A Mãe Que Recusou Ser Apagada
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Capítulo 3

Passei as duas semanas seguintes num nevoeiro.

A casa estava silenciosa. O tempo passava sem que eu desse por isso.

A Clara vinha todos os dias. Trazia-me comida que eu mal tocava. Sentava-se comigo em silêncio, a sua presença um conforto mudo.

"Tens de comer, Sofia."

"Não tenho fome."

"Tens de sair de casa. Apanhar um pouco de ar."

"Não quero."

Ela não insistia. Apenas ficava.

Léo não ligou. Não mandou uma única mensagem. Era como se eu tivesse deixado de existir.

Um dia, a campainha tocou.

Pensei que fosse a Clara, mas quando abri a porta, era a Helena.

Ela estava vestida de preto, o seu rosto pálido e severo.

Ela não pediu para entrar. Apenas me entregou um envelope grande.

"Isto é para ti."

A sua voz era fria como gelo.

Peguei no envelope. As minhas mãos tremiam.

"O Léo quer o divórcio," disse ela, sem rodeios. "Ele já assinou. Só falta a tua assinatura."

Divórcio. A palavra soou distante, irreal.

"Ele não teve a coragem de me dizer na cara?", perguntei, o choque a dar lugar a uma raiva fria.

Helena deu um sorriso desdenhoso.

"Ele não te deve nada. Tu tiraste-lhe o filho. O mínimo que podes fazer é dar-lhe a liberdade."

"Eu não lhe tirei nada! Foi um acidente!"

"Um acidente que tu causaste! Se fosses uma condutora melhor, o meu neto ainda estaria vivo! Eras sempre tão descuidada, tão irresponsável!"

Cada palavra era uma acusação.

"O Léo percebeu finalmente que casar contigo foi o maior erro da vida dele. Ele está a recomeçar. E tu não fazes parte dos planos."

Ela olhou-me de cima a baixo com desprezo.

"Assina os papéis, Sofia. E desaparece das nossas vidas."

Ela virou-se e foi-se embora, deixando-me na porta com os papéis do divórcio na mão.

Fechei a porta e encostei-me a ela, o corpo a tremer.

Abri o envelope. Lá estavam eles. Os documentos legais que poriam um fim ao meu casamento.

O nome de Léo estava assinado no fundo, uma assinatura firme e decidida.

Ele queria apagar-me. Apagar-nos.

E a sua mãe era a sua mensageira.

Fui para a cozinha e peguei numa caneta.

Olhei para a linha em branco ao lado do nome dele.

Não hesitei.

Assinei.

            
            

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