A Casa dos Segredos: E a Destruição Que Dela Veio
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Capítulo 4

Recebi alta dois dias depois do funeral.

Pedro não me foi buscar. Mandou um táxi.

Quando cheguei a casa, a realidade atingiu-me com a força de um soco.

A porta do quarto de bebé, que eu tinha pintado de amarelo pálido, estava fechada.

Sofia estava no sofá da sala, a perna engessada apoiada em almofadas.

Ela sorriu-me, um sorriso fraco e vitorioso.

"Ana, que bom que voltaste. Senti a tua falta."

A minha madrasta, Clara, saiu da cozinha, a limpar as mãos a um avental.

O meu avental.

"Ah, aqui estás tu. Estávamos a precisar de ajuda. A Sofia precisa de tomar os seus medicamentos."

Ela falava como se eu fosse uma empregada contratada.

Pedro desceu as escadas.

"Finalmente. Pensei que te tinhas perdido. Ajuda a tua mãe com o jantar. Eu vou dar um banho à Sofia."

Dar um banho à Sofia.

As palavras soaram obscenas na minha cabeça.

Eu ignorei-os a todos e caminhei em direção ao quarto de bebé.

A minha mão tremia na maçaneta.

Pedro gritou do fundo do corredor.

"Não entres aí! Eu disse para não entrares!"

Eu abri a porta.

O quarto estava vazio.

O berço, o armário, a cadeira de baloiçar, tudo tinha desaparecido.

As paredes amarelas estavam nuas.

O único vestígio de que ali existiu um sonho era um pequeno sapatinho de lã que tinha caído para trás de onde estava o berço.

Eu peguei nele. Era tão pequeno.

Virei-me e vi Pedro parado na porta, a sua cara era uma tempestade.

"Onde está tudo?"

"Eu vendi. Precisávamos do dinheiro para pagar as despesas médicas da Sofia e o arranjo do carro."

Ele disse aquilo sem um pingo de remorso.

"Tu vendeste as coisas do nosso filho?"

"Ele não precisa delas, pois não? Temos de ser práticos, Ana. A vida continua."

"Para ti, talvez."

Eu apertei o pequeno sapato na minha mão.

"Isto não é vida, Pedro. Isto é um inferno. E eu vou sair dele."

Fui para o nosso quarto e comecei a fazer uma mala.

Roupas. Artigos de higiene. O meu passaporte.

Clara apareceu na porta.

"O que pensas que estás a fazer?"

"Estou a ir embora."

"Não sejas ridícula. O Pedro não te vai deixar ir. E para onde irias? Não tens ninguém."

Ela tinha razão. O meu pai morrera há anos, e a minha mãe... bem, a minha mãe era a Clara.

Mas eu preferia estar na rua a ficar ali mais um minuto.

Pedro entrou no quarto, arrancando a mala da minha mão.

"Eu disse que ias esperar. Não me vais desobedecer."

Ele agarrou-me pelo braço, a sua força assustou-me.

"A Sofia precisa de nós. Vais ficar aqui e fazer o teu papel."

"O meu papel? Qual é o meu papel? Ser a vossa criada?"

Sofia chamou da sala, a sua voz manhosa e fraca.

"Pedro? Está tudo bem? Estou com sede."

Pedro largou-me o braço imediatamente.

"Vês? Ela precisa de mim."

Ele olhou para mim uma última vez, os seus olhos frios como gelo.

"Não tentes mais nenhuma estupidez, Ana. Tu não vais a lado nenhum."

                         

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