amargura profunda a consumiu.
Ela olhou para ele, os olhos cheios de uma dor fria.
"Ricardo, eu quero o divórcio. Agora."
Ricardo (32) riu, um som horrível.
"Divórcio? Nunca. Você é minha, Sofia. E vai continuar sendo, mesmo que eu tenha que te prender a mim para sempre."
Sofia pegou o rádio amador, que um bombeiro lhe entregara.
A tela estava escura, mas ela apertou o botão de chamada.
A voz do jovem Ricardo soou, fraca, mas clara.
"Sofia... você está bem?"
Ela olhou diretamente nos olhos de Ricardo (32), depois falou no rádio.
"Ricardo," ela disse ao jovem Ricardo, "você vai assinar aqueles papéis de divórcio agora?"