Passei a noite no sofá. Não consegui dormir na nossa cama.
A cama parecia demasiado grande, demasiado vazia.
De manhã, o meu corpo doía. O braço engessado latejava.
Levantei-me e fui à cozinha fazer café.
A porta da frente abriu-se de repente.
Era o Leo.
Ele parecia cansado. Tinha olheiras debaixo dos olhos.
"Ana? Porque é que não atendes o telemóvel? A minha mãe está muito preocupada."
Ele entrou e fechou a porta.
"Eu bloqueei os vossos números."
Ele olhou para mim, a sua expressão misturava raiva e incredulidade.
"Bloqueaste? Porquê? Estamos a tentar resolver as coisas, e tu estás a agir como uma criança."
"Resolver as coisas? Não há nada para resolver, Leo. Eu disse-te que acabou."
Ele aproximou-se, a sua voz baixou para um tom mais suave, quase manipulador.
"Amor, eu sei que estás magoada. Eu cometi um erro. Estava em pânico. Perdoa-me."
Ele tentou tocar no meu braço bom, mas eu recuei.
"Não me toques."
A sua expressão endureceu novamente.
"Estás a levar isto longe demais. Foi um acidente! O meu pai podia ter morrido!"
"E eu também!"
A minha voz subiu, finalmente a deixar a raiva sair.
"Eu também podia ter morrido naquele carro, e tu deixaste-me lá!"
"Eu não te deixei! Eu fui buscar ajuda!"
"Não, tu foste ajudar o teu pai. E depois chamaste uma ambulância. Disseste-lhes que havia duas pessoas feridas. Mas quem é que tiraste do carro primeiro? Quem é que acompanhaste na ambulância? Não fui eu."
Ele ficou sem palavras. Porque era a verdade.
"O meu pai é mais velho, Ana. Ele precisava mais de mim."
"Ele tinha uma fratura na perna. Eu tinha um braço partido e estava a sangrar da cabeça. Quem é que precisava mais de ajuda, Leo?"
Ele passou as mãos pelo cabelo, frustrado.
"Não sei! Eu não sou médico! Fiz o que achei que era certo no momento!"
"E eu estou a fazer o que acho que é certo agora. Quero que saias do meu apartamento."
Os olhos dele arregalaram-se.
"Teu apartamento? Este é o nosso apartamento! Vivemos aqui juntos há dois anos!"
"O contrato de arrendamento está no meu nome. As contas estão no meu nome. Tu apenas contribuis com uma parte. Pega nas tuas coisas e vai-te embora."
Ele riu, um riso amargo e sem humor.
"Não acredito nisto. Estás a expulsar-me por causa de um erro? Depois de tudo o que passámos?"
"Isto não foi um erro, Leo. Foi uma escolha. E mostrou-me exatamente onde eu me encaixo na tua vida. E não é um lugar onde eu queira estar."
Apontei para a porta.
"Sai."