Eles deram-me um ultimato. Vinte e quatro horas para "decidir".
Decidir se matava o meu filho.
Passei a noite no quarto de hóspedes, a porta trancada por fora. Sentei-me no chão frio, a mão a proteger a minha barriga.
O meu telemóvel tinha sido tirado. Estava completamente isolada.
O meu bebé. Como podia ser isto possível?
Eu e o Pedro tentámos durante dois anos. Cada teste de gravidez negativo era uma pequena dor. Quando finalmente vi as duas linhas, chorámos de alegria. Ele beijou a minha barriga e prometeu ser o melhor pai do mundo.
Onde estava esse homem agora?
A luz da manhã entrou pela janela. A porta destrancou-se.
Laura entrou, o seu rosto duro.
"Já pensaste?"
Eu olhei para ela, os meus olhos secos de tanto chorar.
"Não há nada em que pensar. Eu não vou abortar."
Ela suspirou, um som de irritação.
"És teimosa. Como a tua mãe. Bem, se é assim que queres, o Pedro já tratou dos papéis do divórcio. Vais assinar e sair desta casa hoje."
Ela atirou uma pasta para a cama.
"Não vais levar nada. Nem um cêntimo. É o preço da tua infidelidade."
Eu não me mexi.
"Eu não fui infiel."
"Guarda as tuas mentiras para outra pessoa."
Ela saiu, deixando a porta aberta.
Levantei-me, as minhas pernas dormentes. Fui até à sala de estar. O Pedro estava sentado no sofá, a olhar para o telemóvel, a ignorar-me completamente.
"Pedro."
Ele não levantou a cabeça.
"Assina os papéis, Sofia."
"Olha para mim."
Ele finalmente olhou, os seus olhos frios e distantes.
"O que queres?"
"Quero que penses. Pensa em nós. Em tudo o que passámos. Acreditas mesmo nisto?"
"Eu acredito no que os meus olhos veem. Um relatório de ADN. É mais credível do que tu."
O seu telemóvel tocou. Ele atendeu, o seu tom a mudar instantaneamente.
"Olá, Clara. Sim... Não, não estou ocupado. O que se passa?"
Clara. A sua colega de trabalho. A mulher que estava sempre a precisar da sua ajuda.
Ele ouviu por um momento, o seu rosto a suavizar-se com preocupação.
"O teu carro avariou outra vez? No meio da autoestrada? Não te preocupes, eu vou aí. Fica no carro. Chego aí em vinte minutos."
Ele desligou e levantou-se, a pegar nas chaves do carro.
Ele passou por mim como se eu não existisse.
"Pedro, vais-me deixar aqui para ajudar a Clara?"
Ele parou à porta.
"A Clara precisa de mim. Tu... tu criaste a tua própria confusão. Resolve-a."
E ele saiu.
Fiquei a olhar para a porta fechada, um vazio a instalar-se no meu peito. Ele escolheu-a. Ele escolheu acreditar num pedaço de papel em vez de mim. E escolheu ajudar outra mulher enquanto a sua própria esposa e o seu suposto filho enfrentavam a destruição.
Laura voltou, um sorriso satisfeito no rosto.
"Vês? Ele já seguiu em frente. Agora, assina os papéis. Ou queres que eu chame a segurança para te expulsar?"