Quando abri os olhos, o teto branco do hospital foi a primeira coisa que vi.
O cheiro de desinfetante era forte.
A minha cabeça doía, e o meu corpo parecia pesado, como se não fosse meu.
O meu marido, Leo, estava sentado ao meu lado, a segurar a minha mão com força.
A sua expressão era uma mistura de alívio e preocupação.
"Graças a Deus, acordaste, Ana. Fiquei tão preocupado."
Tentei falar, mas a minha garganta estava seca. Apenas um som rouco saiu.
Leo rapidamente me entregou um copo de água.
"Bebe devagar."
Depois de alguns goles, a minha voz voltou.
"O que aconteceu? Onde está o nosso filho, o Tiago?"
O rosto de Leo contraiu-se. Ele evitou o meu olhar.
"Ana, houve um acidente de carro. Tu estavas a ir buscar o Tiago à escola..."
Um flash de memória atingiu-me. O som de pneus a chiar, o barulho ensurdecedor do metal a torcer-se, e o grito do Tiago.
O meu coração parou.
"Onde está o Tiago? Leo, diz-me onde ele está!"
A minha voz tornou-se aguda, cheia de pânico.
Leo finalmente olhou para mim, com os olhos vermelhos e cheios de lágrimas.
"Ele... ele está na UTI. O estado dele é muito grave."
Senti o mundo a desmoronar-se. O meu filho. O meu pequeno Tiago.
"E a Sofia? A tua irmã? Ela estava no carro connosco. Ela está bem?"
Eu lembrava-me de ter oferecido uma boleia à minha cunhada, Sofia.
Leo hesitou por um momento antes de responder.
"A Sofia está bem. Só alguns arranhões. O meu pai já a levou para casa para descansar."
Senti um ligeiro alívio, mas a minha preocupação principal era o meu filho.
"Preciso de o ver, Leo. Leva-me até ele."
"Os médicos não permitem visitas agora, Ana. Precisas de descansar e recuperar."
As suas palavras eram razoáveis, mas o meu coração de mãe não conseguia aceitá-las.
Nesse momento, o telemóvel de Leo tocou. Era o pai dele, o meu sogro, o Sr. Alves.
Leo atendeu rapidamente.
"Pai? Como está a Sofia? Sim... sim, entendo. Não te preocupes, estou aqui com a Ana. Ela acabou de acordar."
Houve uma pausa. O rosto de Leo ficou tenso.
"O quê? Pai, isso não é justo. A Ana também é vítima. Ela precisa de mim aqui."
Ele parecia estar a discutir.
"Eu sei que a Sofia está assustada, mas o Tiago está na UTI! A Ana acabou de acordar de um coma!"
Ele desligou o telemóvel com frustração, a sua mão a tremer ligeiramente.
"O que foi, Leo?"
Ele respirou fundo, tentando controlar a sua raiva.
"O meu pai. Ele quer que eu vá para casa cuidar da Sofia. Ele diz que ela está traumatizada e precisa do irmão dela."
Fiquei sem palavras.
"E nós? E o nosso filho? Ele não se importa connosco?"
"Ele acha que o acidente foi culpa tua."
Aquelas palavras atingiram-me com força.
"Minha culpa? Eu estava a conduzir abaixo do limite de velocidade. Outro carro passou o sinal vermelho e bateu-nos."
"Eu sei, Ana. Eu acredito em ti. Mas o meu pai... ele sempre protegeu a Sofia."
O desespero começou a instalar-se. Eu estava sozinha no hospital, o meu filho a lutar pela vida, e a minha própria família por casamento estava a culpar-me.
Leo olhou para mim, com o rosto cheio de conflito.
"Eu preciso de ir, Ana. Mas eu volto logo. Eu prometo."
Ele beijou a minha testa e saiu do quarto, deixando-me sozinha com os meus pensamentos e o meu medo.