Quando a Dor Vira Arma
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Capítulo 4

Vesti-me para a guerra, não para o jantar.

Um vestido preto simples. Cabelo apanhado. Maquilhagem mínima.

Queria que eles vissem o meu rosto. Queria que vissem a ausência de lágrimas.

Quando a minha mãe me viu, ela preocupou-se.

"Tens a certeza disto, filha? Não tens de ir."

"Tenho, mãe. Tenho de os enfrentar."

A casa dos Patterson era grande e imponente, num bairro rico. Cheirava a dinheiro antigo e a hipocrisia.

Ricardo abriu a porta, um sorriso forçado no rosto.

"Sofia, querida. Entra."

Pedro e Clara estavam na sala de estar. Pedro olhou para mim com uma mistura de raiva e cautela. Clara evitou o meu olhar, focando-se em afagar o seu cão, Trovão, que estava deitado aos seus pés.

A mãe deles, Laura, uma mulher com um ar permanentemente descontente, cumprimentou-me com um aceno de cabeça frio.

"Senta-te, Sofia. O jantar está quase pronto."

Sentei-me no sofá oposto a eles. O silêncio era pesado.

Ricardo quebrou-o.

"Olha, Sofia, o que aconteceu foi uma tragédia. Uma terrível tragédia. Estamos todos de coração partido."

Ele olhou para Pedro.

"Mas culpar o Pedro não vai trazer o bebé de volta. Ele fez o que qualquer irmão faria. A Clara estava em pânico."

"Um ataque de pânico," corrigi eu, a minha voz cortante como vidro. "Em casa, segura. Enquanto eu estava esmagada debaixo de metal, a dar à luz o vosso neto."

Clara estremeceu. Pedro cerrou os punhos.

"Não fales assim com a minha irmã!" rosnou ele.

"Porque não? É a verdade. Ou a verdade incomoda-vos?"

Laura interveio, a sua voz gélida.

"Tu sempre foste dramática, Sofia. A fazer uma tempestade num copo de água. O Pedro tem responsabilidades para com a sua família de sangue."

Família de sangue.

Então era isso. Eu era apenas uma peça externa. Descartável.

Sorri. Um sorriso lento, deliberado.

"Têm razão. A família é muito importante. É por isso que decidi honrar a memória do meu filho."

Tirei uma pequena pen USB do meu bolso e coloquei-a na mesa de centro.

"O que é isso?" perguntou Ricardo, desconfiado.

"É uma gravação. De uma chamada telefónica. Um amigo do Pedro, o João, foi muito simpático. Contou-me como o Pedro estava 'aliviado' por se ter 'livrado de um problema'."

O rosto de Pedro ficou branco.

"Ele também mencionou que agora, nada impediria o Pedro e a Clara de ficarem juntos."

Clara levantou a cabeça de repente, o pânico nos seus olhos.

"Isso é mentira! Ele está a mentir!"

"Estou?" perguntei, olhando diretamente para Pedro. "Então porque é que a tua irmã está a usar o colar que me deste no nosso aniversário de casamento?"

O silêncio na sala era agora absoluto. Laura olhou para o pescoço de Clara, onde o pequeno sol de prata brilhava. Os olhos dela arregalaram-se.

Ricardo olhou de Pedro para Clara, a compreensão a surgir lentamente no seu rosto.

"Pedro... o que é que isto significa?" a voz dele era um sussurro perigoso.

Pedro gaguejou, incapaz de formar uma frase.

Levantei-me. O meu trabalho ali estava feito.

"Eu não vim aqui para jantar. Vim para vos dar um vislumbre do inferno que vos espera."

Virei-me para a porta.

"O divórcio vai ser o menor dos vossos problemas. Eu vou expor cada mentira, cada segredo nojento. Quando eu terminar, o nome Patterson será sinónimo de vergonha."

Abri a porta e saí para a noite fria, deixando o caos para trás.

O primeiro tiro tinha sido disparado. E tinha atingido o alvo.

                         

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