A minha sogra, a Dona Elvira, entrou no quarto.
Ela não olhou para mim. Foi direta à janela e abriu as cortinas.
A luz do sol magoou os meus olhos.
"O Diogo contou-me."
A sua voz era fria como gelo.
"É uma pena. Mas a vida continua."
Virei-me para ela, incrédula.
"Uma pena?"
"Sim. Mas não podes culpar o meu filho. Ele tem um bom coração. A Sofia estava em perigo, ele fez o que qualquer homem de bem faria."
Ela finalmente olhou para mim. Os seus olhos eram duros.
"Tu devias ter sido mais forte. As mulheres aguentam estas coisas. O teu trabalho era trazer o meu neto ao mundo em segurança."
Senti uma raiva a subir pela minha garganta.
"O meu trabalho? Eu estava sozinha, a gritar por ele, enquanto ele estava com outra mulher!"
"Não fales assim da Sofia!"
A sua voz subiu de tom.
"Ela é uma boa rapariga, passou por muito. Perder os pais tão cedo... O Diogo sempre a protegeu. É o instinto dele."
"Instinto? E o instinto de pai? Onde estava?"
Ela aproximou-se da cama.
"Ouve-me bem. Vais superar isto. Vais para casa e vais ser uma boa esposa para o Diogo. Ele está a sofrer tanto como tu."
Eu ri. Uma risada seca, sem alegria.
"Sofrer? Ele nem sequer viu o rosto do filho. Ele escolheu."
"Ele não escolheu! A vida aconteceu!"
Ela gritou, o seu rosto vermelho de fúria.
"Tu és a mulher dele. O teu dever é apoiá-lo, não acusá-lo. Se continuares com esta atitude, vais perdê-lo."
"Talvez seja isso que eu quero."
As palavras saíram antes que eu pudesse pensar.
A Dona Elvira ficou sem palavras por um momento. Depois, o seu rosto contorceu-se numa expressão de desprezo.
"Ingrata. Depois de tudo o que o meu filho fez por ti."
Ela virou-se e saiu do quarto, a bater a porta com força.
Fiquei a olhar para a porta fechada.
Ingrata.
A palavra ecoava na minha cabeça.
Fechei os olhos. Só queria que tudo desaparecesse.