Ele Escolheu o Gato: O Escândalo do Herói
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Capítulo 2

Não sei quanto tempo passou. Perdi a noção de tudo, exceto do fumo cada vez mais espesso e do som da minha própria tosse.

Quando finalmente uns braços fortes me agarraram, não eram os do Leo. Eram dois bombeiros que eu nunca tinha visto na vida. Eles puseram-nos máscaras de oxigénio e guiaram-nos por uma escada de emergência.

No hospital, o cheiro a antissético substituiu o cheiro a queimado. Colocaram-me numa cama e ligaram-me a monitores. A minha mãe estava na cama ao lado, a receber tratamento por inalação de fumo.

Uma médica com uma expressão séria veio ver-me.

"Senhora Eva, o seu nível de oxigénio no sangue estava perigosamente baixo. O stresse e a inalação de fumo causaram contrações."

O meu coração afundou-se.

"O bebé... o bebé está bem?"

A médica hesitou. "Fizemos uma ecografia. O ritmo cardíaco do bebé está fraco. O sofrimento fetal é agudo. Temos de agir rapidamente."

Naquele momento, a porta do quarto abriu-se. Era o Leo, com a Sofia a reboque. Ela tinha os olhos vermelhos de chorar, mas fora isso, parecia perfeitamente bem. Nos seus braços, estava o gato, Mimo, a ronronar.

O Leo nem olhou para a minha mãe. Veio direto até mim.

"Eva, estás bem? Fiquei tão preocupado."

A sua hipocrisia era tão espessa que me dava náuseas.

"Preocupado?", a minha voz saiu rouca. "Foste salvar um gato, Leo."

"Não fales assim," disse ele, baixando a voz. "A Sofia estava a ter um ataque de pânico. Ela não tem ninguém. Eu era o único que a podia acalmar."

A Sofia começou a chorar de novo.

"Eva, desculpa. Eu não queria causar problemas. Fiquei com tanto medo pelo Mimo."

Olhei para ela, depois para o Leo. Ele estava a olhar para a Sofia com uma preocupação que nunca me tinha dirigido.

"O nosso filho pode não sobreviver, Leo."

As palavras saíram frias e sem vida.

A cara do Leo ficou pálida. "O quê? O que é que a médica disse?"

"Sofrimento fetal agudo," repeti, a voz a tremer. "Por causa do fumo e do stresse. Porque o pai dele decidiu que um gato era mais importante."

"Isso não é justo, Eva! Eu sou bombeiro, tenho de tomar decisões difíceis! Salvei dezenas de pessoas hoje!"

"Mas não a tua família."

A médica, que tinha assistido a tudo em silêncio, pigarreou.

"Senhor, a sua mulher precisa de calma. E nós precisamos de a levar para uma cirurgia de emergência."

O Leo olhou para mim, finalmente com um pingo de medo nos olhos.

"Eva, eu..."

"Quero o divórcio, Leo," interrompi-o. O quarto ficou em silêncio. "Quando isto tudo acabar, quero o divórcio."

            
            

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