Eles Vão Pagar
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Capítulo 3

Ele apareceu no dia seguinte.

Não veio sozinho.

Miguel entrou no meu quarto, seguido de perto por Sofia, que mancava de forma exagerada, e pelo seu pai, o meu padrasto, Jorge.

O rosto de Miguel estava tenso. Ele tentou sorrir.

"Eva. Como te sentes?"

Não respondi. Apenas o encarei.

Sofia aproximou-se, os seus olhos a encherem-se de lágrimas de crocodilo.

"Eva, eu sinto tanto. Nós viemos assim que soubemos. O meu pai estava tão preocupado."

Ela enfatizou "o meu pai". Não "nós".

Jorge, um homem que sempre me olhou com desdém, cruzou os braços.

"Isto é uma situação terrível. A tua mãe está a lutar pela vida."

Ele não mencionou o meu filho. Ninguém mencionou o meu filho.

Miguel aproximou-se mais, tentando pegar na minha mão. Eu afastei-a.

"Eu sei que estás chateada", disse ele em voz baixa. "Mas a Sofia estava com muitas dores. Eu não podia simplesmente abandoná-la."

"Ela torceu o tornozelo, Miguel."

"Foi uma queda feia! Ela podia ter partido alguma coisa!"

Olhei para Sofia. Ela estava a usar um sapato normal no pé supostamente magoado. Não havia inchaço. Não havia ligadura.

"Miguel", disse eu, a minha voz calma e fria. "Vamos divorciar-nos."

O silêncio no quarto foi total.

Miguel olhou para mim, chocado.

"O quê? Não podes estar a falar a sério. Estás a passar por um trauma. Não estás a pensar com clareza."

"Eu nunca pensei com tanta clareza em toda a minha vida."

Jorge deu um passo em frente, a sua cara vermelha de raiva.

"Que ingratidão! Depois de tudo o que esta família fez por ti! O Miguel cometeu um erro, talvez. Mas falar em divórcio? Por causa disto? És igual à tua mãe, sempre a fazer dramas."

"A minha mãe está nos cuidados intensivos por causa de um acidente que o seu marido ignorou."

"Eu não ignorei!", gritou Miguel. "Eu disse-te para chamares uma ambulância! O que é que eu devia ter feito? Voar até lá?"

"Devias ter estado lá", disse eu simplesmente. "Devias ter escolhido a tua mulher e o teu filho por nascer em vez da tua meia-irmã e do seu tornozelo falso."

Sofia começou a chorar alto.

"Eu não fingi! Dói mesmo! Como podes ser tão cruel, Eva?"

Miguel foi imediatamente para o lado dela, a confortá-la.

"Vês o que fizeste? Ela já está a passar por tanto."

Olhei para aquela cena. O meu marido a consolar outra mulher enquanto eu estava numa cama de hospital, de luto pelo nosso filho morto.

Fechei os olhos.

"Saiam. Todos vocês. Saiam do meu quarto."

                         

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