A primeira pessoa para quem liguei foi a Júlia, a minha melhor amiga desde a faculdade.
Encontrámo-nos no café habitual, o mesmo onde eu lhe contei que me ia casar com o Leo.
Quando lhe contei a história toda, desde a conversa na festa até ao cheque rasgado, ela ficou em silêncio, a mexer no seu café com uma fúria contida.
"Aquele filho da mãe" , disse ela finalmente. "E a mãe dele, aquela bruxa. Eu sempre te disse que eles não eram boa gente."
Eu sei que ela disse. Mas eu estava apaixonada, cega pela promessa de um futuro que construíamos juntos.
"O pior é que ele tem razão, Júlia. Eu não tenho provas. Assinei uns papéis no início, ele disse que era um 'acordo de empréstimo familiar' para formalizar o meu investimento. A mãe dele, que é advogada, redigiu tudo."
Júlia pousou a chávena com força. "Deixa-me ver esses papéis."
Enviei-lhe as fotos que tinha guardado no telemóvel. Ela leu tudo, a sua expressão a ficar cada vez mais sombria.
"Clara, isto é mau. Isto basicamente diz que tu emprestaste o dinheiro sem juros e sem qualquer participação na empresa. Tu assinaste que não tinhas qualquer direito sobre o negócio."
Senti o chão a fugir debaixo dos meus pés. "Então é isso? Acabou?"
"Não" , disse a Júlia, os seus olhos a brilhar com determinação. "Não podemos deixar aqueles abutres ganhar. Tem de haver alguma coisa, alguma prova do teu trabalho."
Fiquei a pensar, a vasculhar a minha memória, a tentar encontrar uma luz no meio daquele túnel escuro.
E então, lembrei-me.
"O caderno" , disse eu, a voz a tremer. "Eu tenho um caderno."
"Que caderno?"
"Um caderno preto, de capa dura. Nele, eu anotei tudo. As estratégias de marketing, as listas de clientes que contactei, as ideias para o software, até pedaços de código que o ajudei a depurar. Está tudo lá, com datas, com detalhes. É a minha prova."
O rosto da Júlia iluminou-se. "Onde está esse caderno?"
O meu coração afundou-se. "Ficou no apartamento. Na gaveta da minha mesa de cabeceira."