Capítulo 4 Jogos Sem Regras

Por Isabela

Três dias.

Foram necessários apenas três dias para minha consciência começar a me torturar de verdade. Eu andava de um lado para o outro no meu quarto, mordendo a unha, com o relógio dele escondido no fundo da minha gaveta como se fosse uma bomba-relógio prestes a explodir.

E, no fundo, eu sabia...

Era só uma questão de tempo até que o universo resolvesse me cobrar.

Na manhã de hoje, a cobrança veio.

Emma entrou em casa sem bater, agitada como sempre, agitando o celular na mão.

- Você viu as notícias?

- Que notícias? - perguntei, sentindo o estômago revirar só pelo tom da voz dela.

- Lucas Ewerton está de volta a Boston. - Ela largou o celular no sofá, abrindo o site de fofocas mais famoso da cidade. - E parece que ele está bem mais... como posso dizer... disposto a aparecer por aí.

Meu sangue gelou.

Lucas.

O nome dele soava como uma lembrança recente demais... quente demais... perigosa demais.

Meus dedos tocaram a alça da gaveta involuntariamente, como se o relógio fosse uma extensão da minha culpa.

- Não tem por que isso me interessar. - menti, forçando um sorriso.

- Jura? Depois daquela sua noite misteriosa em que você se recusa a contar os detalhes? - Emma arqueou uma sobrancelha. - Sabe que eu não sou boba, né?

Antes que eu pudesse responder, o som da campainha cortou o ar.

- Quem é agora? - murmurei, caminhando até a porta.

Ao abri-la... o ar sumiu dos meus pulmões.

Lucas estava ali.

De terno escuro impecável, os cabelos penteados para trás de forma descuidada e sexy, como se tivesse saído de uma sessão de fotos minutos antes de vir me confrontar.

Mas o que realmente me paralisou foi o olhar dele.

Duro. Letal.

Como se pudesse me despir com um simples levantar de sobrancelha... ou me destruir com duas palavras.

Por um segundo, ninguém disse nada.

- Satisfeita com a lembrança que levou da minha casa, Srta. Warren? - Ele quebrou o silêncio, a voz baixa, aveludada... mas com um veneno sutil por trás de cada sílaba.

Meu coração disparou.

Emma arregalou os olhos atrás de mim.

- Eu... não sei do que você está falando. - tentei soar firme, mas a fraqueza na minha voz me traiu.

Ele soltou uma risada seca.

- Não sabe? - Avançou um passo, fazendo com que eu instintivamente recuasse para dentro de casa. - Vamos lá, Isabela... pensei que você fosse melhor mentirosa que isso.

- Acho melhor você ir embora. - Senti o orgulho inflando meu peito, tentando manter a pose.

Lucas fechou a porta atrás de si, ignorando completamente meu pedido.

- Nem pense nisso. - Ele caminhou até o centro da sala, como se já fosse dono do lugar. - Achei que poderia te dar alguns dias pra resolver isso sozinha. Mas, como a senhorita não parece ter pressa... vim buscar o que é meu.

Emma, coitada, já tinha desaparecido em direção ao corredor, provavelmente para me dar privacidade... ou porque sabia que a tempestade que se formava ali dentro estava prestes a explodir.

- Eu não sei do que você está falando, Lucas. - Repeti, com os braços cruzados, me sentindo ridícula até pra mim mesma.

Ele se virou devagar, com um sorriso torto e perigoso nos lábios.

- Última chance, Isabela. Me devolve o relógio... ou eu garanto que a vergonha de hoje vai ser só o começo.

- Você não pode me ameaçar assim. - minha voz falhou, mas me mantive firme.

Ele avançou até ficar a poucos centímetros de mim.

O perfume dele invadiu meu espaço. Amadeirado, quente... tão absurdamente masculino que minhas pernas vacilaram.

- Não posso? - Ele abaixou o rosto até a altura do meu, a respiração dele queimando contra a minha pele. - Quer apostar?

Antes que eu pudesse reagir, os dedos dele tocaram meu queixo, me forçando a olhar nos olhos dele.

Meu corpo inteiro respondeu de forma traiçoeira.

Um arrepio percorreu minha espinha... e o calor, aquele maldito calor, voltou como um soco no estômago.

Ele aproximou ainda mais o rosto, como se fosse me beijar.

Meu coração martelava no peito, e por um segundo... apenas um maldito segundo... eu quase cedi.

Mas quando senti a ponta do nariz dele roçando no meu, me afastei de súbito.

- Você não vai me intimidar. - consegui dizer, mesmo com a voz fraca.

- Engraçado... porque seu corpo está dizendo o contrário. - Ele deu um sorriso satisfeito, como se tivesse ganhado mais um round desse jogo sujo.

Dei um passo para trás, o olhar fixo nele.

- O que você quer de verdade, Lucas? Só o relógio? Ou... mais uma noite?

Ele deu uma risada baixa, escura.

- Se eu quisesse te levar pra cama de novo, Isabela... você já estaria nela.

As palavras me atingiram com a força de um tapa.

A raiva queimou no meu peito, mas junto dela... o desejo também.

- Você é um arrogante. - cuspi as palavras, caminhando até o corredor.

- E você... uma ladra impulsiva que não sabe brincar. - Ele respondeu, me seguindo com passos lentos, calculados. - Mas tudo bem. Vou te dar mais uma escolha.

Parei na frente da porta do meu quarto, o coração disparado.

- Que escolha? - perguntei, sem me virar.

- Ou me devolve o relógio agora... - Ele se aproximou, o calor do corpo dele colando atrás do meu, as mãos grandes deslizando pelas minhas costelas, fazendo minha respiração falhar... - Ou eu volto amanhã. Mas, da próxima vez, não garanto que vá me contentar só com ele.

Engoli em seco.

Meus pensamentos eram um caos. Parte de mim queria girar o corpo, empurrá-lo, mandá-lo embora... outra parte queria me virar... puxá-lo pela gravata... e beijá-lo até perder o ar.

Mas nenhuma das duas partes venceu.

Respirei fundo... caminhei até minha gaveta... e, sem olhar para ele, entreguei o maldito relógio.

- Aqui está. - murmurei.

Lucas pegou o objeto com calma, sem desviar o olhar de mim.

- Sábia decisão.

Antes de sair, ele inclinou o rosto mais uma vez até a curva do meu pescoço... inspirando meu perfume como se quisesse guardar aquele momento na memória.

- Até breve, Isabela. - sussurrou... e saiu.

Fiquei ali... com as pernas bambas... a respiração descompassada... e a certeza amarga de que...

A história entre nós dois estava longe de terminar.

            
            

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