No dia seguinte, a porta abriu-se novamente. Não era o Leo. Era a mãe dele, Isabel. A mãe da Clara.
Ela não trazia flores. Não trazia palavras de conforto. Trazia um ar de acusação.
"Sofia", disse ela, a sua voz fria e cortante. "Vim ver como estavas."
Soava a uma obrigação, não a uma preocupação genuína.
Ela sentou-se na mesma cadeira que o Leo tinha ocupado, a sua bolsa de marca pousada no colo.
"O Leo disse-me que estás a ter ideias ridículas sobre o divórcio. Espero que seja apenas o choque a falar."
Eu olhei para ela, sem emoção. "Não é o choque, Isabel. É a realidade."
Ela bufou, um som desdenhoso. "Realidade? Deixa-me falar-te sobre a realidade. A realidade é que a minha filha, a Clara, está traumatizada. Ela continua a culpar-se pelo que aconteceu. Ela mal comeu desde ontem."
"Isso é lamentável", disse eu, a minha voz monótona.
"Lamentável? É mais do que lamentável! E tu, em vez de mostrares alguma compaixão, estás a piorar as coisas com esta conversa de divórcio. Estás a ser incrivelmente egoísta."
Eu quase ri. Egoísta. Eu, que perdi o meu filho, era a egoísta.
"O Leo fez o que qualquer bom irmão faria", continuou ela, a sua voz a ganhar força. "A família vem em primeiro lugar. Talvez se fosses um pouco mais forte e não tão... emocional, não terias desmaiado. Talvez devesses ter saído do prédio mais cedo."
A acusação ficou no ar. A implicação de que a culpa era minha. Minha, por não ser forte o suficiente. Minha, por estar no meu próprio apartamento quando ele pegou fogo.
"Obrigada pela tua visita, Isabel", disse eu, virando a cabeça para a janela. "Acho que preciso de descansar agora."
Ela levantou-se abruptamente, ofendida por eu a ter dispensado.
"Muito bem. Mas pensa no que eu disse. Um casamento exige sacrifício. E neste momento, a Clara precisa do apoio de todos nós. Incluindo o teu."
Ela saiu, deixando para trás um rasto de perfume caro e veneno.
O sacrifício que ela exigia não era um sacrifício pelo meu casamento. Era um sacrifício de mim mesma, no altar da Clara. E eu já tinha sacrificado o suficiente. Tinha sacrificado o meu filho.
Não haveria mais sacrifícios.