O meu telemóvel quase me caiu das mãos trémulas. Do outro lado da linha, o som de sirenes e gritos abafava a voz do meu marido, Leo.
"Leo, por favor, o Miguel!" A minha voz falhou, embargada pelo pânico. "O apartamento dele é no quinto andar, o 5B. O dinheiro, Leo, o dinheiro para o tratamento dele está lá!"
"Sofia, acalma-te," a voz dele soou distante, irritada. "Há um incêndio em todo o prédio. A minha irmã também está aqui presa!"
"A Clara mora no segundo andar!" gritei, o desespero a tomar conta de mim. "O fogo está a subir, por favor, vai buscar o Miguel primeiro!"
"Estou a tratar disso. Tenho de desligar."
A chamada terminou.
Um silêncio ensurdecedor encheu o meu pequeno apartamento, a quilómetros de distância do caos. Fiquei a olhar para o ecrã escuro, o coração a bater descontroladamente no meu peito.
Não consegui ficar parada. Agarrei nas chaves do carro e corri para a rua, conduzindo de forma imprudente em direção ao inferno que tinha engolido o prédio do meu irmão.
Quando cheguei, a cena era de puro pânico. Fumo negro subia para o céu noturno. Polícias criavam um perímetro, mantendo os curiosos afastados.
Procurei desesperadamente por Leo no meio da multidão de bombeiros.
E então vi-o.
Ele estava a sair do cordão de isolamento, a cara manchada de fuligem. Nos seus braços, carregava a sua irmã, Clara.
Ela chorava, mas parecia ilesa. Agarrava-se a ele com uma mão e, na outra, segurava firmemente uma mala de marca.
Corri na direção deles, o meu alívio por vê-lo seguro foi imediatamente substituído por um medo gelado.
"Leo! E o Miguel? Onde está o meu irmão?"
Leo evitou o meu olhar. Pousou Clara cuidadosamente no chão, que foi imediatamente amparada pela nossa sogra, Helena, que tinha chegado não sei como.
"Sofia," ele disse, a voz rouca. "Eu... não consegui chegar a tempo."
O mundo à minha volta parou. O barulho das sirenes, os gritos, tudo desapareceu.
"O que queres dizer com 'não consegui chegar a tempo'?" perguntei, a minha voz um sussurro. "Tu foste buscá-la a ela primeiro, não foste?"
Ele olhou para a irmã, depois para a mãe, e finalmente para mim. A culpa no seu rosto era inegável.
"O andar dela era mais acessível. O fogo já tinha bloqueado as escadas para o quinto andar quando eu tentei subir."
Naquele momento, uma equipa de paramédicos passou por nós a correr com uma maca.
Deitado nela, coberto por uma máscara de oxigénio, estava o meu irmão, Miguel. Inconsciente.
O meu corpo moveu-se por instinto. Corri atrás da maca, o nome dele a sair dos meus lábios num grito mudo.