Eles Vão Pagar
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Capítulo 2

Acordei num quarto de hospital branco e estéril.

A primeira coisa que senti foi o vazio.

A minha mão foi instintivamente para a minha barriga. Estava lisa. Demasiado lisa.

Uma enfermeira entrou no quarto, o seu rosto era uma máscara de compaixão profissional.

"Eva, que bom que acordaste. O médico virá falar contigo em breve."

"O meu bebé", disse eu, a voz a falhar. "Onde está o meu bebé?"

A enfermeira evitou o meu olhar.

"O médico explicar-te-á tudo."

"E a minha mãe? Laura Silva. Ela estava comigo no carro."

"A tua mãe está na unidade de cuidados intensivos. A cirurgia correu bem, mas ela está em estado crítico. Está estável por agora."

As suas palavras eram factos, desprovidas de emoção, mas cada uma delas era um golpe.

O médico entrou. Era um homem mais velho, com olhos cansados. Ele sentou-se na beira da minha cama.

"Eva, lamento imenso."

Ele não precisou de dizer mais nada.

"Devido ao trauma do acidente, tiveste um descolamento da placenta. Fizemos tudo o que podíamos, mas não conseguimos salvar o bebé. Era um menino."

Eu não chorei. Apenas senti um buraco a abrir-se no meu peito, um vazio onde antes havia vida.

Ele era um menino.

Nós íamos chamar-lhe Tiago.

O médico continuou a falar, a explicar os procedimentos, os riscos, a minha própria recuperação. Eu ouvia o som, mas não as palavras.

O meu telemóvel estava numa mesa ao lado. Peguei nele. Nenhuma chamada perdida de Miguel. Nenhuma mensagem.

Tinha-se passado quase um dia inteiro.

Liguei-lhe. A chamada foi direta para o voicemail.

Ele tinha o telemóvel desligado ou tinha-me bloqueado.

Ri-me, um som seco e sem alegria que assustou a enfermeira.

O meu filho tinha morrido.

E o meu marido não queria saber.

            
            

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