Semente de Amendoim, Colheita de Ódio
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Capítulo 2

Miguel olhou para mim, a sua expressão uma mistura de choque e raiva.

"Divórcio? Estás a falar a sério? O nosso filho acabou de morrer e estás a pensar em divórcio?"

A sua voz subiu de tom, ecoando na casa vazia que antes estava cheia do riso do Lucas.

"O nosso filho morreu por causa da tua negligência e da maldade da tua mãe."

Eu disse as palavras calmamente, cada uma delas um peso no meu coração.

"Não foi negligência! Foi um acidente!" ele gritou, o seu rosto vermelho de fúria.

"Tu sabes que ela nunca gostou de mim. Sabes que ela pensava que a alergia do Lucas era uma mentira. E mesmo assim, deixaste-a trazer um bolo para a festa dele sem verificar."

"Eu confiei na minha mãe! O que há de errado nisso?"

Ele deu um passo na minha direção, o seu corpo tenso.

"O que há de errado é que o nosso filho está morto, Miguel! Morto!"

A minha própria voz quebrou na última palavra. As lágrimas que eu tinha segurado finalmente começaram a cair.

"E tu defendes-a. Tu ficas do lado dela. Como se a vida do Lucas não significasse nada."

"Claro que significa!" ele retorquiu, a sua raiva a diminuir um pouco, substituída por uma ponta de desespero. "Ele era meu filho também, Sofia!"

"Então porque é que não estás de luto? Porque é que a única coisa que consegues fazer é defender a tua mãe?"

Ele passou as mãos pelo cabelo, um gesto de frustração que eu conhecia tão bem.

"Eu estou de luto, à minha maneira! O que queres que eu faça? Que me atire ao chão a chorar? Isso não o vai trazer de volta!"

"Eu quero que assumas a responsabilidade! Eu quero que olhes para mim e digas que erraste! Que devias ter protegido o nosso filho!"

Ele ficou em silêncio.

O silêncio foi a sua resposta.

Ele não conseguia. Ele não o faria.

A sua lealdade não era para comigo, nem para com a memória do nosso filho. Era para com a sua mãe.

"Arruma as tuas coisas," eu disse, a minha voz agora fria como gelo. "Eu quero que saias."

"Não podes expulsar-me da minha própria casa!"

"Esta casa foi comprada com o dinheiro da herança do meu pai. Está no meu nome. Podes sair, ou eu chamo a polícia."

Ele olhou para mim, os seus olhos cheios de um ódio que eu nunca tinha visto antes.

Ele não disse mais nada. Virou-se, subiu as escadas e, vinte minutos depois, desceu com uma mala.

Ele parou à porta.

"Vais arrepender-te disto, Sofia."

Depois, ele saiu.

Eu fiquei ali, no meio da sala de estar, rodeada pelas memórias do Lucas. Os seus brinquedos ainda estavam no chão. O seu desenho da nossa família ainda estava preso no frigorífico.

Pai, mãe e Lucas. Uma família feliz.

Uma mentira.

Sentei-me no chão e chorei. Chorei pelo meu filho. Chorei pelo meu casamento desfeito. Chorei pela vida que eu tinha perdido.

            
            

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