Ele não saiu. Em vez disso, sentou-se no sofá, como se fosse o dono do lugar.
"Não vou a lado nenhum até falarmos como adultos."
"Não há nada para falar. Pega nas tuas coisas."
Fui até ao quarto e peguei num saco de lixo grande.
Comecei a tirar as roupas dele do armário e a metê-las no saco. T-shirts, calças de ganga, as camisas que eu lhe passei a ferro.
Ele seguiu-me, observando-me com uma expressão sombria.
"O que é que estás a fazer? Para com isso!"
Ele agarrou o saco, tentando tirá-lo da minha mão.
"Larga-me!"
Puxei com força. O meu braço engessado bateu contra o armário.
Uma dor aguda atravessou-me o braço. Gritei.
Ele largou o saco imediatamente, o seu rosto pálido de preocupação.
"Ana, desculpa. Magoei-te?"
Afastei-me dele, segurando o meu braço dorido.
"Sai daqui. Agora."
A minha voz era um sussurro gelado.
Desta vez, ele pareceu perceber que eu não estava a brincar.
O seu rosto mudou de raiva para uma espécie de desespero.
"Ana, por favor. Não faças isto. Eu amo-te."
"O amor não é suficiente, Leo. Não quando não há respeito. Não quando não há cuidado."
Continuei a encher o saco com as coisas dele. A sua escova de dentes, o seu perfume, o livro que ele estava a ler na mesa de cabeceira.
Ele ficou a ver, impotente.
Quando terminei, arrastei o saco pesado para a sala e deixei-o perto da porta.
"Está tudo aí. Agora, por favor, vai-te embora."
Ele olhou para o saco, depois para mim. Havia lágrimas nos seus olhos.
"Vais mesmo deitar fora três anos da nossa vida por causa disto?"
"Eu não estou a deitar nada fora. Estou a salvar o que resta de mim mesma."
Ele abanou a cabeça, derrotado.
Pegou no saco de lixo e abriu a porta.
Antes de sair, ele virou-se uma última vez.
"Vais arrepender-te disto, Ana."
"A única coisa de que me arrependo é de não o ter feito mais cedo."
Ele fechou a porta com força.
O som ecoou no apartamento vazio.
Fiquei ali, no meio da sala, a tremer.
Mas não era de medo.
Era de libertação.