A Mãe Que Recusou Ser Apagada
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Capítulo 4

Levei os papéis assinados ao escritório do advogado no dia seguinte.

O advogado, um homem de meia-idade com um ar cansado, olhou para os papéis e depois para mim.

"Tem a certeza disto, Sra. Costa? O divórcio é consensual. Não há partilha de bens. A senhora está a abdicar de tudo."

Olhei para ele.

"A única coisa que eu queria daquele casamento está morta. O resto não me interessa."

Ele acenou lentamente, carimbou os papéis e disse-me que o processo estaria concluído em poucas semanas.

Saí do escritório e senti... nada.

Não havia tristeza, não havia alívio. Apenas um vazio.

Decidi que não podia mais ficar naquela casa. Cada canto era uma memória, cada silêncio um grito.

Liguei à Clara.

"Podes ajudar-me a fazer as malas?"

"Vais para onde?"

"Não sei. Para qualquer lado. Mas não posso ficar aqui."

Naquela tarde, embalámos a minha vida em caixas. As minhas roupas, os meus livros. Deixei para trás tudo o que era "nosso".

Quando entrámos no quarto do Alex, parei.

"O que queres fazer com isto?", perguntou a Clara, gentilmente.

Eu olhei para o berço, para a cadeira de baloiçar.

"Deixa ficar. É a única coisa que ele tem agora."

Era a minha forma de protestar. Léo e a Helena queriam apagar o Alex. Eu não ia deixar.

Mudei-me para o pequeno apartamento de hóspedes da Clara.

Era pequeno, mas era seguro.

Comecei a procurar trabalho. Precisava de algo para ocupar a minha mente, para pagar as minhas contas.

Eu era designer gráfica antes de o Alex nascer. Tinha deixado o trabalho para ser mãe a tempo inteiro.

Atualizei o meu portfólio e comecei a enviar currículos.

A maioria não teve resposta. Os que responderam, disseram que eu estava fora do mercado há muito tempo.

O desespero começou a instalar-se.

Uma noite, estava a navegar sem rumo na internet quando vi um anúncio.

Uma pequena empresa de design em Lisboa procurava um freelancer para um projeto urgente.

Lisboa. Longe daqui. Longe das memórias.

Era um novo começo.

Enviei o meu portfólio sem grande esperança.

Para minha surpresa, recebi um email na manhã seguinte.

"Gostámos muito do seu trabalho. Pode vir para uma entrevista amanhã?"

O meu coração deu um salto. Uma pequena faísca de esperança.

"Sim," respondi. "Posso."

                         

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