"O Sr. Aguilar tem os seus motivos, que não me cabe a mim discutir. A proposta é esta. Ele precisa de uma esposa por razões pessoais e de negócios. Você precisa de ajuda financeira para o seu pai. Parece ser uma solução mutuamente benéfica."
Mutuamente benéfica. Ela falava como se estivéssemos a negociar a venda de um carro, não a minha vida.
"Eu... eu preciso de pensar", gaguejei.
"Claro. O Sr. Aguilar estará no Hotel Palácio amanhã ao meio-dia para a conhecer. Se decidir aceitar, a reunião servirá para finalizar os detalhes. Se não aparecer, consideraremos a oferta retirada."
Ela desligou.
Fiquei a olhar para o telemóvel, completamente atordoada. Casar com um estranho. Um bilionário que era amigo do meu pai. Um homem que eu nunca tinha visto.
A ideia era repugnante. Eu tinha acabado de me divorciar de um homem que amei durante anos. A última coisa que eu queria era atirar-me para os braços de outro.
Mas depois, a imagem do meu pai, deitado naquela cama de hospital, invadiu a minha mente. O som das máquinas que o mantinham vivo. As palavras do médico sobre os custos.
Que escolha é que eu tinha? Deixar o meu pai morrer por causa do meu orgulho?
Passei a noite em claro, a andar de um lado para o outro no quarto de espera vazio. De um lado da balança, estava a minha liberdade, a minha dignidade. Do outro, estava a vida do meu pai.
Não era uma escolha, na verdade.
No dia seguinte, às onze e meia, eu estava à porta do Hotel Palácio. As minhas mãos suavam e o meu coração batia como um tambor. Vesti o melhor vestido que tinha, um simples vestido preto, tentando parecer mais confiante do que me sentia.
O lobby era luxuoso, todo em mármore e ouro. Senti-me deslocada e pequena.
Uma mulher elegantemente vestida, que presumi ser Clara Neves, aproximou-se de mim.
"Sofia Mendes? Siga-me, por favor."
Ela guiou-me até um elevador privado que subiu até à suite da cobertura. A porta abriu-se para uma sala enorme com uma vista panorâmica sobre a cidade.
E lá estava ele.
Ricardo Aguilar estava de costas para mim, a olhar pela janela. Era alto e usava um fato caro que lhe assentava na perfeição. Quando se virou, fiquei sem ar.
Ele era mais novo do que eu esperava, talvez nos seus trinta e poucos anos. Tinha feições marcadas, olhos escuros e intensos e uma expressão séria que não revelava nada. Ele não era apenas bonito; ele irradiava poder e autoridade.
"Sente-se, por favor", disse ele, a sua voz profunda e calma.
Sentei-me na beira de um sofá de couro, sentindo-me como uma estudante na frente do diretor. Clara sentou-se ao seu lado, com uma pasta na mão.
"Então, decidiu?", perguntou Ricardo, indo direto ao assunto.
Engoli em seco. "Sim."
"Excelente." Ele não sorriu. A sua expressão não se alterou. "A Clara tem o contrato. Leia-o com atenção."
Clara entregou-me a pasta. Era um documento grosso, cheio de cláusulas legais. Comecei a folheá-lo, mas as palavras dançavam à minha frente.
"Os termos principais são simples", disse Ricardo, como se me lesse os pensamentos. "Casamos dentro de uma semana. Você muda-se para a minha casa. Terá de comparecer a eventos sociais comigo. Não haverá... intimidade física, a menos que seja mutuamente acordado. O contrato é estritamente profissional."
A menção à intimidade fez-me corar.
"No final de um ano, recebemos ambos a liberdade. E as dívidas do seu pai estarão pagas. Concorda com estes termos?"
Olhei para o seu rosto, à procura de qualquer sinal de emoção, mas não encontrei nada. Ele era uma fortaleza impenetrável.
"Sim", disse eu, com a voz fraca.
"Ótimo. Assine aqui."
Clara apontou para a última página. Peguei na caneta com os dedos a tremer e assinei o meu nome.
Vendi a minha liberdade por um ano.
"Uma última coisa", disse Ricardo, quando eu estava prestes a levantar-me. "O seu ex-marido. Pedro. Ele trabalha para uma das minhas subsidiárias."
O meu coração parou. "O quê?"
"A construtora onde ele é engenheiro. Eu sou o acionista maioritário. A partir de agora, eu sou o chefe dele."
Um sorriso frio, quase impercetível, tocou os seus lábios pela primeira vez.
"Isto vai ser interessante."