Acordei num quarto de hospital branco e estéril.
A primeira coisa que senti foi o vazio.
A minha mão foi instintivamente para a minha barriga. Estava lisa. Demasiado lisa.
Uma enfermeira entrou no quarto, o seu rosto era uma máscara de compaixão profissional.
"Eva, que bom que acordaste. O médico virá falar contigo em breve."
"O meu bebé", disse eu, a voz a falhar. "Onde está o meu bebé?"
A enfermeira evitou o meu olhar.
"O médico explicar-te-á tudo."
"E a minha mãe? Laura Silva. Ela estava comigo no carro."
"A tua mãe está na unidade de cuidados intensivos. A cirurgia correu bem, mas ela está em estado crítico. Está estável por agora."
As suas palavras eram factos, desprovidas de emoção, mas cada uma delas era um golpe.
O médico entrou. Era um homem mais velho, com olhos cansados. Ele sentou-se na beira da minha cama.
"Eva, lamento imenso."
Ele não precisou de dizer mais nada.
"Devido ao trauma do acidente, tiveste um descolamento da placenta. Fizemos tudo o que podíamos, mas não conseguimos salvar o bebé. Era um menino."
Eu não chorei. Apenas senti um buraco a abrir-se no meu peito, um vazio onde antes havia vida.
Ele era um menino.
Nós íamos chamar-lhe Tiago.
O médico continuou a falar, a explicar os procedimentos, os riscos, a minha própria recuperação. Eu ouvia o som, mas não as palavras.
O meu telemóvel estava numa mesa ao lado. Peguei nele. Nenhuma chamada perdida de Miguel. Nenhuma mensagem.
Tinha-se passado quase um dia inteiro.
Liguei-lhe. A chamada foi direta para o voicemail.
Ele tinha o telemóvel desligado ou tinha-me bloqueado.
Ri-me, um som seco e sem alegria que assustou a enfermeira.
O meu filho tinha morrido.
E o meu marido não queria saber.