Quando o Amor Vira Pesadelo: A Ascensão de Sofia
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Capítulo 2

Sofia acordou no dia seguinte com uma dor latejante no tornozelo e uma sensação de irrealidade.

A luz da manhã entrava pela janela do quarto, mas tudo parecia cinzento.

Ouviu vozes no andar de baixo.

A voz de Miguel, suave, preocupada.

E outra voz, feminina, hesitante.

Beatriz.

Ela estava ali, na sua casa.

Com esforço, Sofia sentou-se na cama.

A porta do quarto abriu-se e Miguel entrou, seguido por Beatriz.

Beatriz trazia um tabuleiro com o pequeno-almoço.

O seu rosto era uma máscara de compaixão estudada.

"Bom dia, Sofia. O Miguel disse-me que precisavas de ajuda. Espero não incomodar."

Incomodar? Ela estava a usurpar a sua casa, o seu casamento.

Miguel sorriu para Beatriz, um sorriso que Sofia já não recebia há muito tempo.

"A Beatriz vai ser a tua cuidadora, querida. Ela é muito dedicada."

Sofia olhou para o tornozelo inchado, enfaixado.

Depois olhou para Miguel, para Beatriz.

Sentiu um nó na garganta.

"Eu não preciso de uma cuidadora," conseguiu dizer.

"Claro que precisas, Sofia," disse Miguel, com falsa bonomia. "Não sejas teimosa. A Beatriz insistiu em ajudar. Ela até vai dormir no quarto de hóspedes para estar mais perto, caso precises de alguma coisa durante a noite."

O quarto de hóspedes.

Ao lado do quarto deles.

Sofia fechou os olhos. A humilhação era palpável.

Os dias que se seguiram foram um pesadelo.

Beatriz era, de facto, uma cuidadora desastrada.

Deixava cair os comprimidos de Sofia no chão.

Aplicava mal os pensos, causando mais dor.

Derramava água na cama.

E a cada erro, suspirava e olhava para Miguel com ar de vítima.

"Oh, desculpe, Sofia. Sou tão desajeitada."

Sofia tentava ser paciente, mas a dor e a frustração minavam-na.

Uma tarde, Beatriz tentava mudar-lhe o penso do tornozelo.

As suas mãos eram brutas, a gaze arranhou a pele inflamada.

Sofia não conseguiu conter um gemido de dor.

"Podes ter mais cuidado, por favor?" pediu Sofia, a voz tensa.

Beatriz largou imediatamente o penso, os olhos a encherem-se de lágrimas.

"Desculpe. Eu estou a tentar o meu melhor. Não queria magoá-la."

Correu para fora do quarto, a soluçar.

Miguel entrou minutos depois, o rosto fechado.

"Sofia, o que é que disseste à Beatriz?"

"Eu só pedi para ela ter mais cuidado. Ela magoou-me."

"Magoou-te? Ela está aqui a sacrificar o tempo dela, a tentar ajudar-te, e tu tratas-la assim? Ela está lá em baixo a chorar, a sentir-se uma inútil!"

A injustiça da acusação sufocou Sofia.

"Mas Miguel, ela..."

"Tu vais pedir-lhe desculpa," interrompeu ele, a voz gélida. "Vais pedir desculpa à Beatriz por não seres paciente."

"Pedir desculpa? Por ela me ter magoado?"

"Sim. Ou então, talvez devesses ir para um hospital. Lá, os enfermeiros são profissionais. Mas duvido que tenhas a mesma... atenção... que a Beatriz te está a dar."

A ameaça era clara.

Ele estava a isolá-la, a torná-la dependente da sua carrasca.

Sofia sentiu-se encurralada.

O poder dele, a crueldade dele, eram esmagadores.

Se ela não cedesse, ele tornaria a sua vida ainda mais insuportável.

Desceu as escadas com dificuldade, apoiada numa muleta.

Encontrou Beatriz na sala, a ser consolada por Miguel.

Ele acariciava-lhe o cabelo, sussurrando-lhe palavras doces.

Ao ver Sofia, Beatriz encolheu-se, como um animal assustado.

Miguel olhou para Sofia, expectante.

Com a garganta apertada, Sofia forçou as palavras a sair.

"Beatriz... desculpa. Eu... não devia ter sido tão... impaciente."

Cada palavra era uma faca a rasgar-lhe a alma.

Beatriz levantou o rosto, os olhos vermelhos, mas com um brilho de triunfo.

"Está tudo bem, Sofia. Eu sei que está a sofrer."

Miguel sorriu, satisfeito.

"Vês? Não custou nada."

Custara-lhe a dignidade.

Custara-lhe mais um pedaço de si mesma.

Naquela noite, Sofia arrastou-se até à sua secretária.

O cofre de sândalo.

Pegou noutra carta.

As palavras de Miguel pareciam troçar dela.

"Contigo, aprendi o significado da paciência, do amor incondicional."

Amor incondicional.

Ele exigia-lhe isso, enquanto lhe oferecia apenas dor e humilhação.

A chama consumiu a mentira.

Ouviu passos no corredor.

Miguel.

Escondeu rapidamente as cinzas na gaveta, o coração a bater descontroladamente.

Ele abriu a porta.

"Ainda acordada?"

"Não conseguia dormir. O tornozelo dói."

Ele olhou para ela, desconfiado, mas não disse nada.

Saiu, fechando a porta.

Sofia respirou fundo, o cheiro a papel queimado ainda no ar, misturado com o fedor da sua relação moribunda.

            
            

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