Cheguei ao nosso apartamento antes dele.
O lugar que eu tinha decorado com as minhas próprias mãos, com móveis baratos que encontrei em segunda mão, agora parecia oco e estranho.
Não chorei, apenas abri o roupeiro e comecei a meter as minhas roupas numa mala.
Cada peça de roupa era uma memória, um sacrifício. Aquele casaco, comprado em saldo para uma entrevista de emprego que recusei porque o Leo precisava de mim nesse dia. Aquele par de sapatos, que usei durante um ano inteiro porque todo o dinheiro extra ia para as contas da startup.
A porta abriu-se com um estrondo.
Leo entrou, a cara vermelha de raiva.
"Estás louca? Divórcio? Metade da empresa? Em que mundo vives?"
Continuei a dobrar uma camisola, sem olhar para ele. "No mundo onde eu sacrifiquei os últimos três anos da minha vida por este negócio, Leo."
Ele riu, um som amargo. "Sacrificaste? Eu é que trabalhei dia e noite!"
"E quem pagou as contas? Quem te trouxe comida quando te esquecias de comer? Quem fez toda a pesquisa de mercado que apresentaste aos investidores como se fosse tua?"
Ele ficou em silêncio por um momento, apanhado de surpresa.
Depois, a sua expressão suavizou-se, tornando-se manipuladora. Ele aproximou-se, tirou um cheque da carteira e estendeu-mo.
"Clara, não vamos brigar. Eu sei que estás magoada. Toma, isto é o dobro do dinheiro que meteste. Podes começar de novo, comprar um apartamento simpático."
Olhei para o cheque, para o número escrito com a sua caligrafia arrogante.
Senti uma náusea.
Ele achava que me podia comprar, que o meu suor e as minhas lágrimas tinham um preço.
Peguei no cheque, e na frente dele, rasguei-o em pedaços pequenos.
"Eu não quero o teu dinheiro. Eu quero justiça."
A cara dele endureceu de novo. "Justiça? Tu não tens nada, Clara. A empresa está no meu nome e no da minha mãe. Legalmente, tu és apenas uma credora, e eu acabei de te tentar pagar."
Ele deu um passo atrás, a sua voz baixou para um sussurro ameaçador.
"E a Sofia vai juntar-se à empresa na próxima semana, como Diretora de Operações. Ela tem a experiência que precisamos."
Então era esse o plano. Usar-me até ao fim e depois substituir-me pela versão melhorada, a que a mamã aprovava.
Fechei a mala. "Vamos ver o que um juiz diz sobre isso."
"Não sejas estúpida" , disse ele, a raiva a dar lugar ao pânico. "Vais perder. E vais ficar sem nada."
Passei por ele em direção à porta. "Eu já não tenho nada, Leo. Tu certificaste-te disso."