Quando o Amor Vira Pesadelo: A Ascensão de Sofia
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Capítulo 3

Sofia varreu as cinzas da carta para um envelope velho.

Escondeu-o no fundo da gaveta, debaixo de lenços e papéis esquecidos.

Miguel não podia desconfiar.

Não que ele se importasse realmente com o que ela sentia.

A sua única preocupação era Beatriz.

Na manhã seguinte, Miguel entrou no quarto enquanto Sofia se vestia com dificuldade.

"Hoje há uma festa na casa do Ricardo. Vamos."

Ricardo era um dos sócios de Miguel. As suas festas eram eventos sociais importantes no círculo deles.

"Miguel, o meu tornozelo..."

"O tornozelo está melhor. E a Beatriz precisa de se distrair um pouco. Tem estado tão stressada a cuidar de ti."

A desculpa era sempre Beatriz.

Sofia era um fardo. Beatriz, a vítima que precisava de cuidados e distrações.

"Eu não me sinto bem para ir a uma festa."

"Não te estou a pedir, Sofia. Estou a dizer-te. Temos de manter as aparências. E a Beatriz vai connosco."

Manter as aparências.

A fachada de um casamento feliz.

Que piada cruel.

Sofia sentou-se em frente ao espelho, a maquilhagem a tentar esconder as olheiras e a tristeza.

"Porque é que ainda me queres por perto nestes eventos, Miguel? Para me humilhares publicamente?"

Ele estava a dar um nó na gravata, o olhar fixo no espelho, mas não nela.

"Tu és minha esposa, Sofia. É o teu papel. E quanto à Beatriz... bem, as pessoas precisam de ver que eu não a estou a esconder. Que não há nada de errado."

Nada de errado.

Apenas um marido a destruir a esposa por causa de uma amante que ele instalara em casa.

Sofia sentiu um vazio gelado no peito.

Ele não via, ou não queria ver, o mal que lhe estava a fazer.

Na festa, a atmosfera era tensa.

Os olhares curiosos, os sussurros disfarçados.

Sofia sentou-se num canto, tentando ser invisível.

Miguel exibia Beatriz, apresentando-a a todos com um orgulho paternal, ou talvez algo mais.

Beatriz aproximou-se de Sofia com um copo na mão.

"Sofia, parece pálida. Beba isto. São uns comprimidos para a alergia. Talvez o pó da casa do Ricardo a esteja a afetar."

Sofia olhou para o copo, para o líquido efervescente.

"Não me lembro de ter alergias."

"Oh, é só uma precaução. Para se sentir melhor."

Beatriz sorria, mas os seus olhos eram frios.

Miguel aproximou-se.

"Bebe, Sofia. A Beatriz só quer ajudar."

Coagida, Sofia bebeu.

O líquido tinha um sabor estranho, amargo.

Pouco tempo depois, a cabeça de Sofia começou a andar à roda.

Uma sonolência avassaladora tomou conta dela.

As luzes da festa pareciam distantes, as vozes abafadas.

Procurou Miguel com o olhar.

Ele estava na pista de dança.

A dançar com Beatriz.

Riam, os corpos próximos, alheios a tudo.

Sofia tentou levantar-se, mas as pernas fraquejaram.

"Miguel..." chamou, a voz fraca.

Ele não ouviu.

Ou não quis ouvir.

As amigas de Beatriz, outras estagiárias e jovens arquitetas, rodeavam Miguel e Beatriz.

Incentivavam Beatriz a "testar" a devoção de Miguel.

"Beatriz, pede-lhe aquele relógio caro que viste na montra!"

Miguel ria, encantado.

"O que a minha Bea quiser!"

Ele prometia mundos e fundos, jóias, viagens.

Tudo o que Sofia um dia sonhara, e que ele agora oferecia a outra, publicamente.

Alguém sugeriu um jogo.

"Verdade ou consequência!"

As perguntas eram dirigidas a Miguel e Beatriz, sempre com um toque malicioso, forçando uma intimidade que feria Sofia profundamente.

"Miguel, é verdade que achas a Beatriz a mulher mais bonita da sala?"

Ele olhava para Beatriz com adoração. "A mais bonita do mundo."

Beatriz corava, encantada com a atenção.

Sofia sentia o corpo a arder.

A pele picava, a garganta fechava-se.

Não era sono. Era algo pior.

Uma reação alérgica?

Ou...

Lembrou-se do copo que Beatriz lhe dera.

Os "comprimidos para a alergia".

Tinha sido envenenada?

A ideia era monstruosa, mas...

Olhou para Beatriz, que agora sussurrava algo ao ouvido de Miguel.

Ele ria, abraçando-a pela cintura.

"Miguel! Ajuda-me!" gritou Sofia, o pânico a tomar conta dela.

Ele olhou na direção dela, irritado pela interrupção.

Viu-a pálida, a suar frio.

Mas Beatriz puxou-o de volta.

"Ela só quer estragar a nossa noite, Miguel. Não ligues."

Ele hesitou por um momento.

Depois, deu de ombros e voltou a dar atenção a Beatriz.

Deixou Sofia sozinha, a lutar por ar.

O mundo de Sofia escureceu.

As pernas cederam.

Caiu no chão, o som do seu corpo a embater no mármore a ecoar pela sala.

Um grito coletivo.

Finalmente, a música parou.

Finalmente, todos olharam para ela.

A última coisa que viu, antes de perder a consciência, foi o rosto de Miguel, pálido de choque.

Ou seria culpa?

            
            

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