Acordei com um som constante de um "bip".
O cheiro a antissético enchia as minhas narinas.
Abri os olhos lentamente, a luz branca do teto magoava-me a vista.
Estava num quarto de hospital.
A minha mãe, Clara, estava sentada numa cadeira ao lado da cama, o rosto dela estava inchado de tanto chorar.
"Mãe?" a minha voz saiu rouca, um sussurro.
Ela levantou a cabeça de um salto, os seus olhos vermelhos encontraram os meus.
"Eva! Oh, minha filha, graças a Deus."
Ela agarrou a minha mão, a pele dela estava fria.
Tentei sentar-me, uma dor aguda atravessou o meu abdómen. Olhei para baixo.
A minha barriga.
Estava vazia. Plana.
Onde estava o meu bebé?
"O bebé... Onde está o meu filho?" perguntei, o pânico a voltar com toda a força.
A minha mãe começou a chorar de novo, soluços que lhe abalavam o corpo todo.
"Eva, querida... Houve um acidente..."
Um médico entrou no quarto nesse momento, o seu rosto era sério.
"Senhora Eva, sou o Dr. Martins. Você foi trazida pelos bombeiros. Esteve submersa durante algum tempo, o seu coração parou."
Ele fez uma pausa, olhando para os seus papéis.
"Tivemos de fazer uma cesariana de emergência para tentar salvar o bebé. Ele era um menino forte."
Um menino. O meu menino.
"Mas," continuou o médico, a sua voz suave, "ele sofreu demasiado tempo sem oxigénio. Fizemos tudo o que podíamos. Lamento imenso."
As palavras dele pairaram no ar.
Lamento imenso.
O som do monitor cardíaco era a única coisa que eu ouvia. Bip. Bip. Bip.
O meu filho estava morto.
O meu corpo estava vazio. O meu mundo estava vazio.
Não chorei. Não gritei.
Senti apenas um vazio imenso, um buraco negro onde o meu coração deveria estar.
"E o Léo?" perguntei, a voz sem emoção. "Onde está o meu marido?"
A minha mãe limpou as lágrimas, o seu rosto endureceu.
"Ele não está aqui. Ninguém da família dele está aqui."