O médico entregou-me o relatório do teste de paternidade.
"Senhora, o resultado saiu. O feto não é do seu marido."
As suas palavras foram calmas, mas atingiram-me com força.
Agarrei o papel com os dedos a tremer, os meus olhos fixos na linha final: "Probabilidade de paternidade: 0%".
O meu marido, Pedro, estava mesmo ao meu lado, o seu rosto escureceu instantaneamente.
"O que é que isto significa?"
A sua voz era baixa e perigosa.
Eu olhei para ele, confusa e assustada.
"Não sei... Pedro, eu nunca te traí."
Ele arrancou o relatório da minha mão, o papel a amassar-se com a sua força.
"Não me traíste? Então como explicas isto? Dizes-me que este bebé apareceu do nada?"
"Eu não sei!" A minha voz tremeu. "Isto é impossível. Tem de haver um erro."
O médico interveio, o seu tom profissional e frio. "Os nossos testes são extremamente precisos, senhora. A margem de erro é quase nula."
Pedro riu-se, um som amargo e cheio de desprezo.
"Precisos. Claro. Então a única coisa imprecisa aqui és tu, Sofia."
Ele virou-se para sair, mas parou à porta.
"Vamos para casa. Temos de 'falar'."
A palavra "falar" soou como uma ameaça.
Segui-o para fora do hospital, o sol da tarde a parecer demasiado brilhante. O ar estava pesado e o silêncio no carro era sufocante.
Em casa, a mãe dele, a minha sogra, Laura, estava à nossa espera na sala de estar. Ela viu a expressão de Pedro e soube imediatamente que algo estava errado.
"O que aconteceu? O bebé está bem?"
Pedro atirou o relatório amachucado para a mesa de centro.
"Pergunta à tua nora maravilhosa. Pergunta-lhe de quem é o bastardo que ela carrega."
Laura apanhou o papel, os seus olhos percorreram-no rapidamente. O seu rosto contorceu-se numa máscara de nojo.
"Sofia! Como te atreves? Como te atreves a trazer esta vergonha para a nossa família?"
Eu recuei, sentindo-me encurralada.
"Eu não o fiz! Eu juro, eu nunca faria uma coisa dessas. Pedro, tens de acreditar em mim."
Pedro aproximou-se, o seu rosto a centímetros do meu.
"Acreditar em ti? Eu dei-te tudo, Sofia. Uma casa, uma vida. E é assim que me retribuis? Engravidando de outro homem?"
"Não é de outro homem! Eu não sei como isto aconteceu!"
Laura interveio, a sua voz aguda e cortante.
"Claro que não sabes! As mulheres como tu nunca sabem. Pensaste que podias enganar o meu filho? Fazer-nos criar o filho de outra pessoa?"
Ela agarrou-me no braço, as suas unhas a cravarem-se na minha pele.
"Vais abortar este bebé. Agora."
O meu sangue gelou.
"Não. Eu não vou fazer isso."
Pedro agarrou-me no outro braço, a sua força a fazer-me estremecer.
"Não tens escolha. Não vou ter um bastardo a levar o meu nome. Ou abortas, ou divorciamo-nos e ficas sem nada."
O meu coração partiu-se. Não pela ameaça de divórcio, mas pela crueldade nas suas palavras. O bebé que eu amava, o nosso bebé, ele chamou-lhe bastardo.
"Pedro, por favor..."
"Não há 'por favor', Sofia. A decisão é tua. O bebé ou eu."
Ele soltou-me com um empurrão.
Fiquei ali, entre os dois, o relatório na mesa a ser a prova da minha suposta traição.
Uma traição que eu não cometi.
Mas como podia eu provar isso?