/0/15122/coverbig.jpg?v=53d38c67f3c29bb9132362cb220f6efa)
Por Lucas
O primeiro sinal de que algo estava errado veio com o silêncio.
Quando abri os olhos, a luz da manhã já invadia o quarto através das cortinas mal fechadas. Por um instante, meu corpo ainda carregava os ecos da noite anterior... o cheiro dela na minha pele... o gosto nos meus lábios.
Sorri, satisfeito, pronto para puxá-la de volta pra cama e continuar de onde paramos.
Mas ela não estava ali.
Olhei em volta. A cama bagunçada. A porta do banheiro entreaberta... vazia. Nenhum som de água, nenhum perfume dela no ar.
Levantei e caminhei até o closet improvisado. Nada.
Uma irritação surda começou a crescer no fundo do meu estômago. Não era o tipo de mulher que some sem avisar. Não depois daquela noite. Tinha certeza disso.
Passei as mãos pelos cabelos, tentando afastar o mau humor que já me consumia antes mesmo do café.
Foi quando meu olhar parou na mesa de cabeceira.
Meu relógio.
Ou melhor... a ausência dele.
Por um segundo, achei que fosse algum lapso de memória. Talvez eu tivesse deixado em outro lugar.
Revirei o quarto inteiro. Abri as gavetas, olhei debaixo da cama, no banheiro... até dentro da caixa de lenços.
Nada.
Meu sangue ferveu.
Soltei um palavrão baixo, cerrando os punhos.
Ela me roubou.
A senhorita mistério... com seus gemidos doces e corpo quente... me deu uma das melhores noites da minha vida... e depois saiu com o meu relógio como uma ladra barata.
Que porra é essa?
Peguei o celular e disquei, quase esmagando o aparelho de tanta raiva.
- Alô... - a voz de Victor, meu assessor, atendeu com o tom arrastado de quem ainda estava na cama.
- Você tem uma hora. - minha voz saiu seca, cortante.
- Uma hora pra quê, exatamente?
- Pra descobrir quem é a mulher que esteve comigo essa noite no Four Seasons. Nome, endereço, até o tipo sanguíneo se for preciso.
Houve um silêncio hesitante do outro lado.
- Lucas... são sete da manhã. Eu estou de folga... e, tecnicamente, você nem deveria estar me ligando por causa de uma transa mal resolvida.
- Não é só uma transa. - rosnei. - Ela me roubou, Victor.
A risada abafada do outro lado da linha quase me fez jogar o celular contra a parede.
- Você tá me dizendo que... depois de todos esses anos de mulheres caindo aos seus pés, foi ser roubado por uma delas?
- Não tenho tempo pra piadas. Quero o nome dela. Agora. - finalizei e desliguei.
Meu reflexo no espelho me encarava como se risse de mim.
"Parabéns, Lucas... dormiu com uma ladra. Uma experiência nova na sua lista."
Enquanto me vestia, o peso da raiva só aumentava. Não era só o maldito relógio. Era a sensação de ter sido feito de idiota.
Aquela mulher... com aqueles olhos inocentes... os lábios tremendo quando eu a beijava...
Tudo fingimento?
Eu tinha meus defeitos. Muitos, pra falar a verdade. Mas ser enganado dessa forma? Isso... eu não aceitava.
Meia hora depois, já estava de volta ao meu escritório. O café esfriando na minha mesa, e eu girando a caneta entre os dedos como se fosse um cigarro.
Quando Victor entrou, trazia nas mãos um envelope.
- Aqui está. - disse, largando o conteúdo sobre a minha mesa com um sorriso debochado. - Dê uma olhada.
Peguei a primeira folha. O nome saltou aos meus olhos.
Isabela Warren.
Demorei alguns segundos pra assimilar.
O sobrenome... a família...
Filha de um dos empresários mais influentes de Boston.
Arqueei uma sobrancelha, rindo com ironia.
- Claro... porque minha vida precisava de mais complicações.
Victor se acomodou na cadeira à minha frente, cruzando os braços.
- Eu ainda estou tentando entender por que diabos ela te roubou, Lucas. Isso não faz sentido.
- Não precisa fazer. - minha voz saiu mais baixa, carregada de algo que nem eu sabia definir. - Ela fez... e agora vai pagar por isso.
Victor soltou um suspiro, mas não tentou me impedir.
- Só... tenta não transformar isso em mais um jogo de guerra pessoal, ok?
Ignorei o aviso.
Minha mente já estava dois passos à frente.
Isabela Warren podia ter achado que sairia impune...
Mas o jogo mal tinha começado.
E ela...
Ela ainda nem fazia ideia com quem estava brincando.