Capítulo 5 Invasões Não Anunciadas

Por Isabela

Eu achei... de verdade... que, depois de devolver o relógio, ele simplesmente sumiria.

Que aquilo teria sido apenas um episódio vergonhoso, mais um erro que eu enterraria junto com todos os outros da minha lista de decisões estúpidas.

Mas não.

Lucas Ewerton parecia ter feito de mim um novo passatempo.

E, para o meu completo desespero, ele era ótimo nisso.

Na segunda-feira, ele apareceu no café onde eu trabalhava meio período.

Eu estava no balcão, tirando um pedido, quando senti o olhar dele queimando minhas costas.

Me virei devagar, e lá estava ele... sentado à mesa do canto, com um sorriso preguiçoso no rosto e um jornal nas mãos, como se fosse um cliente qualquer.

Usei toda minha força de vontade para ignorá-lo.

Mas ele voltou na terça.

Na quarta.

Na quinta.

Sempre o mesmo padrão: entrava, se sentava, pedia um café preto e ficava ali... me observando... me desafiando com aquele olhar intenso, como se soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim.

Emma, claro, achava tudo hilário.

- Se eu tivesse um homem daqueles me perseguindo... - ela disse na quinta à noite, enquanto se jogava no meu sofá com um pote de sorvete no colo - Eu agradeceria aos deuses por tanto azar com estilo.

- Não é engraçado, Emma. - retruquei, exausta, largando minha bolsa no chão. - Ele está me enlouquecendo. Cada vez que olho por cima do ombro... ele está lá. Em algum lugar. Me encarando.

- E você tem certeza de que não gosta nem um pouco? - Ela arqueou a sobrancelha com um sorrisinho malicioso.

Não respondi.

Nem eu tinha essa resposta.

**

Na sexta, o pior aconteceu.

Eu estava saindo de uma reunião com meu supervisor da faculdade quando meu celular apitou com uma mensagem.

Número desconhecido:

"Linda saia. Azul combina com você."

Travei no meio do estacionamento.

Olhei ao redor, o coração disparado. O medo e a excitação misturados de um jeito tão confuso que me deixava tonta.

"Respira, Isabela. Não faz o jogo dele."

Apaguei a mensagem, tentando ignorar.

Dez minutos depois, nova notificação.

"Ignorar mensagens não faz com que eu desapareça. Mas pode continuar... estou adorando o esforço."

Pronto. Meu autocontrole já estava indo para o ralo.

Liguei na mesma hora.

Ele atendeu no primeiro toque.

- Perdendo o sono por minha causa? - a voz dele veio baixa, com um sorriso audível.

- Lucas... que merda é essa? - disparei, tentando não gritar ali no meio da rua. - Como você conseguiu meu número?

- Não seja ingênua. - Ele soltou uma risada curta. - Eu consigo tudo o que quero. Você devia ter aprendido isso depois daquela noite, lembra?

- Eu quero que você pare com isso. Agora.

- Não. - A resposta foi tão simples, tão objetiva, que me deixou momentaneamente muda. - Eu ainda não me diverti o suficiente com você.

- Você é doente.

- Talvez. - O tom dele ficou mais baixo. Mais rouco. - Mas, se for... a culpa é toda sua.

E antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa... ele desligou.

**

No sábado de manhã, eu estava descendo as escadas do prédio quando dei de cara com ele.

Literalmente.

Quase trombei no peito dele, que, claro, estava coberto por uma camisa de linho clara, os dois primeiros botões abertos... como se ele tivesse saído direto de uma maldita propaganda de perfume masculino.

- Bom dia, vizinha. - Ele disse, com aquele sorriso torto.

Meu queixo caiu.

- O quê? Não... não. Me diz que você não fez isso.

- Fiz o quê? - Fingiu inocência, apontando para o envelope de correspondência na mão. - Aluguei o apartamento ao lado do seu.

Meu estômago virou.

- Isso é perseguição. Isso... isso é ilegal!

- Não se preocupe. - Ele riu baixo, inclinando-se perigosamente perto do meu ouvido. - Eu conferi todas as cláusulas do contrato de locação antes de assinar.

Senti o calor subir até as minhas orelhas.

Ele estava gostando da minha raiva. Bebendo cada segundo do meu desconforto como se fosse um drinque caro.

- Qual o seu problema, Lucas?

- Meu problema? - Ele se afastou um pouco, mas os olhos continuaram me devorando. - É simples... você.

Me virei para sair, mas ele foi mais rápido.

A mão dele segurou meu pulso, com firmeza, sem machucar... mas o suficiente pra me parar.

- Só pra constar... - Ele abaixou o olhar para minha boca, e senti um arrepio percorrer minha espinha. - Isso ainda não acabou.

Puxei o braço com força, me soltando, e praticamente corri até a calçada, o coração disparado, as mãos tremendo.

Mas, mesmo enquanto caminhava pela rua... com o vento frio de Boston batendo no meu rosto...

Eu ainda conseguia sentir o toque dele na minha pele.

**

Naquela noite, já deitada na cama, tentei me convencer de que ele ia se cansar logo.

Que homens como Lucas Ewerton só estavam interessados até o momento em que perdiam a diversão.

Que em breve ele desapareceria como sempre fazia com as outras mulheres.

Mas, quando meu celular vibrou com mais uma mensagem dele...

Sabia que eu estava errada.

Lucas:

"Não tente fugir de mim, Isabela. Você não faz ideia do quanto eu gosto de uma perseguição."

Engoli em seco, apagando a notificação.

Mas, mesmo assim...

Fiquei encarando o teto por horas.

Porque, no fundo... por mais que eu tentasse negar...

Uma parte de mim...

Já estava gostando demais desse jogo.

                         

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