Capítulo 5 Horror

Seguimos o caminho, e Fanny parecia finalmente se acalmar.

Mas então...

Ela arregalou os olhos de novo.

- François!

- O que foi agora?

Ela apontou para um grupo de mulheres na calçada.

- Elas estão nuas!

Engoli a risada e tentei não bater o carro.

- Elas não estão nuas, Fanny. São roupas modernas.

Ela piscou, escandalizada.

- Mas essas saias mal cobriam suas pernas! As blusas... MON DIEU! DÁ PARA VER OS OMBROS!

- E qual o problema com isso?

Ela me olhou indignada.

- As mulheres daqui não têm pudor?! No meu tempo, uma senhora jamais sairia assim! Isso é... escandaloso!

Eu ri.

- Bem-vinda ao século XXI.

Ela fechou os olhos e respirou fundo.

- Isso é pior do que imaginei.

E naquele momento, soube de uma coisa...

Fanny Marchand não estava preparada para o século XXI.

E eu não estava preparado para Fanny Marchand.

Trazer Fanny para o século XXI era como apresentar um gato à água.

Cada novidade era um choque.

Cada coisa moderna, bruxaria.

E cada vez que eu tentava explicar...

Ela se assustava ainda mais.

Assim que chegamos ao prédio, Fanny parou na entrada, observando o saguão com olhos arregalados.

- Onde estão os criados?

Pisquei.

- Criados?

Ela me lançou um olhar impaciente.

- Sim! Quem abre as portas e anuncia a chegada dos visitantes?

Cruzei os braços, segurando o riso.

- Fanny, ninguém mais faz isso.

Seu queixo caiu.

- Comment?! (Como assim?!)

Antes que eu pudesse responder, chegamos ao elevador.

Assim que a porta metálica se abriu, ela recuou e gritou.

- MON DIEU! C'EST UN CERCUEIL AVEC DES MIROIRS! (MEU DEUS! É UM CAIXÃO COM ESPELHOS!)

Esfreguei o rosto.

- Fanny, isso é um elevador.

- E-ele nos traga para onde?!

- Para o andar de cima.

Ela cruzou os braços.

- Isso se move sozinho?

- Sim.

Ela me lançou um olhar de puro horror.

- Então é feitiçaria! O século XXI é povoado por bruxos! Ainda bem que a Inquisição acabou!

Segurei o riso e, antes que ela fugisse, a puxei para dentro.

Assim que a porta se fechou e o elevador começou a subir, ela agarrou meu braço e prendeu a respiração.

- MON DIEU! NOUS SOMMES EMPORTÉS AU CIEL?! (MEU DEUS! ESTAMOS SENDO LEVADOS PARA O CÉU?!)

Eu gargalhei.

- Não, estamos indo para o meu apartamento.

Fanny estava pálida.

- Eu não ficarei sozinha com um homem! Já disse, sou uma donzela!

Revirei os olhos.

- Fanny, não se preocupe. Jamais abusaria de uma dama.

Ela me observou desconfiada.

- Jamais?

- Nunca. Eu preciso esfriar a cabeça, só isso.

Ela suspirou.

- Se me encontrar desonrada amanhã, lançarei uma praga sobre sua família.

Sorri.

- Bem, espero que sobreviva à sua primeira noite no século XXI.

Entramos no apartamento, Fanny parou na sala e franziu o cenho.

- Que quadro grande e negro é esse na parede?

Peguei o controle remoto e liguei a TV.

Mal tive tempo de mudar de canal.

Fanny deu um grito e se jogou atrás do sofá.

- C'EST LE DIABLE! (É O DIABO!)

Eu chorei de rir.

- Fanny, isso se chama televisão!

Ela apontou assustada para a tela.

- Mas... elas se movem! Elas falam!

- É uma gravação!

- Elas estão vivas?!

- Não.

- Então como falam?!

Suspirei.

- Tecnologia.

Ela estreitou os olhos, desconfiada.

- Isso soa como outro nome para feitiçaria.

- Bem-vinda ao século XXI, Fanny.

- François, onde está a bacia?

Pisquei.

- Que bacia?

Ela revirou os olhos.

- A bacia onde se toma banho!

Ah.

- Você não precisa de uma bacia. Tem um chuveiro.

Levei-a até o banheiro e liguei o chuveiro. Assim que a água quente caiu, Fanny gritou e se escondeu atrás de mim.

- MON DIEU! L'EAU TOMBE DU CIEL! (MEU DEUS! A ÁGUA CAI DO CÉU!)

Eu me segurei para não rir.

- Vem do encanamento.

Ela ignorou minha explicação.

- SEU APARTAMENTO TEM UM RIO ESCONDIDO?!

Eu gargalhei.

- Não, Fanny. É apenas um sistema moderno.

Ela continuou me encarando, assustada.

- Seu século é um pesadelo.

Depois de sobreviver ao banheiro, levei Fanny para a cozinha.

Ela cruzou os braços.

- E onde está a lareira?

Apontei para o fogão elétrico.

Ela estreitou os olhos.

- Isso... faz fogo?

Girei um botão. As chamas surgiram instantaneamente.

Fanny gritou e correu para trás.

- MON DIEU! C'EST LA SORCELLERIE! (MEU DEUS! ISSO É BRUXARIA!)

- Fanny, é um fogão elétrico!

- COMO O FOGO APARECEU SEM LENHA?!

Revirei os olhos.

- Fanny, confie em mim.

Ela resmungou, desconfiada.

Então, peguei um prato de comida, coloquei no micro-ondas e apertei um botão.

Quando o aparelho começou a girar, Fanny deu um pulo.

- CETTE CHOSE EST VIVANTE?! (ESSA COISA ESTÁ VIVA?!)

- Fanny, por favor, para de achar que tudo é feitiçaria.

- ENTÃO EXPLIQUE!

Suspirei.

- É um aparelho que aquece comida com ondas eletromagnéticas.

Ela me olhou como se eu tivesse falado latim.

- Isso soa como bruxaria.

Eu me joguei na cadeira, exausto de tanto rir.

- Se soubesse que te trazer para o futuro seria tão divertido, teria feito isso antes.

Ela bufou.

- Prefiro meu tempo.

Levantei uma sobrancelha.

- Mas no seu tempo você seria forçada a casar com um velho asqueroso.

Ela mordeu os lábios.

- Ok. Prefiro um mundo sem lampiões do que um marido horrível.

Sorri, satisfeito.

- Bem-vinda ao século XXI, Fanny.

Ela revirou os olhos.

- Espero que esse século não me mate.

Dei de ombros.

- Se sobreviver ao micro-ondas, acho que sobrevive a tudo.

Ela não riu.

Ainda achava que a comida ia explodir.

E eu sabia que essa jornada estava apenas começando.

razer Fanny para o século XXI era como apresentar um gato à água.

Cada novidade era um choque.

Cada coisa moderna, bruxaria.

E cada vez que eu tentava explicar...

Ela se assustava ainda mais.

                         

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