"Diogo, eu não disse isso", respondi, com a voz a tremer ligeiramente. "Eu só..."
"Não interessa o que disseste!", cortou ele. "O que interessa é o que fizeste. Pedir o divórcio nesta altura? É uma punhalada nas costas do meu filho! Ele está exausto, a ser aclamado como um herói, e tu fazes-lhe isto. Tens de pedir desculpa. Agora."
Senti uma vontade de rir. Pedir desculpa? Porquê?
Porque o meu pai estava em coma enquanto o filho dele salvava o gato da vizinha?
"Eu não vou pedir desculpa", disse eu, com uma firmeza que me surpreendeu. "O divórcio está assinado. É definitivo."
Houve um silêncio chocado do outro lado. Depois, a voz de Diogo tornou-se gélida.
"Tu vais arrepender-te disto, Sofia. Vais ver que não consegues viver sem o Pedro. Vais voltar a rastejar."
Ele desligou.
Olhei para o ecrã do telemóvel. Outro homem da família Patterson que me bloqueava.
Senti um vazio profundo. A família em que eu tinha entrado há cinco anos, a família que eu pensei que era minha, estava a desmoronar-se à minha frente. E eu estava sozinha no meio dos escombros.
Voltei para o hospital. O corredor cheirava a antisséptico e a tristeza.
A enfermeira na unidade de cuidados intensivos deu-me um olhar de pena.
"Alguma mudança?", perguntei, embora já soubesse a resposta.
"Lamento, Sofia. O estado dele continua crítico, mas estável. O Dr. Almeida quer falar consigo."
O Dr. Almeida era um homem de meia-idade com olhos cansados. Ele guiou-me até ao seu consultório.
"Sofia, a situação do seu pai é complicada", começou ele, com uma voz suave. "A inalação de fumo causou danos severos nos pulmões. E as queimaduras... são de terceiro grau. Mesmo que ele acorde do coma, a recuperação será longa e difícil. Muito difícil."
Eu assenti, incapaz de falar.
"E há a questão dos custos", continuou ele, hesitante. "O seguro dele não cobre a totalidade dos tratamentos especializados de que ele vai precisar. Estamos a falar de uma quantia muito elevada."
Ele mostrou-me uma estimativa. O número era astronómico. Era mais dinheiro do que eu alguma vez tinha visto na minha vida.
Senti o chão a fugir debaixo dos meus pés. O divórcio, a traição de Pedro, a hostilidade do meu sogro... tudo isso desapareceu perante a dura realidade.
O meu pai precisava de mim. E eu não tinha nada.
"Eu... eu vou arranjar o dinheiro", gaguejei, mais para me convencer a mim mesma do que a ele.
O médico deu-me um olhar compreensivo. "Faça o que puder, Sofia. Nós faremos o nosso melhor."
Saí do consultório a cambalear. Onde é que eu ia arranjar tanto dinheiro? A nossa conta conjunta estava, sem dúvida, sob o controlo de Pedro. As minhas poupanças pessoais eram uma gota no oceano.
Sentei-me num banco do corredor, com a cabeça entre as mãos. O desespero era uma onda a afogar-me.
Foi então que o meu telemóvel vibrou. Era um número desconhecido.
Atendi, com a voz rouca. "Estou?"
"É a Sofia Mendes?", perguntou uma voz de mulher, formal e profissional.
"Sim, sou eu."
"O meu nome é Clara Neves, sou advogada. Estou a ligar em nome do meu cliente, o Sr. Ricardo Aguilar."
Ricardo Aguilar. O nome soou-me familiar. Ele era um magnata do imobiliário, famoso e incrivelmente rico. O que é que ele poderia querer de mim?
"Não estou a perceber", disse eu.
"O Sr. Aguilar soube do incêndio e da situação do seu pai", explicou a advogada. "Ele gostaria de oferecer a sua ajuda."
Fiquei atónita. "Ajuda? Porquê?"
"Ele e o seu pai eram velhos amigos", disse Clara Neves. "Ele sente que lhe deve isso. Ele está disposto a cobrir todas as despesas médicas do seu pai."
Senti uma onda de alívio tão forte que quase chorei. "A sério? Oh, meu Deus, isso..."
"No entanto", interrompeu a advogada, "há uma condição."
Claro que havia. Nada na vida é de graça.
"Qual é a condição?", perguntei, com o coração apertado.
"O Sr. Aguilar quer que se case com ele."